“Mas para o meu desencanto o que era doce acabou.
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou”
Chico Buarque
O homem, por sua natureza, é um ser que busca a paz. Ele faz de tudo para viver essa realidade: trabalha, estuda, relaciona-se, luta, sacrifica-se e, mesmo sem querer, até erra para construir essa paz. Todo indivíduo, direta ou indiretamente, sempre está nessa fuga da insegurança e na paralela procura pela paz.
O mundo de mercado compreende bem essa necessidade humana. Ele, com as suas diversas estratégias, produtos e serviços, está constantemente lançando para as pessoas bens que prometem a paz.
Entretanto, como bens materiais, as imagens, pessoas e práticas que nos são apresentadas sempre se corrompem, desfiguram ou decepcionam. Mais cedo ou mais tarde essa paz, comprada pelo capital, se desfragmenta.
Com isso, surge uma busca desenfreada por substituir rapidamente tais bens. Para manter essa segurança aparente surge uma luta que não tem fim. Tudo, porém, torna ao mesmo lugar depois que as alegrias passam.
Jesus Cristo, após a ressurreição, apresenta ao homem uma paz que o mundo não consegue construir. A segurança que é apresentada pela mensagem do Filho de Deus é realizada na vida, quando dá à existência humana um sentido novo ser e agir.
Jesus não promete bens, pessoas ou ideologias, mas apresenta a proposta de uma vida com sentido. Encontrando o sentido de sua vida, o homem também encontra a plenitude de sua existência, ou seja, o objetivo para o qual ele existe. Chegando a tal meta, ele não precisa mais de coisas ou pessoas que dêem sentido para a vida, pois essa já o tem em si mesma.
Ao chegar entre os discípulos, proclama: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19). Jesus sabia que a mensagem da cruz não tinha sido completamente entendida, por isso, “depois destas palavras, mostrou-lhes a mão e o lado” (Jo, 20, 20). A palavra foi completada pela atitude.
Jesus apresentou um sentido da vida que até aquele momento não tinha sido compreendido. A paz que o homem tanto procura começou a brotar do alto da cruz. Ela é confirmada quando o Cristo ressuscitado mostra que aquelas mãos que foram pregadas à cruz e aquele lado que fora transpassado pela lança chegaram novamente à vida.
Quando a realidade de sofrimento foi transformada em mistério de sacrifício e entrega, toda a lógica humana se inverteu. O que é morte passou a ser vida. A dor tornou-se alegria. O homem é confirmado, de fato, como homem quando até mesmo seu sofrimento é abraçado por sua existência e passa a ser parte integrante de sua constituição. Ele encontra um sentido para a diversidade de sua história.
Aprendamos também com Maria a sermos pessoas que confirmam o mistério da Cruz. Ele permaneceu ao lado do seu filho durante todos os momentos de suas dores, sempre em pé. Não houve revolta ou escândalos por parte daquela que soube participar, do começo ao fim, da missão salvadora do Verbo de Deus.
Olhemos para o mistério da cruz de forma diferente, olhemos para as mãos e o lado e compreendamos que neles está a nossa paz. Como Tomé, toquemos a dor, aproximemo-nos dos sofrimentos e das feridas humanas e vejamos nelas a possibilidade de ressurreição, de verdadeiro sentido para as nossas vidas.
Essa paz, sim, é permanente, não é perecível, não desaparecem, mesmo que as alegrias deste mundo passem.