Outro
caminho
“Voltaram
à sua terra por outro caminho” (Mt 2,12)
Que
alegria foi aquela experimentada pelos reis? O que eles sentiram ao se prostrar
diante daquela criança? O que eles viram de novo que o fizeram percorrer outro
caminho, diverso do que se esperava?
Esse
menino não é filho do Rei, não nasce no palácio real, nem mesmo em Jerusalém.
Ele mostra ao mundo que o poder humano não se limita a ações ou projetos, mas
na esperança que se porta. O homem é definido por aquilo que espera. É isso que
dá dinâmica à sua vida, ânimo à sua história. Essa é a luz, a potência e a
grandeza daquela nova vida.
Perdemos
a capacidade de esperar porque tememos o mistério. Preferimos o domínio, o
cálculo, a execução de projetos já realizados. Tememos ir além de nós mesmos,
fazer diferente, ir contrário a um mundo já acomodado a fazer sempre o mesmo.
Acabamos por matar a criança presente em nosso coração.
Cuidemos
dessa criança, saibamos cuidar dela, protegê-la de toda ameaça externa.
Saibamos formar todas as suas potencialidades, motivar todos os seus projetos,
realizar todos os seus sonhos. Não deixemos que ela perca a vitalidade e a
força que lhe é natural. Não permitamos que ela se torne velha e morra antes do
tempo.
Aprendamos
a reconhecer a criança presente no outro e a nos maravilhar com o seu mistério.
Saibamos nos curvar diante da esperança que todo homem porta consigo. Evitemos
limitá-lo em nossas categorias de juízos ou normas. Ele é sempre mais do que
podemos esperar. Não nos sintamos ameaçados com esse mistério.
Tenhamos
a coragem de assumir outro caminho. Uma via diversa da ordinária. Enfrentemos o
risco de encarar o poder de um mundo que tenta oprimir toda possibilidade de ir
além. Não temamos a novidade, aprendamos a amá-la, buscá-la e maravilhar-se com
o seu poder de transformação.
Foi
essa a alegria dos reis. Eles reconheceram naquela criança o poder da
humanidade. Todo o esforço do caminho não foi inútil. A mesma esperança que foi
a força para o caminho continua viva. É potência que está sempre em movimento e
espera ser abraçada.
Ela
é dinâmica que nos ajuda a percorrer outras vias. Caminhos desconhecidos,
talvez menos seguros, que revelam o grande e infinito poder humano de
superar-se, de ir além de si mesmo, revelando uma humanidade modelada à imagem
e semelhança do seu Criador.