A mídia vem nos mostrando nesses dias o conflito sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, estado do Pará. Os problemas gerados por causa de tal empreendimento vão desde a utilização de uma imensa área verde para a ocupação da água acumulada, fazendo desaparecer espécies de animais e plantas, até a necessidade de retiradas de nativos daquela região.
Mais do que uma questão de direitos e utilidades, esse problema deve nos fazer questionar: Há limites para a modernidade? O progresso científico, industrial e tecnológico deve ser regido por algum valor moral? Qual o fim de todas as ações humanas? O que é mais importante: crescimento material ou a afirmação do valor da vida humana? Quem está a serviço de quem?
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A ciência, com uma compreensão objetiva e racional da realidade, tende sempre a abraçar e manipular toda a sociedade segundo os seus princípios. Tudo isso faz com que os homens cheguem a um estágio de desenvolvimento nunca imaginado. Porém, esse progresso, além de ser limitado quanto ao número de beneficiados, também inverte a relação entre meios e fins.
A utilização de técnicas para o aperfeiçoamento das práticas sociais alcançou um nível tão grande que o homem, fim de toda essa utilização, passou a ser esquecido. O progresso torna-se alimento do próprio progresso. Estudamos para criar produtos que fomentam a geração de riquezas. Essas, por si, aumentam a possibilidade de extrair mais conhecimentos e bens do planeta, gerando mais avanços...
Esse ciclo poderia ser positivo desde que o homem não fosse esquecido como a meta desse movimento. Ao invés dele ser o fim de todas essas ações por meio da criação de um bem comum, transforma-se numa peça dessa produção de riquezas irrefletida. O ser humano passou a ser utilizado como meio para a conquista de progressos cada vez maiores, que têm como único fim a geração de mais riquezas.
Jesus Cristo, a cerca de dois mil anos apresentou um paradigma de relação social que parece ter sido esquecido em uma sociedade mais interessada no progresso humano do que no próprio humano: o amor. Não está a se falar no conceito de amor erótico que foi absolutizado em algumas concepções, mas no amor doação, que é recíproco, que quer ser amado, por isso doa-se, que não pode ser comprado ou vendido, trocado ou criado, mas entregue livremente.
As relações humanas ganham outro sentido com a proposta: “...amem uns aos outros. Assim como eu vos amei vocês devem amar uns aos outros” (Jo 13, 34). Qualquer prática social que não tem o amor pela humanidade e o bem do homem como fim, acaba por desviar-se dessa proposta.
Essa caridade pelo outro não é de fácil realização, exige luta, entrega e disposição integral do indivíduo que quer ver a pessoa humana como um outro-Eu, ou seja, como uma pessoa que também tem capacidades, necessidades e um valor que não pode ser negado.
Que Deus, por meio de sua Palavra Encarnada que renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5), possa também nos fazer homens novos, sabendo ver o outro, não como objeto para o meu benefício, mas como alguém que é igual a mim: imagem e semelhança do Supremo Bem.
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