“É
preciso que eu fique hoje em sua casa” (Lc 19, 5)
Não podemos olhar para
Zaqueu somente como um pecador que estava distante de Deus e depois que se
encontra com Jesus muda o seu caminho. É preciso ir mais profundo. Essa é uma
lógica muito precisa, mas pouco humana. Ele, mesmo em sua condição de pecado e
injustiça, buscava ver Jesus. Em sua busca por acumular riquezas, queria a
felicidade. Entretanto, esse bem era mal direcionado, porque era egoísta.
Ele, entretanto, não conseguia
por causa da multidão. O encontro com Deus é uma relação pessoal, que muitas
vezes vai contra a ordem das coisas, do que é comum. Isso porque conceitos como
caridade, serviço, sacrifício, entrega são realidades que estão muito além da
lógica, do normal. São movimentos que nos fazem sair de si e ir em direção ao
outro.
Duas forças aparecem
nesta dinâmica. Primeiro, a busca de Zaqueu por Jesus subindo em uma árvore
para vê-lo. Essa. parece ser uma ação ativa daquele que busca Deus. Todavia, se
torna egoísta quando se resume no concentrar-se das próprias forças: “Sou eu
que busco Deus e o encontro com meu próprio esforço”. Ao mesmo tempo em que é
egoísta é soberba, porque quer encontrar-se com Deus elevando-se acima dos
outros, querendo ir além da própria humanidade.
No segundo movimento, acontece
a ordem de Jesus para que Zaqueu descesse. O verdadeiro encontro com Deus se
realiza em nossa própria casa. Tal dinâmica se resume na abertura que devemos
ter diante dele que só entra em nossa existência se abrimos as nossas portas.
Esse é um encontro pessoal com Cristo que mostra a verdadeira face de nossa
humanidade. Essa abertura aparenta ser passiva, mas representa o grande
sacrifício de estar diante de nossas próprias limitações e encará-las como o
espaço onde Deus atua.
Não podemos, portanto,
falar de caminhos contrários. Ambos são direcionados à felicidade, mas um é
limitado porque é egoísta, tendendo aos próprios bens. O outro, não deixando se
ser humano, mostra que a verdadeira felicidade não está fora, mas no mais
íntimo de nosso ser.
Todos nós somos filhos
de Abraão, somos filhos da promessa. Essa, para se realizar, precisa de nosso
sim, de nossa abertura ao mistério de Deus que nos aponta a felicidade. O
caminho, mesmo sendo longo e árduo, é certo, porque é para nosso interior. Lá
ele quer entrar e permanecer conosco.
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