quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Homens humildes, criaturas perfeitas

Nesse período de eleições somos convidados a analisar a postura de muitos daqueles que se candidatam aos cargos públicos. Alguns justificam a sua eleição pelos projetos e obras que já realizaram. Cria-se uma imagem de super-homens dessas pessoas a partir dos trabalhos que já fizeram em benefício do povo.


Entretanto, muitas vezes é esquecido o fato de que tais trabalhos não devem ser vistos como méritos dessas pessoas, mas como obrigação daqueles que são eleitos para representar a vontade da população dentro de uma estrutura democrática de governo. Ninguém, portanto, deve justificar suas candidaturas pelo que realizou, mas pelas propostas novas que trazem para melhorar a sua comunidade e, com isso, realizar o seu serviço público.


Essa postura é reflexo de uma concepção social que põe o homem no centro de todos os acontecimentos históricos e políticos. Ele passa a se definir como a única causa, justificação e agente dos fenômenos políticos e morais. Como centro, o indivíduo compreende-se como criador e governador de uma estrutura global que, devido às limitações humanas, foge, muitas vezes, ao controle do homem.


Frente às adversidades psíquicas, sociais e naturais presentes na história, quando não há nenhum valor moral que possa dar norte ao homem e às suas ações, mais cedo ou mais tarde, ele sempre vai se perder em suas opções individuais.


Quando Deus nos aponta a perfeição como meta primeira, ele nos propõe que assumamos o lugar que nos foi preparado: o de criaturas de uma realidade Divina, não o seu lugar. O dicionário Aurélio apresenta o termo perfeito como aquele ou aquilo que “reúne todas as qualidades concebíveis, ou atingiu o mais alto grau numa escala de valores”, e aquele ou aquilo que é “completo, total; rematado, acabado”.


Ser perfeito, portanto, não significa, como a promessa feita aos nossos primeiros pais, ser como deuses. O homem “completo” é aquele que encontrou o verdadeiro sentido de sua existência: o reflexo da criação amorosa Divina de seres que poderiam assumir, livremente, a sua proposta. Nesse sentido, o caminho pelo qual podemos verdadeiramente chegar a essa plenitude da vida não é outro senão pela humanidade. O instrumento para essa construção, que não é palpável (cf. Hb 12, 28), não pode ser outro diferente da humildade.


Sentir-se servo diante da realidade Divina que se manifesta continuamente por meio da história humana e obediente ao seu caráter providente, que ensina a cada dia a olhar a sua Palavra, os grandes exemplos humanos e o mundo, como mestres para o nosso crescimento pessoal e comunitário, é a primeira via dessa humildade. A segunda se dá por meio do ato de se pôr diante do homem como mistério. Como criatura de Deus, a pessoa humana não pode mais ser vista como mero objeto de manipulação, ela vai sempre além. Como produto de uma complexa estrutura histórica, biológica, social e psíquica, o indivíduo deve sempre ser compreendido como mistério, reflexo de um Deus que foge às lógicas e raciocínios humanos.


A promessa de elevação da pessoa que se humilha (cf. Lc 14, 11) diante do mistério de Deus presente na história humana por meio do outro ou dos acontecimentos por ele realizados é o caminho para a construção de sua felicidade, de sua completude.


Tomemos Maria como exemplo. Ela foi assunta ao céu porque soube curvar-se diante do mistério do Outro, do Deus que queria fazer-se carne por meio de sua Palavra. Porque ouviu ela gerou. Humilhando-se para servir ela conseguiu chegar à plenitude de sua humanidade: ser criatura perfeita.


Que nós também possamos assumir essa postura de servos diante do outro (homem) e do Outro (Deus). Esses são caminhos pelos quais podemos construir um sentido para as nossas vidas, ser mais felizes, ser perfeitos.


Não como centro, mas como servidores em sua comunidade, o homem poder caminhar de forma mais livre e feliz entre os mistérios com os quais ele se depara continuamente em sua existência.

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