O
arriscar-se divino
“E
o Verbo se fez carne...” (Jo 1,14)
Contemplemos o presépio.
Vejamos nele não o simples o fato que Deus nasce em uma situação de
simplicidade ou pobreza, mas que esse menino, colocado em uma manjedoura, é
Deus. Ele é projeto de uma vida nova, de uma esperança viva e de um amor pleno.
Mesmo se fossemos
capazes de dar todas as nossas riquezas para que aquela criança nascesse em uma
situação humanamente digna o fato não mudaria: Ela é Deus. E é diante desse
mistério que devemos nos curvar.
O projeto de Salvação
da humanidade assume uma via de risco quando se inicia em um pequeno embrião e
assume todo o percurso de construção de uma vida. Deus ousa quando se faz presente
em na fragilidade de um feto e passa pelos perigos de um nascimento.
Todo amor comporta
risco. Imaginemos a situação de Maria e José. Os dois, de forma diversa, assumiram
um risco diante do projeto que estava diante deles. Eles assumiram esse perigo
porque confiaram na Promessa. Eles ousaram acreditar na Aliança que Deus tinha
realizado àqueles que os antecederam.
Deus mesmo arrisca a
sua divindade quando decide cumprir o seu plano de salvação fazendo-se ele
mesmo homem. A redenção humana inicia-se quando Ele toca essa realidade e a
transforma. Ele revela o seu amor quando se doa, quando entrega-se e arrisca-se.
Essa ousadia aumenta
quando tudo isso é colocado diante de um homem livre que pode dizer um simples
e destruidor “não”. Essa é a grandeza, a riqueza e a complexidade do amor que realizou
Deus ao assumir a nossa carne. Um risco não só essencial, mas também o humano de
não ser aceito, de não ser correspondido, sendo rejeitado ou negado.
Como não corresponder
a esse amor? Como não colocar-se diante dessa criança e adorá-la? Como não ver
nela o germe de uma redenção, a potencialidade de uma nova vida, a eficácia de
uma esperança que transforma o nosso modo de ver e agir sobre o mundo?
Dentro de cada um de
nós nasce essa criança. Ela, como todas as outras, assume um risco. A sua vida está
dependente de nossos cuidados, de como a alimentamos e a protegemos. Dentro
dela é presente o projeto de uma vida nova que se revela como mistério de amor.
Amor que ousa diante do outro e aguarda o seu sim livre e integral.
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