quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Filhos da promessa

No Brasil, após cada período eleitoral, sempre surge um novo rosto político e, com ele, o reflexo de toda uma estrutura social que está por trás. O último, e mais comentado, foi o do Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca. Ele foi escolhido deputado federal do Estado de São Paulo com cerca de um milhão e trezentos mil votos, sendo o político eleito com mais votos em todo o país.

Mesmo que por baixo dessa imagem esteja o fato de que ele fora inserido em um jogo político, sua escolha refletiu também um olhar da população sobre a atual situação nacional. O fato de que ele fora utilizado como sinal de uma articulação política para eleição de outros candidatos que estavam na sua legenda não esconde a realidade que permeia e antecipa tal joguete.

O cidadão do estado de São Paulo elegeu um palhaço para representá-lo porque estava vendo que os economistas, médicos, empresários e professores não estavam dando conta do recado. Mais do que uma manipulação maquiavélica, a escolha de Tiririca demonstra que o brasileiro não está satisfeito com a situação representativa que vê, está perdendo suas esperanças. Ao elegê-lo, espera-se que ele brinque menos com o povo do que os grandes homens do mundo político.

Ficar em uma eterna luta judiciária pela elegibilidade ou não daquele homem pode ser uma perda de tempo, já que o grito de crítica e denúncia já foi dado. A verdade e sinceridade que estava por trás de seus “argumentos políticos” já podem ser consideradas bons indícios de um caminho representativo.

Essa realidade deve ser compreendida de forma mais abrangente: o povo não está satisfeito com os políticos que têm e quer colocar qualquer outra pessoa que não venha com a mesma postura clássica de dominação. A esperança do povo é colocada nas mãos de um palhaço, analfabeto e sem história política.
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Podemos questionar: Será mesmo que ele pode representar o povo? A resposta do livro da Sabedoria é afirmativa, pois tal situação é reflexo de uma ordem que se nos impõe por meio da inteligência Providencial. Assim, proclama o autor sagrado em relação ao Senhor e para Ele: “Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que fizeste; porque se odiasses alguma coisa, não a terias criado” (Sb 11, 24).
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Assim, continua: “O teu espírito incorruptível está em todas as coisas!” (Sb 12, 1). Deus se manifesta nas realidades que menos esperamos e é capaz de mudar a vida de todo aquele que busca a salvação por meio de gestos pequenos ou insignificantes. Todas as coisas caminham naturalmente para Deus. Nós somos quem, muitas vezes, queremos distorcer a realidade e impedir que essa manifestação ocorra.
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Saibamos, portanto, olhar para essa nossa realidade e não ver somente um jogo de corrupções e interesses individuais, de brincadeiras e desmoralização política, mas a possibilidade de se poder sonhar com um novo país onde não só quem tem o poder financeiro é capaz de dominar politicamente. Saibamos ver que aquele “homem é um filho de Abraão” (Lc 19, 9), um filho da promessa, e que, assumindo ou não, ele já deu o seu recado à sociedade: precisamos de homens simples, sinceros e autênticos no poder, que representem, efetivamente, os interesses do povo.
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Maria foi aquela que acreditou na proposta inusitada de geração de um Deus em seu próprio seio. Porém, ela soube ver nesse conflito a possibilidade de salvação da humanidade. Seu silêncio, simplicidade e entrega ao serviço gratuito foram os fatores essenciais de uma caminhada de geração da Palavra salvadora pronunciada por Deus em Cristo no seio da humanidade.

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