quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Um sim à vida

Comemorar o dia de todos os santos é, antes de tudo, lembrar que todos os que abraçaram a proposta anunciada e testemunhada por Cristo são chamados também à santidade. Essa, porém, deve ir muito além de uma vaga compreensão de homens modelos ou seres que se presumem paradigma para toda ação. Santidade é buscar uma perfeição para a nossa vida. Essa plenitude, porém, não se encontra tão distante do que pensamos.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em um de seus aforismos desenvolvidos no livro A gaia ciência, apresenta o conceito de eterno retorno. Ele inicia com a imagem de um espírito que chega até nós e afirma que a vida a qual participamos, tudo que já vivemos, de bom ou ruim, se repetirá eternamente. O filósofo pergunta: O que faríamos com esse espírito? Agradeceríamos a ele ou iríamos amaldiçoá-lo para sempre?

Essa ilustração trás como pano de fundo outra problemática: Como estamos lidando com a nossa vida? Estamos aceitando a sua realidade como conjunto de subidas e descidas, vitórias e fracassos, dor e prazer, alegrias e tristezas...? Ou estamos buscando somente o que ela pode nos trazer de bom? Se assim o for, não estaríamos construindo uma vida ideal que, mais cedo ou mais tarde, tenderia para a frustração?

Buscar, portanto, a plenitude da vida é desenvolver um movimento de aceitação de sua realidade contingente, ou seja, dinâmica, que está em constante mudança. Nesse caminho, o sofrimento deixa de ser uma realidade que deveria ser rejeitada, pelo contrário, passa a ser visto como uma realidade que nos molda e aperfeiçoa no nosso caminho rumo à perfeição.

O livro do Apocalipse de São João apresenta a visão daqueles que estão gozando da felicidade plena: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14). Eles conseguiram algo que muitas vezes rejeitamos: abraçar o sofrimento como um fator constitutivo da nossa humanidade. A limpidez de sua aparência se mostrou por que eles estavam transparecendo a sua própria natureza: a humana.

O próprio João, em sua primeira carta, fala desse modo de espera: “Todo o que espera nele [em Cristo] purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 Jo 3, 3). Andar nos passos do Cristo, como aquele que soube aceitar a vida na humildade, sacrifício e entrega plena, é abrir as portas para o mistério da ressurreição, da alegria de ser confirmado na nossa opção pela vida.

Jesus é quem, de forma plena, nos apresenta, nas promessas das bem-aventuranças, o verdadeiro caminho para a santidade. Tais bem-aventuranças não são um conformismo vazio diante de uma realidade injusta e desregrada, mas no dá a esperança de que, se perseverarmos na nossa opção primeira pela conformação ao Cristo, receberemos a recompensa prometida por Ele. Quando conseguirmos compreender a necessária aceitação à humanidade que nos é dada, o céu se abrirá realmente para nós e conseguiremos contemplar o Filho do homem, Cordeiro vivo. Aí é que seremos felizes, nesse momento é que seremos santos.

Não há maior exemplo de criatura que soube construir a santidade como aquela que gerou e cuidou do Filho de Deus. Maria soube aceitar a sua condição de serva do Senhor, por isso soube se rebaixar diante seu projeto. Sua santidade foi sendo construída não porque ela fez o projeto da encarnação, por ter humildade, por ser obediente, mas simplesmente pelo fato de que ela soube apenas participar da condição de criatura, se integrar na proposta de uma humanidade prometida por Deus, uma humanidade ansiosa por felicidade, uma humanidade desejosa pela perfeição.

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