quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

É preciso esperar


Quando estamos diante de determinados conflitos políticos, escândalos morais, contradições humanas, somos levados, algumas vezes, a um enfraquecimento de nossa fé. Cansamos-nos de ver tanta banalização da pessoa humana, falta de respeito è integridade do outro, desrespeito à dignidade que é intrínseca a todo indivíduo.
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E no fim de cada ano isso parece se tornar mais latente. Saber que um novo ano está por vir e vamos ter que enfrentar novos conflitos e tristezas individuais ou sociais, algumas até maiores, não deve ser sinal de derrota, mas deve nos colocar numa posição de esperança, que nos impulsiona para frente.
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Sentir-se triste ou indignado diante de tais realidades, entretanto, não quer dizer que somos paradigma de verdade ou seres impassíveis de corrupção. Tudo isso é sinal de que temos em nós uma fagulha do divino que grita a cada instante que algumas posturas são equivocadas e que temos de corrigi-las.
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Somos seres históricos, em constante evolução, fomos transformados do caos para o cosmos, tendemos para a ordem, para a Perfeição. E é diante disso que Isaías nos enche de esperança: “Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos cambaleantes” (Is 35, 3). Ele não propõe uma fórmula para solucionar os nossos problemas. O caminho do homem sempre deve ser o da frente. É caminho de luta.
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Isaías nos ensina a enfrentar os problemas, não retirá-los de nossa frente. E mais do que isso, nos aponta para um futuro redentor, para uma realidade ordenadora do mundo que está sempre disposta recolocar a humanidade em seu caminho rumo à santificação. O profeta nos evoca: “digam aos corações desanimados: ‘Sejam fortes! Não tenham medo! Vejam o Deus de vocês, ele vem para vingar, ele traz um prêmio divino, ele vem para salvar vocês’” (Is 35, 4).
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Essa luta, entretanto, não é instantânea, mas se desenvolve na paciência, na luta cotidiana à exemplo do agricultor (cf. Tg 5, 7) que aguarda a semente que plantou dar frutos. A carta de Tiago nos indica novamente o caminho: “sejam pacientes” (Tg 5, 7). Não podemos dar muitas respostas para o mundo, não podemos sempre apontar o caminho certo ou errado. É preciso esperar.
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Mais cedo ou mais tarde o Filho do homem sempre aparece para julgar todos aqueles que se encontram no erro, para pôr ordem em tudo o que precisa se ajustado. Não podemos nos posicionar em seu lugar, só ele é quem pode definir, organizar, colocar ordem nas coisas. Nesse sentido, nos é dada mais esperança: “[...] o juiz está às portas” (Tg 5, 9).
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O Filho do homem se manifesta exatamente nessa teia de contradições humanas, no pecado do homem, na sua busca por felicidade. Saber que equívocos, escândalos e conflitos são parte da natureza humana é abrir espaço para que o Deus de justiça se manifeste em nossa realidade. É o próprio Jesus que nos diz: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim” (Mt 11, 6).
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Nosso Senhor promete o maior bem que o homem pode conquistar: a felicidade, o sentido pleno da vida. Quem sabe ver nas incongruências humanas a possibilidade de crescimento social passa a evitar sofrimentos inúteis e abraçar outros que permitem um contínuo amadurecimento pessoal.
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Saibamos considerar o exemplo de Maria. Ela não se escandalizou perante a proposta de ser mãe do filho de Deus. Diante de uma realidade de negação humana, ela soube gerar no silêncio aquele que foi o salvador da humanidade. Maria não se posicionou como a protagonista do mistério da redenção, mas aprendeu a esperar aquele que foi o paradigma de toda a humanidade.

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