quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ficai atentos

A Diocese de Caicó assumiu em sua última Assembléia de Pastoral a proposta das missões como eixo norteador dos seus trabalhos durante o ano de 2011. Todas as comunidades devem se debruçar sobre esse modo de ser cristão assumindo pela Igreja tanto local como universal.
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Porém, corremos o risco de abraçar essa proposta segundo as nossas compreensões individuais de missionariedade ou evangelização, desconsiderando que a ordem de Jesus aos seus discípulos era um imperativo universal. Todos os que quisessem seguir os seus passos deveriam ser testemunhos e proclamadores de sua mensagem de vida.
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Missão, nesse sentido, não é uma ação de uma parte dos cristãos que têm a coragem de sair de seus espaços individuais ou geográficos e ir à procura do outro que esteja precisando de uma mensagem de vida. Evangelização não é uma técnica ou habilidade que a Igreja encontrou para difundir a Palavra da vida, feita carne em Jesus.
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Quando somos advertidos pelo Senhor quanto à volta do Filho do homem (cf. Mt 24, 44), estamos sendo alarmados de que precisamos viver de forma constante, fiéis à nossa opção inicial. Se optamos por viver segundo a mensagem do Cristo morto e ressuscitado, devemos lembrar que entramos em um modus vivendi, um jeito de ser que nos move a uma postura de vida diferente da que vemos constantemente, à luz de uma Pessoa.
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Podemos estar formando grandes trabalhos pastorais, desenvolvendo inúmeros projetos comunitários, salvando muitas almas de perigos sociais ou morais, mas esquecemos que a qualquer hora podemos, simplesmente, acabar (cf. Mt 24, 39). E o que passa a importar não é o número de pessoas beneficiadas pelas minhas ações, mas como eu as desenvolvi. As posturas que eu estava assumindo ao desempenhar cada atividade, por menor que fosse.
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Nesse caminho, a missão que devemos assumir não é mais um movimento pastoral, mas um modo de agir cristão, fazendo grandes e santas realizações a partir de pequenas obras. É, portanto, um estado permanente. Com isso, não posso esquecer que sou missionário – porque cristão – em cada momento da vida. Não posso estar fazendo missão, apenas quando eu falo sobre ou contribuo para uma atividade específica, mas devo me ver missionário, sê-lo.
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A evangelização, que decorre desse modo de ser – não de estar –, provém do fato de que devemos anunciar uma Pessoa. E não há modo melhor de comprovar a eficácia e o valor de certa mensagem do que quando a mostramos com nossa própria vida. Quando sabemos agir como aquele que anunciamos, qualquer palavra torna-se desnecessária. O testemunho, nesse momento, fala mais alto e penetra mais nos ouvidos e na inteligência dos outros do que qualquer outra palavra ou ação.
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É o Cristo quem nos adverte: “Ficai atentos” (Mt 24, 42). Não podemos esperar uma atividade específica para se dizer missionário ou evangelizador. Tenho que agir de forma que, a qualquer momento, eu esteja apto para dar as razões de minha opção inicial, de minha fé. Isso não começa das grandes obras ou dos eloqüentes discursos, mas a cada circunstância de minha existência, por menor que seja.
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Seria muito bom se soubéssemos o dia em que seremos cobrados pelas nossas obras: planejaríamos bem esse momento, nos prepararíamos para ele. Jesus nos ensina que sua volta ocorre de forma contínua, em realidades que nunca esperamos ou nem percebemos.
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Maria é aquela que soube ser fiel em pequenas coisas. Não vemos grandes realizações em sua história, mas a fidelidade era o elemento que a definia como mãe do Salvador. Ela conseguiu atualizar e materializar a mensagem de Deus, em Jesus, a partir de um pequeno “sim”.
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Foi a jovem de Nazaré quem nos ensinou que o maior grito de evangelização se dá no anúncio da presença do Cristo em nossa humanidade. Ela não falou sobre, mas soube trazer dentro de si essa Palavra, testemunhando-a com sua própria vida, sendo, ao mesmo tempo, considerada a mulher do silêncio.

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