O
milagre na partilha
2 de junho de 2013
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13)
Os
discípulos se veem incapazes de saciar a quantidade de gente que os
acompanhavam. Queriam, por isso dispersar toda a multidão, cada um por si. Jesus,
entretanto, declara: “Dai-lhes vós
mesmos de comer” (Lc 9,13).
Eles
não compreendem a intenção de Jesus, afirmam que suas riquezas não são
suficientes para alimentar tanta gente. Era preciso mais obras, outras missões,
uma grande aquisição. Jesus retoma a palavra e afirma que os discípulos são,
sim, capazes de alimentar o povo, não com seus bens materiais, mas com o seu serviço.
A
missão dos discípulos é organizar o povo, que se encontra em multidão, antes
visto apenas como “massa”. Dividir em grupos significa preparar-se para o grande
milagre que se inicia a partir Cristo. O pouco alimento que aquele povo possuía
verdadeiramente multiplica-se quando colocado em comum, mas não em um “comum
universal”, ou seja, de todos, mas comunitário.
Todos
comem e ficam saciados. Não há quem possui mais e outros menos ou nada. Assim,
como o maná no deserto, o povo se alimenta com o necessário: isso basta. Eis o
grande milagre. O homem sai de seu individualismo e abre-se para o conceito de
comunidade, de comunhão de bens.
Essa
comunhão não significa comunismo. Quando tudo é de todos nada é de ninguém. O
bem privado se faz necessário em uma organização social, entretanto, o bem que
excede e um é o que falta ao outro. A caridade surge na dinâmica de uma riqueza
que, de abundante transborda em direção ao outro e o beneficia.
Os
cestos que sobram ainda são capazes de saciar muito mais pessoas. Poderíamos arriscar
e dizer que pode saciar toda a humanidade. Não se trata de quantidade, mas de
qualidade, no modo de ver os bens, não mais como um “meu” fechado em posses. Surge
no milagre do amor que de pleno, estende-se e toca tudo aquilo que o rodeia.
É
Cristo que nos dá esse verdadeiro pão. Pelo mistério da entrega de sua vida ele
doa-se à nossa humanidade. Ele que, na plenitude do seu amor, se oferece por nós,
nos faz também participar desse mistério que une, transforma e sacia a nossa
humanidade.