O mundo está cheio de autoridades, mas poucos pastores. A nossa comunidade e a cultura que a envolve é perita em formar personagens que o povo possa tomar como ícones. Esses ídolos são bons por suas habilidades e as pessoas os seguem porque falam expressivamente, escrevem didaticamente bem e utilizam de belos artifícios para conquistar o povo.
O ser humano precisa, de fato, de imagens, realidades que facilitem o nosso caminhar e realize as nossas metas de maneira objetiva. Tais imagens aperfeiçoam os nossos sentidos para que as realidades abstratas se tornem próximas. Entretanto, o problema das imagens fabricadas por nossa cultura é que suas qualidades também são construídas e falsamente moldadas pelos homens para conquistar outras pessoas.
O mundo está cheio de ídolos, mas o que ele está sedento mesmo é de pastores. A nossa cultura está cheia de autoridades que nos dizem, a toda hora, o que devemos fazer, o que comprar, em que acreditar, o que sentir... Muitos chefes, mas poucos pastores.
Precisamos de pastores que não digam o que fazer, mas que façam conosco, que não ordenem em que investir, mas que estejam ao nosso lado em todos os momentos. Não necessitamos de alguém que diga tudo o que devemos acreditar, mas que, ele mesmo, dê a prova de sua fé tem sentido e que ela é capaz de fazer dele um novo homem.
Cristo pode ser apresentado como um pastor autêntico, não porque só disse o certo e o errado, mas por ser o caminho que devia ser trilhado. A lógica do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” foi superada pelo “caminho” apresentado em si mesmo. O apóstolo Pedro foi um dos que primeiro perceberam essa coerência do Bom Pastor: “[...] Cristo sofreu por vós, deixou-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos” (1 Pd 20, 21b).
Sim, Jesus é o paradigma de todo bom pastor pelo fato de que ele não somente corrige as ovelhas e dita o caminho que deve ser seguido, mas “caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10, 4). Ele não somente aponta a entrada para determinados projetos ou a saída para múltiplos conflitos, mas “é a porta” (cf. Jo 10, 9)
Todo ídolo ou autoridade que fundamenta a sua prática apenas em administrar pessoas, ditar caminhos, julgar ações, mas sua vida é distante da verdade pregada é “ladrão e assaltante” (Jo 10, 1). Só querem retirar do povo, extrair o que os outros podem trazer de objetivo, compreendem as pessoas apenas como instrumentos do benefício próprio ou, no máximo, em benefício da instituição política, religiosa ou financeiro-mercantil por ele direcionada.
Jesus foge a essa regra quando utiliza a imagem da porta para ilustrar o fato de que ele mesmo é o caminho através do qual todos podem passar, é ele o caminho para toda necessidade. O benefício que ele procura não é o próprio, muito menos em função de uma instituição. Ele possui a pessoa humana como fim de toda ação. Sua meta é que todos os homens “tenham vida e tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Como Verbo de Deus, ou seja, Vontade Divina desejada para o homem, ele trilha sua vida para que as pessoas vissem o projeto de Deus: Criar o homem à sua imagem e semelhança.
Maria é o exemplo de ser humano que soube entrar na dinâmica do Cristo Porta. Nas bodas de Caná, ela pediu aos servos para “fazer tudo” o que Ele os dissesse. Ela mesma entrou na proposta da obediência à Palavra de Deus quando disse um sim e gerou o Homem- Palavra.
Que nós superemos a cultura das “palavras” e fixemos nosso olhar naquele que é a Palavra, ou seja, o Verbo, a ação querida por Deus para o homem. Ele não apenas apontou a via correta, condenou as mentiras ou apresentou as realidades de morte existentes, mas soube ser, com suas ações, o caminho, a verdade e a vida.
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