“Se muito vale o já feito, mais vale o que será”
Elis Regina
A notícia mais comentada nesses últimos dias não é outra senão a morte do líder da Al Quaeda, Osama Bin Laden. O grande inimigo dos Estados Unidos, foi morto numa invasão cinematográfica em sua própria residência. Mas a história de anos de terrorismo mútuo, invasões e guerras, enfim, acabou?
No início da segunda-feira, o grande herói da história, o presidente Barack Obama, apareceu para levantar o seu troféu: “O terrorista está morto”. Depois de quase dez anos dos ataques da rede político-religiosa, liderada pelo inimigo do poderio ocidental, em edifícios norte americanos, a mídia e muitos dos que seguem a sua proposta parecem vibrar com esse acontecimento.
Nossa cultura, encabeçada pelos meios de comunicação social, poderes públicos e financeiros, encontrou mais um bode expiatório para justificar a nossa violência e projetar os nossos próprios terrorismos. A morte do líder da Al Quaeda parece ser a morte do todo o terrorismo existente. É esquecido, deste modo, que há uma violência muito mais ampla e que passa despercebida.
Se alguém entra em nossa casa e diz o que devemos e não devemos fazer, o que podemos ou não podemos comprar, em quê devemos acreditar, qual seria a nossa postura? E se essa pessoa começasse a querer mudar as nossas roupas e mobília, o que faríamos?
Terrorismo não nasce do nada, pela loucura ou perversidade de um homem. A revolta, justa ou não, violenta ou pacífica é resposta de um conflito já estabelecido. Se existe violência, terrorismo e conflitos, esses são estruturados em uma relação recíproca.
Precisamos aprender com a história, ver os fatos passados e crescer com eles. As antigas Cruzadas, as modernas Guerras Mundiais e as contemporâneas guerras “santas” ou “pela democracia”, devem nos ensinar que não existem líderes religiosos, autoridades políticas ou terroristas fanáticos responsáveis por mortes, mas sim, uma cultura de ambição, corrupção e intolerância que permeia muitos espaços sociais.
Os discípulos não ficaram, por toda a vida, olhando para trás, somente para a bonita vida de pregações, milagres, boas ações, mas também de traições e desgraças sofridas pelo Cristo. Eles, ao descobrirem um significado de todo aquele sofrimento e da morte de seu mestre, abriram os olhos e viram Jesus (cf. Lc 24, 31).
Jesus tinha apresentado um caminho e, não só isso, era o próprio caminho. Na última ceia apresentou a realidade do pão partido como modo de atualizar a sua presença no meio dos homens. Deste modo, as pessoas também deveriam seguir esse mistério: ser pão para que os outros tivessem vida e fossem alimentados com a doação de suas vidas.
Os discípulos reconheceram Jesus ao partir o pão (cf. Lc 24, 35). O mistério da ressurreição lhes foi revelado quando retomaram a proposta do mestre: partir o pão com quem eles nem conheciam. Eles reconheceram Jesus naquele estranho que ensinou a olhar para a história e reconhecer que tudo é necessário para o crescimento daqueles que acreditam na humanidade.
Maria é o grande exemplo de ser cristão. Quando estava ao lado da cruz ela comungava com a dor sofrida pelo seu Filho, ela era crucificada com ele. Por estar em pé, ela não se descabelava ou se revoltava por aquela situação. Pelo contrário, ela já contemplava a ressurreição do Filho do Homem.
A viúva que perdia injustamente o seu filho foi a primeira a compreender que é no alto da cruz, com os braços abertos para o sofrimento, que o homem se afirma como humano e que a dor não é vã para aqueles que aprendem com ela. Maria foi a primeira a olhar para frente e ver a glória do Homem Divino.
Aprendamos a olhar para a nossa história, não nos apegando às pessoas, realidades ou ações do passado, mas, sim, aprendendo a evoluir com elas. Terrorismo, não se acaba com terrorismo, guerra com guerra, negação com negação, é preciso olhar para a história.
Jesus nos ensina a fugir dessa lógica do “bateu-levou”. Aprendendo com o passando, podemos ver e agir no presente de forma nova. Só deste modo, podemos contemplar a glória que nos espera em um futuro que bate às nossas portas. Esse, só pede uma coisa: que nos abramos a um Deus que vive em nossa história.
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