quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ensinar a viver

“Quero ensinar-lhe a viver”

Rousseau

A Rede Globo de Televisão vem mostrando, nessa semana, uma série de reportagens sobre a educação no Brasil, em seus inúmeros contrastes, valores e deficiências. Desde a merenda até a integração escola e família, vemos que temos muito para crescer.

Mas, por que tanto descaso? Nosso país estaria passando por um momento de crise por falta de finanças para a educação? Faltam apenas professores qualificados para atenderem as demandas da docência? Ou o que está faltando mesmo em nossa cultura é a esperança?

A comunidade brasileira, que absorveu o modo pragmático de compreender o mundo, não está reconhecendo, na prática, a educação como um meio eficiente para o crescimento integral do país. Ela parece ser vista como artigo de luxo ou peça rara que só se apresenta nas mãos de uma minoria que luta demasiadamente por ela.

O imediatismo e a compreensão objetiva das relações de mercado somadas a uma estrutura individualista, portanto, corrupta em muitos espaços políticos geram uma educação de má qualidade na maioria dos espaços sociais. As escolas ideais, mesmo públicas, tornam-se raras e, infelizmente, exceções nesse ambiente de interesse, raras vezes, social.

São Pedro, em sua primeira carta, apresenta a pessoa de Jesus Cristo como esse paradigma de ser e viver para uma comunidade confusa. Ele O apresenta como uma “pedra angular” (1 Pd 2, 6), que dá sustentação a uma estrutura social permeada de caminhos variados.

O problema educacional não sai da esfera prática: a educação é vista como um “direito” a ser “dado” a todo cidadão. É esquecido o fato de que ela possui uma dimensão mais profunda do que sua qualidade objetiva. Enquanto ela não for vista com esperança, peça-chave, como possibilidade de evolução integral humana, será sempre esquecida por muitos.

Acrescenta São Pedro: “para vocês que acreditam, ela será tesouro precioso; mas, para os que não acreditam, [será] uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair” (1 Pd 2, 7s). Para alguns, apresentar aos homens um arcabouço de conhecimentos e fazer nascer neles uma capacidade de questionamento de si mesmo e do mundo que o envolve torna-se ameaçador.

E Jesus é o maior exemplo daquele que foi rejeitado por que sabia ir além das estruturas de mundo já pensadas. É nesse mesmo sentido que João o apresenta como caminho a ser assumido por todo homem.

Tomé, confuso com todos os caminhos que experimentava ao seu redor, questionava: “como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5). Ele não procura apensa o caminho “bom” ou “mais feliz”, mas “o” caminho para encontrar o sentido de sua existência. O Mestre responde não com conhecimentos teóricos, mas com autoridade: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).

Do mesmo modo, compreender uma educação apenas como um instrumento “capacitador” de profissionais para o mercado de trabalho é desviar-se do fato de que o homem é centro desse processo. O sentido da verdadeira educação está em colocar o indivíduo em posição de questionamento consigo mesmo e com um mundo a sua volta.

Jesus Cristo é ícone desse modo de ser e viver. Ele não queria bens, reinos ou agradar pessoas, mas apresentar ao homem o que o Pai pensava da criação: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14, 9). É por isso que podemos chamá-lo de “pedra angular” ou simplesmente “caminho”.

Que nesse mês das mães, possamos ver em Maria aquele verdadeiro modelo de cuidado e manutenção da Palavra de Deus. No silêncio de uma vida cotidiana simples, aquela jovem soube educar o menino Jesus na proposta de obediência a Deus Pai. Com uma educação libertadora, seu filho soube compreender, isto é, “prender em si mesmo” o caminho, sendo, para outros, Verdade que gera Vida.

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