“Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento... eu vou”
Caetano Veloso
Nossa comunidade assistiu, de braços cruzados, a decisão do Supremo Tribunal Federal relacionada à união de pessoas do mesmo sexo. A partir dessa decisão, o Estado passou a reconhecer a união legal de pessoas homossexuais e também a assistir, com os devidos aparatos jurídicos e previdenciários, tais pessoas.
O que mais nos chama à atenção não é tal reconhecimento em si, mas os desdobramentos que esse processo apresenta, ao ponto se forçar na comunidade a mudança de compreensão do conceito de família, por exemplo. O que está sendo construída em nossa sociedade, mais do que uma luta por direitos, é a tentativa de abalo aos pilares que dão fundamento ao estado democrático de direito.
A partir do momento em que o Estado passa a ditar em quê se deve acreditar, formula conceitos cristalizados de certo e errado e pune àqueles que não seguem tal compreensão, muito menos quando esses não foram consultados nessa decisão, o sonho de uma democracia passa a escorrer entre os dedos dessa comunidade... E por esse momento histórico já passamos.
O centro do problema surge quando esse reconhecimento abre espaço para muitas outras lutas, aparentemente “legais”, que passam a vulgarizar o conceito de discriminação e violência. Estamos em um caminho em que se corre o risco de todo aquele que pensar diferente ou discordar desse modo de ser e agir seja enquadrado como “homofóbico”.
Na verdade, estamos inseridos em uma cultura tão simplista em suas relações humanas que aqueles que acreditam em uma proposta de vida natural passam a andar na contra mão de uma cultura pansexualista. Porém, o argumento pelo qual nos seguramos é mais simples do que se pode cogitar: o conceito que temos de família está na relação entre homem e mulher, abertos à possibilidade de ser gerada uma vida a partir de suas relações recíprocas e complementares.
Ouvimos São Pedro proclamando: “estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (1 Pd 3, 15). O argumento não é religioso, teológico, tradicional ou semelhante, mas natural: a partir das condições biológicas entre pessoas do mesmo sexo não há possibilidade de ser gerar uma nova vida.
Como cristãos, seguindo tal proposta, alicerçada pela tradição bíblica e fortalecida pelo magistério católico acreditamos que qualquer desvio dessa ideia gera uma corrupção de valores básicos na compreensão humana e, conseqüentemente, nas relações sociais.
Continua o Apóstolo: “Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência” (1 Pd 3, 16). Não se está pregando, entretanto, uma cultura de intolerância ou violência. Pelo contrário, repudia-se qualquer dessas práticas, em comunhão com àquele que não excluiu nem mesmo os mais negados pela comunidade.
Devemos, todavia, abraçar esse “nadar contra a maré”, sabendo que estamos seguindo uma Palavra de Vida, uma proposta Divina que requer esforços daqueles que a assumem. Assim, justifica São Pedro: “será melhor sofrer praticando o bem, se tal for a vontade de Deus, do que praticando o mal” (1 Pd 3, 17).
Sabemos que, podemos ser até perseguidos ao dar as “razões de nossa fé”, mas também devemos compreender que, só assim, estaremos assumindo, em nossa vida, a Palavra que acreditamos. É Cristo quem afirma: “Se me amais, observareis os meus mandamentos” (Jo 14, 15). Uma prova de que amamos o Senhor é quando assumimos, em nossa vida, a sua proposta de salvação. Isso não com ideias ou filosofias, mas compreendendo com o nosso comprometimento social e político.
A Virgem Maria é aquela que mais nos ensina a assumir essa dinâmica de uma proposta comprometedora, muitas vezes à contra mão de uma cultura dominante. Diante da proposta de gerar um filho sem a participação humana dentro de uma cultura extremamente machista, sabendo que esse seria encarnação da Palavra Divina, ela soube dar um sim integral e destemido à essa Palavra.
Que o nosso caminho também seja o de assumir integralmente às razões de nossa fé, seja aquele que acreditamos ser de Vida Eterna. Mesmo que tudo isso seja motivo de críticas ou condenações, devemos abraçar todas as conseqüências que ela o implica. Se o fizermos, estaremos em comunhão com àquele que soube Ser Palavra de Vida e, nadando contra o vento, sem nada que o prendesse, abraçou a cruz e conquistou a glória que ela implica.
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