O homem é definido como ser capaz de comunicação. Expressão essa que ultrapassa as dimensões verbais e se amplia no ato de interação com um semelhante, pelas diversas formas que a inteligência os permite. Somos homens de palavras e indivíduos da palavra.
Facilmente expressamos a realidade que nos envolve por meio de informações, críticas ou definições. Gostamos de falar sobre o mundo que nos cerca. Somos mestres em dizer a “verdade” sobre as coisas e as pessoas. Mais do que isso, temos sempre uma resposta para as diversas realidades que nos abraçam.
E em uma estrutura social facilmente marcada pela informação globalizada, as notícias que chegam até nós são mais um motivo para um julgamento, quase sempre imediato.
Corrupção, individualismo, injustiça, pobreza, criminalidade, fragmentação de valores, falta de ética... são palavras muito utilizadas atualmente por que foram emitidas quase sempre associadas a um determinado julgamento sobre casos específicos. E se é fácil nossa capacidade de julgamento, muito mais é a nossa habilidade em solucionar os fatos.
Temos sempre uma solução para os muitos conflitos: afastar, reeducar, prender, surrar, matar, esquecer... O problema do julgamento começa na “caracterização” do outro, que já é limitada e unidirecional, ou seja, o outro é seria definido apenas sob um único olhar, e encerrando-se no fato de se querer já solucionar o problema a partir de uma perspectiva individual.
Jesus nos apresenta uma dinâmica diferente da postura que estamos acostumados. Diante de um mundo cercado de “desgraças”, Jesus nos ensina que devemos aprender a crescer com elas.
Podemos eliminar os males do mundo de uma só vez? Diante dessa pergunta, o Verbo de Deus nos ensina: “Deixem crescer um e outro até a colheita” (Mt 13, 30). É preciso que nós aprendamos a evoluir ao lado de realidades positivas e negativas. Ambas, sob o olhar de Cristo, são instrumentos de nosso crescimento.
Isso não significa que nós devamos ser homens conformados com a realidade que nos abraça. Mas significa dizer que, ao julgar, estamos certos de conhecer completamente o objeto de nossa avaliação. Nesse ínterim, esquecemos que a realidade que nos envolve e, principalmente o outro, sempre fogem às nossas definições.
Sim, somos seres de comunicação, somos seres de julgamento, por que temos visão, inteligência e capacidade comunicativa, mas devemos nos lembrar também que somos seres limitados quando o assunto é o outro. O mundo complexo que o cerca o torna incapaz de ser “definido”, “julgado” ou “conceituado”.
Que o Espírito do Cristo, Palavra de Deus, faça nascer em nós a paciência necessária para nos ajudar a crescer com estruturas confusas que nos rodeiam. Afinal, o homem e o contexto que o cerca sempre estará carregado de mistério. Defini-lo sempre implica limitá-lo.
Maria é aquela que soube aguardar, no silêncio, o grande grito da ressurreição. Ao sofrer, em sua própria carne, as dores do filho condenado injustamente, maltratado e crucificado ela não se revoltou contra os que cometiam tal barbárie. Como no início, mesmo sem entender, ela guardava todas aquelas coisas no coração.
E porque guardou no coração todas aquelas imagens confusas ela soube contemplar, imaculada, a ressurreição do Filho do Homem.
Que nós também, associados ao silêncio de Maria, saibamos calar-se diante de muitas realidades e a esperar pelo Espírito da Providência Divina, que tudo ordena e conforma a Si. O mesmo Espírito que ordenou o mundo do caos continua a sobrar sobre todos os homens, fazendo crescer joio e trigo, mas esperando pelo que mais Lhe agrada.
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