Vivemos em um mundo marcado pelo isolamento pessoal. O espírito do capitalismo fez surgir um homem que buscasse um crescimento a qualquer custo. O conceito de indivíduo passa a nortear todas as relações políticas e morais, e um “indivíduo” não só como objeto de valores, direitos e deveres, mas que é o centro das próprias ações.
A partir desse modo de ser e viver, o homem começa a agir como se o mundo girasse em torno de si. A sociedade está corrupta quando ele é alvo de corrupção, falta caridade quando ele é esquecido, as pessoas são mentirosas quando ele é objeto de calúnia. Do contrário, tudo está bem. O mundo passa a ser definido pelo ego... Pelo indivíduo ego-ista...
Essa estrutura social que surge a partir de um “ego-ismo” reflete uma comunidade que não pensa no outro, melhor, que não pensa o outro. Esse pensar o outro ultrapassa os limites de uma caridade simplesmente política ou de um altruísmo compensatório, ou seja, para superar o egoísmo. Estamos, na verdade, com a necessidade de um espírito de comum-união.
A superação dessa dificuldade não está apenas no fato de que, a partir de certo momento, o outro deve ser o único objeto de minhas ações. O conceito de comunhão apresenta a necessidade de um espírito que pensa em comum. Saber que o centro de uma sociedade não é essa ou aquela pessoa, determinado grupo social, tampouco uma ideologia política ou filosófica.
Compreender-se como habitantes de uma “comum-unidade”, e não um conglomerado de interesses, é o início de uma transformação de uma sociedade marcada e definida pelo indivíduo. O outro entra nesse jogo de relações como participante necessário desse espírito de comunhão.
Jesus, como Palavra de Deus, não apresentou ao mundo um conjunto de normas a serem seguidas, regras a serem observadas, limites a serem traçados. Ele afirma: “se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá” (Mt 18, 19).
Cristo não apresenta ao mundo um modo democrático de oração. Ele aprofunda a realidade humana de comunhão e de diálogo com Deus. Ele não afirma uma verdade criada pela maioria, mas chancela todo conceito que for fruto da busca por comunhão. Toda a ação que tiver como fruto o bem comum está, desde já, tornando concreta a realidade divida.
Nosso Senhor se arrisca ao afirmar esse modo de proceder, mais ainda quando confirma: “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18, 18). O homem que luta por uma comunhão, vai além de um estar junto dos outros: fazer o que os outros fazem ou querem, viver como vivem a maioria.
O homem que busca tornar real a comunhão é aquele que age como se estivesse integrado a um organismo, atento ao que o todo necessita.
Vejamos o exemplo de Maria, mãe de Jesus. Diante da possibilidade de encarnação do Verbo de Deus ela não calcula os benefícios que teria para si, muito menos busca agradar àqueles que estavam ao seu redor. Ela sabia apenas que o seu “sim” significaria uma redenção de todo aquele que busca a Deus. Seu exemplo manifesta e faz materializar-se a perfeita comunhão.
Que nós também saibamos entrar nessa escola de comunhão, à luz daquela que soube atualizar por obra do Espírito Santo de Deus, a Vontade Divina. Aquele que com um “faça-se” transformou o caos em “ordem” também nos ensina a entrar nessa dinâmica da comunhão, que não é apenas pensar no outro ou na maioria, mas no que todos necessitam, pensar naquilo e Naquele que nos torna, consigo, Um.
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