Vivemos em uma estrutura social que nos define pelo que somos e o que temos. A objetividade penetrou tanto em nossa comunidade que ultrapassa a visão pragmática das realidades, até o homem entra nessa compreensão. Ele passa a ser transformado em peça de uma engrenagem.
Como toda peça, esta só tem algum valor se puder ser encaixada em algum espaço da maquina e puder desenvolver alguma função. Quando esse item está incompleto, quebrado ou desgastado ele logo é reposto.
Essa mesma lógica invadiu as relações pessoais. Os discursos em defesa do aborto, eutanásia ou eugenia são exemplo de uma cultura que materializa as coisas e as pessoas. Assim sendo, a complexidade e, portanto, mistério, que há em cada indivíduo é esquecido por sua utilidade.
Deste modo, o ser que ainda não atua praticamente no meio social, o indivíduo que possui limitações físicas ou mentais e a pessoa que já ultrapassou a idade do trabalho passam a ser consideradas, nessa compreensão, como peças descartáveis.
Quando celebramos a assunção de Nossa Senhora, não memorizamos um grande personagem histórico, que fez grandes coisas. Pelo contrário, vemos em Maria a memória de um crescimento que se desenvolve a partir das pequenas ações.
Nossa Senhora não cresceu por si mesma, ela não fez grandes coisas, não tinha grandes habilidades... Pelo contrário, como ela mesmo afirma: “o Todo-poderoso fez grades coisas em meu favor” (Lc 1, 49). Maria não se fez grande, mas sim, Deus fez grandes coisas naquela que fazia, em cada momento, um espaço absoluto de santificação.
Maria corre apressadamente ao encontro de sua parenta (cf. Lc 1, 39), não como quem tem pressa para fazer uma atividade e logo terminar. Ela se apressa por que quer logo estar naquela dinâmica do serviço. O “sim” dado ao Anjo é continuado pelo serviço à Isabel.
A partir desse “sim” dado por Nossa Senhora começa a surgir a vida, tanto em seu corpo como na realidade que a envolve. Aquela jovem não se preocupou, ao ponto de desistir de sua missão, por que sabia que não dependia dela tudo o que ia ocorrer. Ela apenas deixou que grandes coisas fossem feitas nela e através dela.
Com apenas um “sim” à Deus e aos homens compreendia que a redenção de todos não dependia de suas ações, mas do que ela permitia que fosse feito por meio dela. Maria não utilizou grandes habilidades fazendo-se grande, mas como ela mesmo afirma: “O Senhor engrandece a minha alma” (Lc 1, 46).
Fazendo-se humilde, Nossa Senhora soube deixar-se preencher de Deus. Fazendo-se plenamente humilde, Deus habitou plenamente em sua existência ao ponto de fazer-se carne viva. Do mesmo modo, Deus não necessita de nossas qualidades ou habilidades, Ele deseja apenas um coração aberto à Sua vontade.
Que nessa dinâmica do serviço e da oferta humilde de Nossa Senhora, possamos ultrapassar a compreensão materialista que nos envolve e saber viver a “ascensão” que se constrói por trás de toda entrega de vida.
Maria nos ensina que Deus só se faz presente em quando nós sabemos nos esvaziar de nós mesmos. E aquele, que é a plenitude do amor, só nasce quando tentamos atualizar, a cada dia, a perfeição da caridade.
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