“Se
o grão de trigo não morre, permanecerá só,
mas
se morrer, produzirá muitos frutos” (Jo 12, 24)
A aparente glória
prometida pelo mundo é sempre material e, como tal, passível de destruição. Riquezas,
fama, reconhecimento, prazeres, honras vêm como algo que preenche a humanidade,
dão vida a uma matéria sem sentido... Porém, todos esses bens podem ser
roubados, substituídos, esquecidos, empobrecidos, ou seja, gerar nessa mesma
matéria um espírito de morte, maior até do que o caos anterior.
Jesus, como filho
enviado por Deus, revela uma lógica contrária à apresentada pelo mundo atual.
“Se o grão não morre, permanecerá só” (Jo 12, 24). A morte, mais do que uma
perda, é uma passagem de uma realidade para outra. Um passo adiante de nossa humanidade
que vai além de sua matéria para algo superior. Caso contrário, permanecerá
sempre o mesmo, sujeito à contínua corrupção material, corrupção dolorosa e
eterna.
“... Mas se morrer,
produzirá frutos”. Não somos uma matéria eterna, toda a existência humana
perderia todo o seu sentido se o seu fim ultimo fosse a destruição plena. A
morte que gera fruto é aquela que ultrapassa a dimensão material que entra no
coração humano e o faz compreender que a vida não criada para ser “extraviada”
ou “experimentada”, mas é projeto de mundo em ordem, que caminha para o Bem.
Jesus cumpre e revela a
promessa de Deus Pai, não por algo externo, mas pelo seu próprio nome, pelo
Verbo que ele mesmo pronunciou no templo. “Chegou a hora em que o filho do
homem será glorificado” (Jo 12, 23). A promessa da cruz é a realização pela
dessa morte que gera vida, morte que redime, purifica e santifica uma
humanidade que estaria morta pelo seu pecado.
A grande glória do Pai
revela-se no alto da Cruz, com o Filho de braços abertos, entregue para a nossa
salvação. “Eu o glorifiquei e glorificarei novamente” (Jo 12, 28).
Encarnando-se, Jesus revela o mistério da grandeza e da simplicidade de Deus,
morrendo, o seu projeto de redenção de todo o homem que o buscasse.
“Quando eu for elevado
da terra atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). Sim, a Cruz, antes símbolo de morte
ganha um novo sentido em Cristo. É no alto da cruz que ele entrega humilhado,
na obediência e por amor, a sua vida. Como a semente, ele deixa que seu corpo
seja quebrado, destruído, para que algo novo brote do seu centro. Dele, nasce a
árvore da vida, árvore que perdemos com o nosso orgulho, mas que recuperamos
pela dinâmica de sua morte.
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