segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Silêncio que gera



“Maria, de sua parte, guardava todas essas coisas
e as meditava em seu coração” (Lc 2, 19)

O que viram os pastores naquela experiência de encontro com a família de Nazaré? Supostamente um pai que protegia, uma mãe que cuidava e uma criança que manifestava a paz de um ser que se sentia acolhido pelo amor de seus genitores. Os pastores glorificaram a grandeza dessa imagem, coisa que eles não encontraram nos palácios. Havia ali algo que o mundo não dá.
Celebrar Maria, Mãe de Deus é contemplar e viver a experiência daquela que, através do seu silêncio, torna presente em sua realidade a Palavra de Deus. Maria gera o menino Deus não por discursos, habilidades, por meio de sua grandeza de vida ou pela sua quantidade de boas obras, ela gera por meio do silêncio. E essa é a grande pedagogia de Deus. Ele age em nosso nada e desse, torna possível a nossa redenção.
Em um mundo marcado pelo orgulho intelectual, pelo relativismo religioso ou pela materialidade nas relações, o silêncio surge como uma antítese a toda essa cultura. O homem está sempre buscando preencher seu tempo com palavras ou vozes, explicações ou conjecturas sobre o mundo e a vida. Esquece de calar-se diante do mistério de sua existência, que sempre ultrapassa qualquer raciocínio.
Maria é mãe de Deus por que é mulher do silêncio. Sabe calar-se diante da realidade da vida e contemplar a Revelação Divina que ocorre na história humana. Ela compreende que o projeto de salvação vai além dos homens. Maria guarda a Palavra em seu coração, medita-a não busca esquadrinhá-la, apenas a acolhe. E, mesmo sem entender como ocorre esse processo, gera em si o Verbo que se faz homem, a Palavra que refaz o homem.
O mistério do Natal no ensina a nos curvar diante desse fato: Deus salva. Ele vem até a nossa humanidade, toca-a e manifesta a plenitude do seu amor em Jesus Cristo. Porém, para que isso ocorra é preciso silenciar, deixar que Ele manifeste-se plenamente, abrir-se a um mistério que sempre está sobre as nossas compreensões.
Maria é ícone desse movimento, ela gera essa Palavra em seu coração e materializa-a no seu ventre. É uma Palavra que não permanece em um mundo ideal, mas faz-se carne, mistério vivo que manifesta e dá ao homem a sua salvação. Maria silencia, deixa que Deus cumpra em sua humanidade seu projeto universal de redenção. Ela nos ensina que o caminho de Vida Plena se faz no ajoelhar-se diante desse Verbo que aponta e leva-nos para o alto.

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