“Amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15, 12)
Em suas últimas
palavras, Jesus procura sintetizar toda a dinâmica de sua mensagem, busca
resumir toda a riqueza de sua vida. Daí que surge o mandamento do amor. Esse
não é só um belo discurso, uma frase que possa permanecer em nossas mentes, mas
a fonte de todo o cristianismo. Um amor que é gratuito, que implica dom de si.
Vivemos em uma
sociedade permeada pela compra e troca de relações humanas. Em tudo há um
interesse, nas ações, um valor, na vida, um preço... O homem torna-se
instrumento a ser comercializado, trocado, valorizado pelas suas habilidades.
As relações humanas perdem a sua riqueza, o mistério do encontro de dois
mundos, duas histórias, duas vidas.
Cristo fala a esse tipo
de mundo, responde com a sua própria vida e mostra o verdadeiro mandamento, o
verdadeiro caminho: “Amai-vos uns aos outros”.
Que significa esse
amor? Primeiramente relação. Entrar em contato com um mundo diferente do meu,
uma vida distante da minha, uma história que se cruza com a minha, portanto, uma
relação com um outro “eu”. Esse contato deve ser permeado de uma verdadeira
consciência de si. Se eu reconheço os meus defeitos, as minhas limitações, as
minhas faltas, não posso me escandalizar nem esperar algo mais do outro...
Como amar um mundo
diverso do meu, uma vida diferente da minha, caminhos diversos dos meus? Cristo
responde: “... como eu vos amei”. O seu amor não era discurso, texto,
ensinamento, mas vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida
pelos seus amigos” (Jo 15, 13). É no alto da cruz que ele revela a síntese de
seu mandamento. É entregando a sua vida por aqueles que não mereciam que ele
revela que esse movimento vai além de nossa compreensão, porque vem de Deus.
É dessa “divindade” que
gera, protege e dá a vida, que participa o amor de mãe. Um amor que entrega-se,
doa a própria vida, arriscando-a, para que o outro a tenha em plenitude. Um
amor que não busca nada em troca, pelo contrário, gasta-se a si mesmo, na
esperança que o outro apenas viva. Um amor que é dom de si, pois é movimento em
direção a um outro que é e será sempre mistério, mundo que não pode ser
esquadrinhado pela nossa razão.
Como responder a esse
amor? Vivendo-o em plenitude, como resposta àquele que nos ama por primeiro.
Caminhando ao encontro dessa fonte de vida e refletindo esse amor como um dom
de si. Um movimento em direção ao outro, na entrega de nossa própria vida de
forma gratuita, livre e despojada como Cristo, fonte de amor e vida, fez por
nós.