domingo, 26 de fevereiro de 2012

Humanidade a caminho


“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15)

Duas dimensões essenciais saltam aos nossos olhos na liturgia dessa primeira semana da Quaresma: Aliança e provação. Deus faz um pacto com a humanidade dando-lhe a vida para todos os que aceitassem tal relação. Essa aliança é realizada plenamente em Cristo. Ele, no deserto, mostra-nos que para encontrar-se verdadeiramente com Deus, precisamos nos purificar.
“De minha parte, vou estabelecer a minha aliança convosco e com vossa descendência” (Gn 9, 9). No livro do Gênesis, vermos uma nova humanidade que é gerada após o dilúvio. Ela é salva da morte porque foi protegida na arca, primeiro sinal da aliança entre Deus e os homens. O lenho que a construía fazia com que aqueles homens andassem sobre o caos da devastação. Eles não estavam isentos do mal, mas, na arca, podiam andar sobre ele.
A imagem do dilúvio é, para nós, a iniciativa de Deus em querer nos purificar do pecado e da morte que lhe é conseqüência. Na primeira carta de Pedro (cf. 1Pd 3, 21), vemos a imagem da água que purifica não o corpo ou o que é exterior ao homem, mas aquilo que lhe é interno. Por essa água, que destrói e cobre toda a superfície da terra, somos também chamados a morrer das impurezas dos nossos erros.
Cristo é a nova Arca. Por meio dele, é retomada e confirmada a aliança realizada por Deus e o seu povo. O período que ele passa no deserto sofrendo as tentações apresenta a pedagogia de um homem novo querido por Deus: um homem livre e senhor de si mesmo. Jesus vence a tentação, sua humanidade, em comunhão com o Pai supera tudo aquilo que prende a humanidade e a desfigura.
Esse é o grande anúncio realizado por Cristo: a aproximação do Reino de Deus. Um reino não mais de coisas, pessoas ou ideias, mas de Deus como Senhor Supremo de nossas vidas. É ele quem nos ensina que a verdadeira lei da liberdade está na imagem do homem que luta para ser senhor de si mesmo, para superar tudo aquilo que o aprisiona e si mesmo ou, quando pior, em realidades inferiores à sua humanidade.
Que esse tempo de Quaresma seja para nós um tempo de encontro. Primeiramente com nossa humanidade, tentando sempre construir um caminho de verdadeira libertação para o nosso corpo e para toda a nossa vida. Que nesse trajeto, possamos realizar o verdadeiro Reinado de nossa humanidade, tendo Deus por nosso único e verdadeiro Soberano.

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