segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Instrumentos de Vida


“Foi para isso que eu vim...” (Mc 1, 38)

Jesus Cristo é a Palavra revelada pelo Pai. Essa Revelação ocorre por que Deus quer realizar o seu plano de Salvação para os homens. Esse gesto quebra e justifica as conseqüências do nosso pecado, que é, acima de tudo, uma negação à Deus. Essa pedagogia da revelação nos ensina que não somos os autores de nossa salvação. Somos colaboradores, instrumentos de uma vida nova.
O orgulho humano é um movimento de negação de uma autoridade ou uma palavra externa em relação a nós. Julgamo-nos portadores da verdade. Quem possui pensamentos contrários aos nossos, sempre está errado. Nas palavras do sábio cantor, Chico Buarque: “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Cristo, no evangelho assume a sua figura sacerdotal. Ele é instrumento de uma salvação que provém do Pai. Ele não vem para ser o centro das atenções, e foge quando isso lhe é oferecido. “Vamos a outros lugares, nas aldeias das redondezas, afim de que, lá também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso que eu vim” (Mc 1, 38). Sua comunhão é com o Pai do Céu, que lhe deu a Missão de mostrar ao mundo a notícia da presença do Reino de Deus.
Porém, só poderemos compreender essa realidade se nos fizermos pontes para Deus, se aprendemos a entrar na “instrumentalidade” da nossa humanidade que deve ser reflexo do ato criador. Essa pedagogia foi compreendida por Jó. “Lembra-te de que minha vida é apenas vento” (Jó 7, 7). No sofrimento de sua vida, ele soube compreender a limitação da humanidade, de quanto ela era frágil para querer ser orgulhosa diante de Deus.
Movimento positivo é o realizado por São Paulo: “Assim, livre em relação a todos, eu me tornei servo de todos” (1 Cor 9, 19). O anúncio do Evangelho, para ele, era fruto de uma liberdade, uma obrigação que ele mesmo se impunha, pois sabia que individualmente, não seria capaz de construir uma Palavra de Vida. Ele se fez ponte e anunciava a salvação que vem do Alto.
Diante de uma humanidade prepotente em seu conhecimento, no grande poderio econômico ou em sua tecnologia super-avançada, olhemos para Maria. No silêncio de sua vida e na simplicidade de sua entrega, ela se fez instrumento, ponte no mistério salvífico de Deus. Não por meio de suas obras, mas por que soube se fazer instrumento de e para uma Vida Plena.

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