Quem
se exalta será humilhado (Mt 23, 12)
Depois de baixada a
poeira dos discursos e comentários – justos e injustos – sobre a morte do
ditador líbio Muamar Gadaf devemos refletir sobre esse fato. Não, porém, como
os veículos de comunicação demonstraram, mas com a tentativa de um olhar
cristão.
É incrível como em
pleno século XXI podemos ver imagens como as que foram escandalosamente
divulgadas pela internet. Se disséssemos que aquele fato ocorreu a mil ou dois
mil anos atrás, poderíamos chamar de barbaridade ou animalidade. Mas como
podemos dominar aquilo? Revolta? Irracionalidade? Justiça humana?
Naquele rosto
transfigurado não víamos um ditador, mas víamos um homem que gritava para
viver, pedia aquilo que tantas vezes ele tinha tratado como objeto ou nada. Ele
queria viver, ou, quando muito, sofrer pouco. Não podemos vibrar com a morte
daquele ditador, não devemos justificar aqueles atos de barbárie, mas também,
evidentemente, não temos nenhum direito de inocentar aquele que oprimiu seu
povo por anos.
Devemos, a partir
disso, construir uma visão evangélica dessa realidade. Vemos no centro de nossa
discussão alguém que quis definir a verdade e o modo de ser de um povo. Como
ditador, Gadaf dominou por anos a Líbia e ditou como bem queria as regras de
sua nação. Afirmou-se, portanto, ao mesmo tempo “mestre”, “pai” e “guia”.
Mestre porque afirmava
o que era certo e o errado para o seu povo, julgava-se definidor do bem e do
mal para todo o povo. Pai, quando sentia-se no direito de proteger o seu povo de
todas as ideologias que pudessem corromper a mente dos seus “filhos”. Guia,
pois apontava os caminhos que deveriam ser seguidos e que, certos ou não,
deveriam ser percorridos pelo povo.
Mesmo bárbara, sua
morte mostra a revolta de um povo que sofreu por muitos anos a opressão de um
só homem. Mais do que isso, apresenta o fim de todo modo absolutista de ver o
mundo, a queda de toda estrutura de domínio que visa massacrar o homem e
submetê-lo à vontade de um só homem ou uma só ideia.
Podemos ir muito mais
além, esse fato nos faz compreender que o projeto que se desenvolve em nossa
história é sempre de Deus, não podemos querer ditar o certo ou errado, o justo
ou injusto. E se o fazemos, haverá o momento em que Deus retomará o seu projeto
inicial: a salvação da humanidade.
Cristo apresenta-nos a
imagem do servo como aquele que sempre tem o homem como fim último de suas
ações. Não é o amor próprio, o desejo de estar sempre certo, ou a manutenção de
nossa própria visão de mundo que deve estar acima de tudo e todos. Pois “quem
se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado” (Mt 23, 12).
Olhemos para Maria e
vejamos nela o ícone dessa que soube se humilhar diante do projeto de Deus. Ela
que tinha diante de si todo um plano pessoal não se limitou a si mesma, ela foi
além. Aquela jovem sabia que seus projetos, por si mesmos, seriam falhos. Só na
obediência séria e integral à Palavra de Deus ela soube contemplar a presença
de um Deus que se faz homem, entra na história e coloca o homem diante do seu
caminho de Vida terna.
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