Todo homem nasce com um
projeto de vida que lhe é intrínseco. Diante do projeto de uma ordenação do
mundo que, do caos, se fez ordem, também entramos nessa dinâmica pala colocar
ordem em nossa existência. Não somos filhos do caos.
A nós é dado um corpo,
habilidades, dons, um contexto em possamos desenvolvê-los, pessoas com quem
podemos interagir. Temos uma inteligência e uma vontade, faculdades pelas quais
podemos organizar, manter e aperfeiçoar todas essas relações, para que colocarmos
uma ordem nessa nossa “vinha” (cf. Mt 21,33ss).
Porém, toda vinha precisa
de um administrador, precisa de alguém que a organize, que tenha uma visão
completa do espaço, que oriente o que deve ser feito. Alguém que não apenas
seja “dono” por direito da vinha, mas que tenha autoridade sobre ela por que a
conhece por completo, compreenda todas as “técnicas”, as limitações dessa
prática, os tempos oportunos de plantar, os momentos de espera e o dia da
colheita.
Porém, assumimos uma
falsa compreensão de que temos que ser os nossos próprios patrões. Queremos
tomar posse dessa vinha, ser os seus verdadeiros donos. A lógica quase sempre é
a mesma: “Se somos nós quem trabalhamos, nós devemos ter todos os direitos
sobre ela” (cf. Mt 21, 35-39). Falsa ilusão, já que nem sempre sabemos de toda
a logística que lhe é necessária, não temos uma visão total sobre ela, somos
apenas servos.
Mais do que isso,
rejeitamos esse administrador por que lutamos por um conceito vago de
“liberdade”, conceito esse que ainda não conseguimos definir ou determinar.
Queremos matar o próprio “dono” por que não queremos ouvir outra voz que não
seja a nossa.
Somos portadores de uma
vinha, mas não a possuímos por direito já que não fomos os responsáveis pela
sua realização, não a planejamos: ela é sempre gratuita. Algo que nos é dado
para a nossa administração. Mas virá o tempo em que o verdadeiro proprietário
virá para tomar posse daquilo que é dele (cf. Mt 21, 40). E nós, o que temos
para prestar-lhe contas?
Não aconteça que esse
administrador nos apanhe de mãos vazias, não aconteça que o próprio dono da
vinha nos surpreenda sendo tiranos de algo que é dele. Possamos apresentar a
ele os frutos justos do nosso trabalho para que recebamos o verdadeiro e justo
salário (Mt 21, 43).
Maria é esse paradigma de
serva, que não reclama ou rejeita a voz do seu dono, apenas obedece. Pelo seu
sim integral ela conseguiu gerar o verdadeiro fruto que gera a vida, seu
trabalho, mesmo que árduo, não foi em vão. Como ninguém, ela soube fazer de sua
existência um solo fértil onde germinou boa uva, uva que se fez vinho, sangue e
vitória...
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