sábado, 1 de outubro de 2011

Servos da vida


Todo homem nasce com um projeto de vida que lhe é intrínseco. Diante do projeto de uma ordenação do mundo que, do caos, se fez ordem, também entramos nessa dinâmica pala colocar ordem em nossa existência. Não somos filhos do caos.
A nós é dado um corpo, habilidades, dons, um contexto em possamos desenvolvê-los, pessoas com quem podemos interagir. Temos uma inteligência e uma vontade, faculdades pelas quais podemos organizar, manter e aperfeiçoar todas essas relações, para que colocarmos uma ordem nessa nossa “vinha” (cf. Mt 21,33ss).
Porém, toda vinha precisa de um administrador, precisa de alguém que a organize, que tenha uma visão completa do espaço, que oriente o que deve ser feito. Alguém que não apenas seja “dono” por direito da vinha, mas que tenha autoridade sobre ela por que a conhece por completo, compreenda todas as “técnicas”, as limitações dessa prática, os tempos oportunos de plantar, os momentos de espera e o dia da colheita.
Porém, assumimos uma falsa compreensão de que temos que ser os nossos próprios patrões. Queremos tomar posse dessa vinha, ser os seus verdadeiros donos. A lógica quase sempre é a mesma: “Se somos nós quem trabalhamos, nós devemos ter todos os direitos sobre ela” (cf. Mt 21, 35-39). Falsa ilusão, já que nem sempre sabemos de toda a logística que lhe é necessária, não temos uma visão total sobre ela, somos apenas servos.
Mais do que isso, rejeitamos esse administrador por que lutamos por um conceito vago de “liberdade”, conceito esse que ainda não conseguimos definir ou determinar. Queremos matar o próprio “dono” por que não queremos ouvir outra voz que não seja a nossa.
Somos portadores de uma vinha, mas não a possuímos por direito já que não fomos os responsáveis pela sua realização, não a planejamos: ela é sempre gratuita. Algo que nos é dado para a nossa administração. Mas virá o tempo em que o verdadeiro proprietário virá para tomar posse daquilo que é dele (cf. Mt 21, 40). E nós, o que temos para prestar-lhe contas?
Não aconteça que esse administrador nos apanhe de mãos vazias, não aconteça que o próprio dono da vinha nos surpreenda sendo tiranos de algo que é dele. Possamos apresentar a ele os frutos justos do nosso trabalho para que recebamos o verdadeiro e justo salário (Mt 21, 43).
Maria é esse paradigma de serva, que não reclama ou rejeita a voz do seu dono, apenas obedece. Pelo seu sim integral ela conseguiu gerar o verdadeiro fruto que gera a vida, seu trabalho, mesmo que árduo, não foi em vão. Como ninguém, ela soube fazer de sua existência um solo fértil onde germinou boa uva, uva que se fez vinho, sangue e vitória...

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