“Vede
as minhas mãos e os meus pés, sou eu mesmo” (Lc 24, 39)
A Igreja nascente
encontra o seu fundamento no Cristo ressuscitado. Ressurreição que implica
morte livre, liberdade de vida que há a necessidade de sacrifício, livre
entrega de si por aqueles que se ama. A ressurreição é, portanto, a confirmação
do projeto salvífico de Deus Pai, que redime o mundo pela morte de seu único
Filho.
Assim, afirma o próprio
Cristo: “[...] era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim
na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24, 44). A promessa de um
Messias que viria libertar o povo é cumprida, não porém, da forma esperada, não
da forma querida. Mas porque a dificuldade em compreender esse projeto? Por que
a dureza no coração em saber que o caminho da vida inicia-se com a cruz?
“Assim está escrito: o
Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome será
anunciada a conversão para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando
por Jerusalém” (Lc 24, 46-47). O cerne do kerygma
é o Cristo sofredor, aceito por Deus como oferta, vítima de expiação pelos
nossos pecados. Essa aceitação é confirmada por sua glória, por uma vida que
não permanece no fracasso. O Filho do Homem porta à toda a humanidade a salvação
pois abre o caminho para a verdadeira vida.
São Pedro, em seus
primeiros discursos, declara: “Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas
Deus o ressuscitou dos mortos e disto nós somos testemunhas” (At 3, 15). O
encontro com o Cristo ressuscitado, na experiência de suas chagas abertas, mas
curadas, gera em Pedro essa alegria do anuncio. O projeto não é humano, vai
além de nossas forças, vai além de nossas perspectivas. É ação de Deus que quer
realizar na humanidade uma nova criação, tendo Cristo como novo princípio, novo
Adão.
“Ele é a oferenda de
expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados
do mundo inteiro” (1 Jo 2, 2). Como Adão marca a humanidade com o pecado
original, com a desobediência que nega Deus e o relativiza, assim, Jesus, pela
entrega livre de sua vida na cruz reconcilia essa mesma humanidade com a sua
identidade original. Filhos de Deus.
Que nós também possamos
realizar o necessário encontro com Jesus ressuscitado. Que sua glória possa ser
vista mediante as suas chagas curadas. Feridas que definem uma nova humanidade,
restaurada pelo sacrifício da cruz, que marcam definitivamente o novo homem,
devolve a sua verdadeira imagem.
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