terça-feira, 24 de abril de 2012

Nova humanidade


“Vede as minhas mãos e os meus pés, sou eu mesmo” (Lc 24, 39)

A Igreja nascente encontra o seu fundamento no Cristo ressuscitado. Ressurreição que implica morte livre, liberdade de vida que há a necessidade de sacrifício, livre entrega de si por aqueles que se ama. A ressurreição é, portanto, a confirmação do projeto salvífico de Deus Pai, que redime o mundo pela morte de seu único Filho.
Assim, afirma o próprio Cristo: “[...] era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24, 44). A promessa de um Messias que viria libertar o povo é cumprida, não porém, da forma esperada, não da forma querida. Mas porque a dificuldade em compreender esse projeto? Por que a dureza no coração em saber que o caminho da vida inicia-se com a cruz?
“Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome será anunciada a conversão para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24, 46-47). O cerne do kerygma é o Cristo sofredor, aceito por Deus como oferta, vítima de expiação pelos nossos pecados. Essa aceitação é confirmada por sua glória, por uma vida que não permanece no fracasso. O Filho do Homem porta à toda a humanidade a salvação pois abre o caminho para a verdadeira vida.
São Pedro, em seus primeiros discursos, declara: “Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disto nós somos testemunhas” (At 3, 15). O encontro com o Cristo ressuscitado, na experiência de suas chagas abertas, mas curadas, gera em Pedro essa alegria do anuncio. O projeto não é humano, vai além de nossas forças, vai além de nossas perspectivas. É ação de Deus que quer realizar na humanidade uma nova criação, tendo Cristo como novo princípio, novo Adão.
“Ele é a oferenda de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro” (1 Jo 2, 2). Como Adão marca a humanidade com o pecado original, com a desobediência que nega Deus e o relativiza, assim, Jesus, pela entrega livre de sua vida na cruz reconcilia essa mesma humanidade com a sua identidade original. Filhos de Deus.
Que nós também possamos realizar o necessário encontro com Jesus ressuscitado. Que sua glória possa ser vista mediante as suas chagas curadas. Feridas que definem uma nova humanidade, restaurada pelo sacrifício da cruz, que marcam definitivamente o novo homem, devolve a sua verdadeira imagem.

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