segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Bom Pastor



“Eu sou o bom pastor” (Jo 10, 11)

O recente caso da liberação por parte do Supremo Tribunal Federal do aborto de bebês “anencéfalos” traz consigo uma grande problemática: o valor da vida humana frente à sociedade. Por trás dessa decisão há uma grande filosofia de fundo, que compreende a pessoa humana pelas suas habilidades, pela sua “viabilidade”.
A imagem do Bom Pastor é essencial para compreender o pensamento da Igreja diante dessa realidade: “o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10, 11). Eis a grande postura daquele que é chamado a estar à frente de uma comunidade: doar-se em favor dos outros, compreender o valor da vida humana em sua essência, não em sua utilidade.
Vivemos, entretanto, em uma sociedade mercenária, que não interessa com a vida humana, que vê apenas a sua utilidade, enfim, que “não se importa com as ovelhas” (Jo 10, 13). É essa a mentalidade que permeia uma postura daquele que descarta a vida humana quando ela ameaça algum sofrimento para aqueles que a rodeiam. Que retira do homem todos os possíveis obstáculos que ele possa oferecer, que o lança fora quando ele não pode contribuir para o “bem comum”.
“Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem” (Jo 10, 14). Cristo é o Bom Pastor por que conhece as suas ovelhas, há uma relação interpessoal com aqueles que é a ele confiado. Conhecendo, ele é capaz de dar a vida por elas. Não há aproveitamento em sua postura, pelo contrário, há um gastar-se de si mesmo em benefício dos outros. Há um viver em função do outro.
“Por isso o Pai me ama. Porque dou a minha vida para retomá-la” (Jo 10, 17). Porém, não se dá aquilo que não tem. Cristo, só dá a sua vida por que a possui, por que a tem em suas mãos. Ele não se deixa manipular pelos seus interesses, pelos seus gostos pessoais, pelas suas necessidades particulares. Ele possui a si mesmo, por isso doa-se.
Só uma sociedade livre dos seus interesses particulares pode começar a pensar no valor da vida humana em sua dimensão fundamental. Só entre indivíduos que possuem a si mesmos, por que estão livres de interesses que deformam as suas opções, pode reinar a verdadeira gratuidade interpessoal, presente no bom pastor.
Cristo é o Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, que dá a vida por elas. Ele é o paradigma para a uma sociedade que esquece o valor da vida humana, que a vende, a troca, que a lança fora... É paradigma de um novo rebanho, com um só pastor.

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