domingo, 18 de setembro de 2011

Além do “certo”


No domingo passado o mundo lembrou os dez anos dos atentados terroristas de 11 de setembro. Aquele fato que, com certeza, marcou a humanidade também criou um discurso duvidoso: o mundo ocidental tinha sido violentado pela cultura oriental. A vítima deveria urgentemente revidar. E assim o foi.
Estava sendo esquecido, entretanto, que estava havendo uma cultura de anos de intransigência, invasão simbólica e negação de toda uma história cultural, política e humana.
Não se afirma, com isso, a legitimidade ou a moralidade daqueles ataques que nunca deixarão de ser máculas contra a humanidade, mas aponta-se para uma recíproca realidade de intolerância cultural. Se, por um lado, o mundo ocidental revida um ato terrorista realizado contra ele, está sendo mantido um círculo vicioso de intolerância e violência contra a humanidade.
Tudo isso parte de uma cultura marcada pela intransigência, quando não se compreende que as outras culturas também podem ser valorizadas por anos de evolução, qualidades e também limitações. Se apenas o meu modo de ser e viver é o correto, conseqüentemente, o outro passa a ser ignorante e, a partir disso, cria-se uma ideia de falsa caridade, onde o outro ele deve ser corrigido.
Deste modo, podemos compreender porque que essa estrutura intolerante, extremismo cultural, fanatismo religioso ou intransigência política não entram nos padrões daqueles que buscam seguir a Palavra de Deus. Assim, fala Deus pela boca do profeta Isaías: “os meus pensamentos não são os vossos pensamentos e os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8).
Não temos a capacidade de dizer o que é o certo ou o errado. Só Deus tem essa possibilidade. É nesse mesmo sentido que Paulo compreendeu o modo de ser cristão. Ele tinha criado um paradoxo em sua existência. Qual era a melhor opção na existência humana: morrer, para estar próximo do Cristo, plenitude da humanidade ou viver, para ser espelho dessa Palavra para os irmãos?
O Apóstolo só compreendeu a verdadeira opção quando olhou verdadeiramente para Cristo, não era um ou outro o caminho melhor a ser seguido. Porém, como ele mesmo aponta: “Comportai-vos de modo digno segundo o Evangelho de Cristo” (Fl 1, 27). Em Cristo já se realizou toda uma palavra de Verdade, todo um caminho a ser percorrido.
A pergunta pode persistir: Qual o modo correto de se viver? Em qual cultura está a verdadeira vida? Nossa fé afirma Cristo como Caminho de salvação, Palavra que é plenitude de uma Verdade que aponta para a perfeição de uma vida. Porém, não deve ser da personalidade cristã saber quem vai ser salvo ou quem não seguiu Cristo, quem está ou não obedecendo aos mandamentos da Igreja, quem está ou não inserido nela.
No evangelho, Jesus quebra com essa lógica humana de uma vida aparentemente certa ou errada: “Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 16). A dimensão essencial da vida humana está em viver essa Palavra de Vida que se fez Caridade, Doação e Sacrifício na pessoa de Cristo Jesus.
Olhemos para Maria, ela nos ensina a desenvolver uma perspectiva central de nossa fé. O escândalo da cruz poderia se motivo de revolta para ela. Porém, se estamos falado da realização de um projeto divino, a plenitude de uma vida já estava sendo realizada no último suspiro de seu Filho. Maria, na dor, já estava a compreender o mistério da ressurreição.
Do mesmo modo, que nós também possamos abraçar essa Palavra de Deus, que se faz homem em Jesus Cristo. O seu modo de ser e viver deve ser luz diante de um mundo marcado pela intolerância cultural, religiosa e política. O maior movimento de justiça que Cristo faz para conosco é sempre o mesmo: amor-caridade. Façamos o mesmo.

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