“Tenham em vós os mesmos sentimentos que Cristo”
(Fl 2, 5)
Por que será que Jesus
disse aos fariseus e aos doutores da lei que os “publicanos” e as prostitutas
os precederiam no Reino dos Céus? Talvez porque se ele dissesse que os santos
seriam os primeiros a contemplarem Deus, seu discurso não faria nenhum efeito.
Ela não teria nenhum
resultado não por que fosse mentira – já que a lógica é essa – mas porque seu
discurso seria consolador, justificador para aqueles que acreditam que, apenas
cumprindo uma regra, estão realizando a vontade de Deus.
Nós não viemos ao mundo
com o objetivo de “não pecar”, mas sim de fazer a vontade de Deus Pai. É nesse
mesmo sentido que podemos entender os mandamentos não como regras de um jogo,
mas como direcionamentos de vida.
Ele não é regra porque,
nesse caso, não haveria perdão para que o infligisse. Ele é proposta de um
caminho pelo fato de que, basta aquele que está desviado dar um passo
atrás e seguir a vereda correta, para
estar novamente na ordem justa de sua vida.
“Mas Deus não estaria
sendo injusto para comigo se perdoa meu irmão que cometeu este pecado que eu
nunca pratiquei, apenas pelo fato de que se arrependeu?”
Esse outro foi perdoado
porque voltou os olhos para a Verdade, enquanto eu continuo com uma visão
desviada pelo juízo alheio e cega com o meu próprio orgulho e pela minha falta
de caridade que me faz querer ser “como Deus”. Diante disso, é o próprio Deus
quem responde: “Não é reta a minha postura ou, pelo contrário não é reta a
vossa?” (Ez 18, 25).
Ter em nós os mesmos
sentimentos que os de Cristo é fazer nascer em nós aquela dimensão que o fez
plenamente homem, mistério de uma encanação a partir de um Deus Amor. Porque
era obediente ao Pai, Ele sabia perdoar os seus irmãos no mesmo amor que tinha
recebido. E se Jesus é mistério de amor de um Pai que buscava justificar os
homens, ele é a encarnação da própria humildade: Deus que se faz homem, homem
que se faz pão, alimento que sacia, nutre e gera forças, força de humildade,
santidade e justificação.
Ser humilde, entretanto,
não é imaginar que não existe pecado ou negação de Deus, tampouco pensar que
ninguém será condenado. Ser humilde é acreditar que todo homem pode voltar os
olhos para Deus Pai, é deixar de buscar a condenação alheia e procurar
justificar a minha justificação. Ser humilde é se colocar na postura de filhos.
Filhos que refletem o amor do Pai. Pai que ama a todos e busca acolher todo
aquele que o procura de coração.
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