Nessa semana que passou comemoramos o dia 07 de setembro. Para nós Brasileiros é a memória do grito de nossa independência como colônia de Portugal. A partir do ano de 1822 nosso país se distanciou de considerável parte das influências políticas e econômicas do Estado que o dominava.
O homem, como indivíduo político é sempre um ser de relações. Tais interações condicionam muitos de seus gestos e posturas. Ele, para satisfazer ou negar determinados contextos sociais modela suas próprias ações sempre em virtude dos outros. Em última instância, por ser homem histórico, ele está sendo sempre condicionado a um determinado conjunto de posturas.
Não podemos discutir, nesse sentido, uma liberdade absoluta do homem, mas uma liberdade que o permite interagir de diversas formas com o mundo que o envolve. Essa faculdade tem como conseqüência as responsabilidades morais e políticas resultantes desse agir.
Entretanto, os discursos que vemos surgir em muitos contextos acadêmicos, midiáticos e políticos é a exigência de uma liberdade que visa quebrar com todos os princípios já construídos pela sociedade. O homem deveria ser “livre” para pensar e, nesse caminho, qualquer norma já constituída apresentaria um perigo e deveria ser anulada.
O termo antagônico mais claro para a liberdade é o de escravidão. O problema da falta de liberdade não está na existência de realidades já pensadas, mas no fato de que tais estruturas impedem o indivíduo de pensar e, conseqüentemente, viver.
O homem não deixa de ser livre com a existência de filosofias tradicionais, dogmas teológicos ou regras sociais. Ele é escravo quando seu movimento busca apenas negar tudo, apenas por orgulho, e que sua tese deve se sobrepor às demais. Nesse sentido, o seu modo de pensar está sendo escravo de si mesmo. Sua própria soberba o domina.
Jesus usa a dinâmica do perdão contínuo (cf. Mt 18, 22) para ilustrar a necessidade de homens realmente livres. O ódio ou um preconceito lançado contra alguém é sinal de um julgamento a partir de categorias isoladas próprias, conceitos “pré-determinados”. O ódio contra o outro passa a ser alimentado por uma espécie de “pré-juízos”. Eu me torno um escravo de meus “pré-conceitos”.
A sabedoria do Antigo Testamento justifica essa dinâmica do perdão: “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar” (Eclo, 27, 6). Estamos todos dentro de uma mesma estrutura biologia, cultural, econômica, social... Todos sofremos semelhantes influências, corremos os mesmos riscos, podemos cair nos mesmos erros que condenamos.
É nesse sentido que o perdão tem um caráter pedagógico duplo e, conseqüentemente, necessário. Primeiro: ele permite que nos libertemos de nossos preconceitos, compreendendo o outro sempre como um mistério a ser contemplado, não determinado. Segundo: coloca-nos em um contexto objetivo de comunhão, eu posso sofrer as mesmas dores do outro, desenvolver as mesmas dificuldades.
Maria bem nos esclarece a realidade do perdão. Diante da cruz ela não se rebela contra os algozes do próprio filho. Ela entra em comunhão com o mistério da obediência de Cristo. O silêncio de Jesus confirma o seu. Diante da cruz ela antegozava o mistério da ressurreição em um ambiente em que só se podia ver sofrimento, desgraça e isolamento.
Com isso, perante discursos que exigem uma liberdade sem norte, que nós possamos buscar um caminho único para seguir. Ao encontrá-lo, podemos abraçá-lo ou não, escolher outras veredas. Mas uma certeza devemos ter: a salvação da humanidade iniciou quando um homem, aparentemente preso à dor e à eminente morte, entrega a sua vida como instrumento de plena libertação.
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