“Eu venho habitar no meio de ti” (Ez 2, 14)
É equivocado pensarmos
que Deus pode tudo. É errado por que ele não pode negar-se a si mesmo já que é
realidade perfeita. E, como ele é Amor ele não pode deixar de realizar sua
própria natureza.
Nesse sentido, o “mal”
que surge no mundo é uma realidade de opção. Somos nós que escolhemos não amar
a Deus, somos nós que optamos por não seguir a sua Palavra e o caminho que ela
aponta. Aqui está a impotência do Amor, ele não pode contradizer-se a si mesmo.
Nós optamos por não amar
a Deus quando invertemos – conscientes ou não – a realidade que optamos,
optando pela criatura no lugar do criador, trocamos o meio pelo fim. O
movimento contrário ao de olhar para a Suprema Perfeição é, evidentemente, o de
olhar para a imperfeição. E não há nada que conhecemos de mais imperfeitos do
que nós mesmos, já que somos os que mais conhecem essa realidade interior.
Porém, muitas vezes
parecemos esquecer esse olhar interior e nos colocar como eixo para o qual tudo
deve estar voltado. Queremos, muitas vezes, manter o domínio das situações,
manipular pessoas, tiranizar reações e definir relações. Eu me torno um
soberano de um mundo criado à minha própria projeção.
O profeta Zacarias
apresenta um homem de domínio: ele quer conhecer a sua realidade e limitá-la
por sua própria compreensão de mundo. Esse movimento reflete o próprio
“ego-ismo”, o “eu” torna-se doente por que não consegue mais ver um mundo
exterior ou a sua interação com ele.
Os discípulos, quando
Jesus apresentou a realidade de sua paixão (cf. Lc 9, 44), não entenderam e
tinham medo de perguntar. Não entendiam por que estavam confusos como domínio
de seu próprio “eu”. Tinham medo de perguntar porque a resposta poderia descaracterizá-los,
desfazer todo o “mundo” que eles tinham criado tendo a si mesmo como eixo
definidor.
A realidade da Paixão de
Cristo apresenta uma grande resposta ao nosso egoísmo. Deus se fez amor e
quebra com um “eu” centrado em si mesmo e com um desejo de domínio.
A cidade sem muros (cf.
Zc 2, 8) apresenta a imagem desse mesmo Deus que ama e, portanto, acolhe. Esse
amor não pode ser quantificado ou qualificado. Ele é sempre capaz de acolher
todo aquele que busca essa realidade que se faz presente, unifica e cria a
possibilidade de comunhão.
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