segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cristo Rei, Rei Pastor


Celebrar a Solenidade de Cristo Rei é vivenciar a experiência de um Deus que possui uma forma diversa de domínio. Esse se constrói sob a ação do pastor que ama integralmente as suas ovelhas. Ama-as tanto protege as que estão ao seu lado, busca as que se desviam, mas não as prende sob uma posse opressora. Essa aproximação desenvolve-se de modo tão pleno que torna-se identificação, comunhão plena entre pastor e ovelhas.
Dentro de um mundo tão marcado pelo poder econômico, político e ideológico, é construída uma estrutura de domínio. Esse movimento, mais do que manifestação de uma organização social, apresenta um movimento unidirecional e, conseqüentemente, opressor. A ordem social torna-se poder injusto, pois realiza-se sob o interesse de uns em detrimento aos direitos de muitos outros.
Cristo é Rei porque apresenta um domínio fundado na imagem do pastor. O profeta Ezequiel fala em nome do Senhor: “Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas às pastagens e as farei repousar” (Ez 34, 15). Um pastor não é aquele que oprime as suas ovelhas, mas busca o seu bem. É assim, que surge a sua autoridade real, não por meio de um poder sobre os outros, mas para os outros.
Esse agir em função das ovelhas gera uma nova relação de domínio. O pastor guia as ovelhas, corrige caminhos, cura as que estão doentes, busca as que se dispersam nos momentos de escuridão (cf. Ez 34, 12), mas tudo dentro de um ambiente de liberdade. As ovelhas podem correr mais do que o pastor, dispersarem-se, não querer estar perto dele, buscar outras pastagens, outros pastores.
O próprio pastoreio se desenvolve de uma forma diversa. Pastor não só guia as ovelhas, mas chega ao ponto de confundir-se com elas, entra em uma comunhão tão plena que sente as suas necessidades, os seus sofrimentos e as suas dores: “Em verdade vos digo: tudo aquilo que fizestes a um desses meus irmãos menores, fizestes a mim” (Lc 25, 40).
É assim que Cristo se afirma Rei. Rei que se faz pastor, pastor que se faz um com os seus, ao ponto de assumir a comunhão plena entre rei e servo: amor que se faz serviço, serviço que gera vida, porque olha além de si.
E é nesse olhar além, que as contradições e tudo aqui que gera morte vão sendo destruídos. Se a ambição ou o egoísmo do pastor geraria a perdição e conseqüente morte de suas ovelhas, a sua plena comunhão com elas dá vida plena. Os inimigos são vencidos quando o pastor está próximo às ovelhas, somos protegidos quando estamos próximos ao nosso Pastor.
Assim, afirma São Paulo: “É necessário que ele reine até que todos os teus inimigos estejam sob os seus pés” (1 Cor 15, 25). Na medida em que esse pastor se faz um com os seus, ele torna-se cordeiro. Doa-se em sacrifício, coloca-se em perigo e salva aqueles que foram a Ele confiados. Ele engana e destrói o inimigo que queria a sua ovelha.
Saibamos olhar para Cristo Rei e vejamos nele o ícone do verdadeiro domínio que se faz sob o pastoreio daquele que se faz um com os seus. Não vemos nele um pastor que explora as suas ovelhas, as oprime sob o seu interesse, mas caminha com elas rumo às verdadeiras pastagens, àquelas que geram vida, “vida eterna” (Mt 25, 46).

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