“Portanto,
ficai atentos e orai a todo o momento” (Lc 21, 36)
O texto nos apresenta
uma necessidade tão esquecida em nossos dias: a perseverança. Viver na
expectativa da chegada do filho do homem nada mais é do que estar em constante
prontidão, sempre dispostos a esse julgamento. A vida de graça, tão esquecida
nos dias de hoje, nada mais é do que uma existência que esquece a constância da
fé que se abraça, do seu sentido e das conseqüências que ela implica.
E um mundo que prega
uma vida frenética, o “aproveitamento” do dia como se fosse o último,
esquecemos de que não somos objetos, não fomos criados
para ser “gastados”, mas modelados, aperfeiçoados. Temos muito mais do
que matéria e é esse “além” que nos torna homens capazes de perfeição. Isso,
porém, implica busca, luta, sacrifício, constância no viver uma experiência
diversa da que somos acostumados, uma vida com os olhos no Fim.
A pergunta que podemos
fazer é: e se o dia do nosso juízo fosse hoje, se fossemos chamados a “prestar
contas” de nossa existência ao Justo Juiz, que portaríamos? Apenas uma vida
cheia de sentimentos, múltiplas experiências? Muitos caminhos, mas nenhum fim?
Viver a vida como se
fosse o último é viver como se o nosso julgamento fosse hoje. O tempo, construído
do passado que me constitui e do futuro que me motiva, se relativiza, ele
desaparece diante de Deus. Viver, portanto, nessa esperança, é estar na
história, apreender os seus mecanismos, mas também saber ir além dela e olhar
para aquela Palavra que foi pronunciada no tempo, mas rasgou-se com o mistério
da morte e ressurreição.
Existem duas formas de destruir a misericórdia: eliminando o pecado e eliminando o perdão. Estas são precisamente as duas atitudes mais comuns nos dias que correm. Numa enorme quantidade de situações não se vê nada de mal. Naquelas em que se vê, não há desculpa possível. As acções do próximo ou são indiferentes ou intoleráveis. O que nunca são é censuradas e perdoadas. O que nunca se faz é combinar o repúdio do pecado com a compaixão pelo pecador.
ResponderExcluirEm Cristo encontramos essa conciliação. Entretanto, o conceito de perfeição - tão caro a muitos - não é oposto à misericórdia, mas o confirma. Ser Perfeito é assumir a plenitude de uma existência que nos é dada, mas essa perfeição também nos ajuda a compreender criatura e criador em seus respectivos lugares. Buscar a perfeição não é negar a misericória, mas andar em uma via mais firme do que a corda bamba do juízo a ser feito sobre pecador. Nela é melhor o silêncio que deixa falar o justo juíz.
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