quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Silêncio: o caminho da cruz


Quem assiste ao horário eleitoral gratuito, à propagandas nos diversos meios de comunicação ou participa de comícios realizados pelos candidatos a cargos públicos nesse período eleitoral se depara com um alto número de julgamentos e críticas em relação às oposições.

É gasto muito tempo acusando as limitações dos outros, as suas ineficiências políticas e as falhas de um passado pessoal, ou seja, tenta-se vencer provando que o outro é incapaz, e que quem critica tem menos erros, por isso, deve ser eleito. Nesse movimento, é esquecida a atitude essencial de quem quer trabalhar pela comunidade por meio de um regime representativo: as propostas de governo.

É deixado de lado o fato de que estamos precisando mais de atitudes do que de pensamentos. Necessitamos mais de propostas concretas do que de análises sociais vagas, muito menos de críticas destrutivas aos erros alheiros.

É evidente que esse é um jogo político aceito por considerável parte da população. Isso porque ela também está envolvida em uma estrutura social que preza pelo olhar externo em relação a um primeiro progresso pessoal interior.

O livro da sabedoria é enfático ao dizer: “os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas” (Sb 9, 14). Estar diante do outro é estar perante o reflexo da atitude criadora de Deus, portanto, de um mistério divino. Lançar conceitos sobre alguém é julgá-lo, é querer conhecer todas as condições que envolvem o outro e o fazem tomar qualquer postura.

O caminho para superar esse ajuizamento sobre o outro é apresentado pelo próprio Cristo, nas palavras de Lucas: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 25-27). Caminhar segundo os passos de Jesus Cristo implica, portanto, um despojar-se, um calar-se diante do mistério do Outro, manifestado pelas ações humanas e sociais.

Ser discípulo é caminhar segundo um mestre, seguindo os seus passos. Jesus realizou o caminho de obediência à vontade do Pai: ser Palavra de Deus entre os homens. Nós, como criaturas, devemos confirmar a nossa condição querida por Deus: homens plenos. Essa plenitude não pode ser construída se não tivermos em mente que temos uma cruz a levar. Carregá-la já requer um esforço extremo, olhar para fora ou para as cruzes alheias torna seu peso insuportável.

O despojamento significa que nossos bens, habilidades, conhecimentos e até mesmo nossos laços humanos não são capazes de trazer felicidade para a nossa vida, não são, portanto, um fim em si mesmo. Se eles não são instrumentos para realizar a vontade de Deus, algo está errado e deve ser corrigido.

Silenciar diante desse mistério é a verdadeira atitude que devemos ter diante de muitas realidades que enfrentamos e que não podemos solucionar, pois vai além de nossa humanidade. Deixar-se conduzir por essa proposta Divina de humanização do homem é o verdadeiro caminho.
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Maria é o nosso modelo maior de silêncio. Ela soube calar-se diante da promessa de que a geração de Jesus traria sofrimento para a sua alma. Ela guardou no coração o fato de que seu filho tinha uma missão extraordinária. Soube também chorar silenciosamente a dor do Cristo, morto numa cruz, pois sabia que a verdadeira vida estava além daquele fato.

Que nós possamos, a partir desse exemplo, aprender a silenciar diante do outro. Ele é a manifestação de um Deus que vai além de nossas compreensões e julgamentos. Saibamos olhar mais para nós, para a nossa cruz e buscar o verdadeiro sentido de vida que está na obediência à nossa verdadeira missão: ser homens perfeitos, homens felizes.