terça-feira, 29 de dezembro de 2009

“E o que você fez?”

As festas de fim de ano, em sua essência, têm a função de nos fazer olhar para trás e avaliar todas as nossas posturas no ano que está para ser encerrado. Todavia, em uma estrutura social que racionaliza, quantifica e tudo transforma em mercadoria lucrativa, parece que estamos a perder o “espírito do natal” ou a esperança em um “ano novo”.

Mais do que um momento de repensar e projetar novas perspectivas para o ano que se inicia, as festas de Natal e de Ano novo tornaram-se, para muitos, uma grande comemoração com trocas de presentes, grandes festas e muita alegria... O desejo sempre é o mesmo: “muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender...”.

Estamos, a cada dia, perdendo o sentido dessas comemorações, burocratizamos tudo o que é posto à nossa frente. Porém, ao tratar todas as relações como produto comercializável, perdemos de crescer com o significado que cada uma delas nos mostra.

Até mesmo as simpatias que alguns praticam são marcas de uma busca por um “bem estar” a ser trocado – quando não comprado – por uma ação qualquer. Mais do que uma crença sem fundamentos, elas refletem a nossa falta de esforços e sacrifícios para construir o que desejamos.

E o que fazer para encontrar a felicidade que tanto procuramos? Com a palavra, um mensageiro de Deus: “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12). A mensagem mais clara, concreta e viva de salvação que Deus nos dá e que nos faz encontrar verdadeiro sentido para a nossa existência está na pessoa de Seu filho Jesus Cristo.

A imagem do nascimento da criança num espaço pobre nos lembra que a construção de uma vida bem-aventurada não se faz com grandes realizações. O recém-nascido mostra-nos a novidade e a esperança que está por trás de cada nascimento e renovação.

A primeira postura a ser realizada por aquele que quer ter uma nova vida é a de olhar para trás, pois não há maior e melhor mestre do que o passado. Aprender com os erros e acertos já praticados é a garantia mais segura de que podemos aperfeiçoar tudo o que já fizemos. A segunda, e mais essencial, é a “oração dos sábios”: o silêncio. Somente por meio da reflexão crítica podemos avaliar todas as nossas decisões passadas e, aperfeiçoando-as, criar novas estratégias para renascer a cada momento de nossa existência.

Neste Natal, possamos nascer para uma vida nova, não por meio de uma esperança vaga e utópica, mas com decisão e vontade de lutar para que ela seja sempre o maior valor de nossa sociedade. Um menino está para nascer, não somente no Natal, mas em cada um de nós. A esperança que ele nos traz é a certeza de que podemos, a cada dia, renascer para um novo modo de olhar o mundo e agir sobre ele.

Que o Espírito do Deus que se encarnou em nossa humanidade nos faça acolher a mensagem de humildade e esvaziamento de nossos próprios desejos em função do bem de todos. Possamos olhar, em sua simplicidade, a grandeza que está por trás de pequenos gestos de bondade que são realizados a nossa volta.

Que 2010 não seja mais um ano a ser superado somente com atividades sociais e profissionais. Que ele venha com o Espírito santo e santificador de Deus, que está sempre pronto para renovar nossa realidade, basta estarmos abertos a Sua mensagem. Estejamos preparados para tornar a realidade divina presente em nossa humanidade por meio de nosso cotidiano Sim ao outro, a vida, a Deus.

Façamo-nos pobres e obedientes para que o Deus de infinita perfeição possa novamente entrar em nossas existências. Com o espírito do Deus Criança, possamos tornar este ano que está para ser iniciado um momento realmente novo, na contínua esperança da construção de um mundo mais humano e fraterno.

Para que este Natal seja concretamente santo, precisamos estar abertos à novidade de sua proposta e para que 2010 seja abençoado, precisamos lutar a fim de que ele seja realmente Novo.

Um Abençoado Natal!
Um 2010 realmente Novo!



[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, EDIÇÃO ESPECIAL, 26/12/2009]

Para além de si


O desenvolvimento técnico-científico de nossa sociedade parece não estar favorecendo um progresso humano integral. Certas manifestações sociais provam que o homo sapiens sapiens tem mais demência e animalidade do que se imagina. Tais ações, motivadas pelos instintos, aproximam o indivíduo à feras sem razão e os distanciam cada vez mais de uma evolução verdadeira do homem, centrada no seu aperfeiçoamento gradativo.

Nos últimos fins de semana a mídia mostrou insistentemente as ações dos torcedores de futebol depois do campeonato brasileiro ao praticarem atos de vandalismo dentro e fora dos estádios com “rivais” de torcida ou mesmo com outras pessoas que não tinham culpa alguma por tal conflito. Nem mesmo os policiais escaparam de tal gesto irracional. Eles, que tinham o objetivo de proteger a população, foram perseguidos e violentados por uma revolta sem motivos ou uma justificação lógica.

Mais recentemente, o primeiro ministro da Itália, Berlusconi, sofreu um atentado pelas mãos de um homem que apenas não concordava com seu jeito de administrar o país. A “solução” proposta por ele foi o arremesso de um souvenir de metal no presidente.

Quantos outros souvenires ainda serão jogados em chefes de Estado para manifestar contrariedade aos seus atos políticos? Um sapato na cara, uma pedra, madeira ou metal solucionam mesmo os problemas sociais enfrentados pelo homem? O diálogo democrático, que custou muitos anos e vidas para ser construído parece estar sendo esquecido em função de ações instintivas, sem planejamento ou inteligência alguma.

Muitos homens parecem estar esquecendo de que têm uma arma muito mais letal contra qualquer injustiça social ou política na sociedade: a razão. Por meio dela, os indivíduos podem interagir entre si e, por meio de conflitos políticos, acharem soluções para as dificuldades comuns. A violência é o instrumento utilizado por quem não tem mais forças racionais para lutar. O problema é que muitos nem mesmo iniciam um esforço de diálogo lógico, vão logo para a luta física.

Nesse movimento degradante, o homem vai perdendo a capacidade de evoluir integralmente, ou seja, ao mesmo tempo emocional, biológica, psicológica, intelectual, política e espiritualmente. Deixa-se de lado uma instância de busca comum, que a concepção cristã bem chama de Deus, e se procura uma solução motivada por desejos particulares e instintivos dos indivíduos. O homem parece arrogar-se diante do mundo, se sentido seu dono e podendo fazer o que bem entende, porque nele tem “direitos”.

A imagem de Nossa Senhora parece ir de encontro a toda essa concepção centralizadora do homem nas ações sociais e políticas. Ela consegue ser exemplo, não porque gerou o Filho de Deus, mas porque acreditou na mensagem do Anjo e aceitou o desejo do Pai. O segredo dela, portanto, não estava na participação direta no mistério da encarnação de Deus, mas por assumir a pequenez em ser serva do Senhor. A jovem de Nazaré não desejava ser protagonista da ação salvadora Divina, mas o foi por que soube pôr-se no seu lugar: o de criatura.

Diante de um mundo marcado pelo egocentrismo e pelo individualismo, possamos ver em Maria a imagem daquela que foi bendita entre todas as mulheres da terra (Cf. Lc 1, 42) porque acreditou em Deus (Cf. Lc 1, 45) e se entregou aos seus planos. Com as próprias forças o homem nunca pôde e nunca irá muito longe. Somente por meio de alguém que unifique os olhares dos povos e os direcione na busca de um só caminho é que se pode verdadeiramente tornar possível a justiça e a paz na sociedade. Esse alguém, sem dúvida, está encerrado na pessoa de Jesus Cristo, realidade perfeita encarnada em nossa humanidade.

Para atualizar tal mistério, faz-se necessário seguir os passos de Nossa Senhora que, no seu silencio, obediência e humildade, soube tornar concreto o Verbo de Deus no mundo humano e ser participante direta no processo de redenção dos filhos de Eva.

Abrir-se para Deus

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A Igreja comemorou no último dia 08 a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Mais do que contemplar que a concepção de Maria ocorreu sem a interferência humana e que, por isso, Deus a preservou de qualquer mancha de pecado, faz-se necessário compreender a atitude de Maria diante de tal realidade. Ela abriu-se para Deus e Ele pôde vir até nós.

Estamos vivendo na cultura que é marcada pelo mais fácil, do individualismo, do subjetivismo, da busca por um bem estar isolado sem valores morais que possam dar norte a todas as ações. Quando o homem assume tais atitudes em sua vida, perde o seu caráter humano, isto é, aquilo que o torna diferente de todos os animais. Queremos fazer tudo o que desejamos, como quisermos, onde quisermos, como quantas vezes acharmos necessário... Chamamos isso liberdade. Esquecemos que são os animais que agem somente por instintos e não refletem suas ações, nem as têm motivadas por intenções, regras, normas e limites.

Quando vemos uma jovem que prematuramente se vê grávida e deseja um aborto, muitas vezes justificamos tal ato pelo fato que ele é “dona” de seu próprio organismo, ela é livre para fazer o que quiser. A pergunta central deve ser feita: Temos realmente poder ilimitado sobre nossas vidas? Podemos controlá-la completamente?

A resposta negativa se dá pelo fato de que há uma realidade que ultrapassa o homem, o abraça, uma Inteligência Perfeita que cria todos as pessoas e as atrai para Si. Tal realidade a teologia cristã chama Deus. Ele nos propõe um modo de viver fundado na pessoa de Seu filho, Jesus Cristo. A obediência em se seguir um caminho pensado e traçado por Deus é a certeza de que chegaremos até Ele, assim como Nosso Senhor o fez.

Maria, ao receber a proposta da encarnação do Verbo, não aceitou de modo inquestionável, ela não compreendeu como aquilo se daria e temia por sua comunidade, que valorizava a gravidez de uma mulher sem marido. Porém, a jovem de Nazaré estava aberta aos planos de Deus, ela sabia que se a proposta era realmente divina, não teria o que temer. Acima de tudo, Maria sabia que seu corpo não era seu, mas pertencia a uma estrutura organizadora maior, a um Plano mais amplo e complexo. Deu-se, assim, início o processo da salvação da humanidade.

Muitas vezes, o homem disfarça sua liberdade pensando que ela consiste em se fazer tudo que for possível, que ele é senhor do mundo. Entretanto, sua humanidade o condena, ele é material, limitado, ele não pode ser Deus.

Diante de tudo isso, a abertura é a exigência primeira do homem que quer seguir uma ordem social mais ampla do que seus limitados desejos. Abrir-se para ver os caminhos propostos pelos bons exemplos são alternativas diante de uma postura egocêntrica, individual. Aprender com o que o outro sempre tem a nos ensinar é saber ver a manifestação de Deus em nossa realidade. Por ter os homens dons diversos, aprender com os outros é tornar possível uma aproximação com o Divino.

Maria foi aquela que soube aprender. Diante de um mundo marcado pelo senhorio de todos os homens, ela soube ir além, sendo serva não só de Deus, mas de todos os homens. Sua humilhação representou a total entrega aos planos de uma realidade maior, que a transcendia e que, por isso, sabia o que era certo para ela e para o mundo. Humilhar-se não representou, para Maria, baixar-se, mas esvaziar-se de todos os desejos, pretensões e pré-conceitos para saber que havia algo mais amplo do que ela mesma, algo de mais superior a ser atingido. Aceitando Deus, ela se aproximou dele e tornou-se Santa.

Nossa Senhora só pôde gerar Deus por que estava vazia de si mesma. Do contrário, Deus não caberia se houvesse desejos particulares ou o sentimento de ser dona de si. O “faça-se” de Maria veio associado ao “eis-me aqui”. Cristo só se encanou porque ela permitiu que assim o fosse, porém tal permissão não foi uma ordem, mas uma kénosis, ou seja, um total esvaziamento pessoal, realmente livre.

Que saibamos aprender com a Virgem Maria a tornar presente Deus em nossa humanidade. Para isso, faz-se necessário abrir ao que Ele tem a nos ensinar por meio dos homens. Cada pessoa tem uma habilidade diferente. Juntas elas tornam possíveis a idéia de perfeição. Aprender com cada homem é tornar possível a santidade em nossas vidas, aproximando-se do verdadeiro sentido da nossa existência que é o fato de estar em comunhão com a Suprema Perfeição.

Abramo-nos e sejamos santos, esvaziemo-nos e nos tornemos perfeitos!
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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 185, 19/12/2009]

domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma voz no deserto

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Quando muitas pessoas vêem a Igreja se pronunciar sobre temas muito polêmicos de nossa realidade, como aborto, manipulação de células-tronco, eutanásia, clonagem humana ou mesmo sobre o casamento homossexual, sexo fora do casamento e na degradação da pessoa humana pelos vícios, crimes e demais conflitos sociais, ficam, muitas vezes revoltadas e criticam tal postura. Para muitos, a Igreja deve estar somente do “lado espiritual” e não deve interferir no progresso econômico, político ou social do homem.

A “retrógrada”, “tradicional” e “intolerante” Igreja Católica não quer outra coisa a não ser a defesa da vida do homem de forma integral e natural. Tudo o que vai de encontro a uma evolução natural da pessoa humana deve ser fortemente questionado por todos. Um desenvolvimento, seja ele qual for, se não tem o homem como seu fim último, necessita ser revisto. Nesse sentido, a Igreja, como sinal da presença de Cristo na Terra, quer que todos os homens cheguem a uma felicidade plena. Para isso, ela propõe certos caminhos que tenham a pessoa humana como princípio e fim de toda a ação moral.

Entretanto, quando a Igreja Católica propõe certas vias de ações, ela não pretende fixar valores inquestionáveis para os homens, mas apenas sugere caminhos a serem seguidos. Quando a Igreja se manifesta contra o aborto, manipulação de células-tronco embrionárias, clonagem humana ou em outras questões que dizem respeito à pessoa humana, Ela somente está apontando para o caráter mais amplo que é a vida. O homem não é, e não pode ser considerado, um objeto para manipulação comercial ou mesmo para a prática de outro bem moral. Ele possui uma vida e essa deve ser respeitada em sua integridade. Esse é o grito maior da Igreja.

Quando se adentra em questões sobre casamento homossexual, a adoção de crianças por parte desses, ou mesmo na defesa do sexo dentro do casamento, não se está a criticar os que não seguem esses valores propostos pela Igreja, mas na indicação de uma alternativa de vida, fundada em um modo de viver ordenado, seguindo uma ordem comum proposta pela natureza. A Igreja Católica não está sendo intolerante ao defender o casamento entre homem e mulher e sua função ordinária de gerar uma família por meio do amor mútuo entre os esposos, mas dando nortes para quem quer uma vida que fuja da instrumentalização da pessoa humana e uma busca instintiva por um prazer material.

Tudo o que se defende não foi constituído de forma aleatória. Há sempre valores, princípios vitais e uma ordem a ser proposta. A maior riqueza defendida pela Igreja é exatamente a vida humana desde a sua concepção ao seu fim natural. É nesse sentido que toda a interferência humana que venha a prejudicar o indivíduo é firmemente combatida pela Igreja. O que se propõe é a manutenção de uma ordem natural na vida humana, com sua evolução paulatina e ascendente, livre de qualquer ação que possa diminuir o valor da pessoa ou desviá-la de uma ordem natural de se viver. Não se está contra um progresso social, mas sim numa crítica a um desenvolvimento que desconsidere o homem e o valor de sua vida como centro de toda a ação moral.

Nesse sentido, a Igreja, assim como João Batista, é, nas palavras do evangelista Lucas ao citar o profeta Isaías: “a voz daquele que grita do deserto” (Lc 3, 4). Ela proclama um modo de ser e agir baseado em 2 mil anos de história, experiências, derrotas e vitórias, crises e progressos, que foi sendo constituído, fundado na proposta do seu Mestre, para salvar o homem do pecado e da morte. Ela quer preparar um caminho, endireitar o que está desorganizado, eliminar os empecilhos que impedem o homem de contemplar uma felicidade perfeita.

Que nós saibamos ouvir essa voz norteadora e organizadora da Igreja que lança a proposta de um caminho a ser seguido por seus filhos. Quem segue essa via, mesmo com falhas – porque é humana –, encontra aquele que é o caminho para o Pai, Jesus Cristo. Não nos enganemos, entretanto, em pensar que essa passagem é constituída somente de bons momentos. No entanto, aprendemos com ela a dar um sentido a nossa história que, com altos e baixos, nos eleva a um maior crescimento pessoal e espiritual.

Que possamos nos abrir à voz da Igreja que grita em meio a um mundo tão marcado pela instrumentalização da pessoa humana, negação de seus valores essenciais e degradação das relações sociais. Diante de um vazio de sentido como é parte considerável de nossa realidade, a Igreja está continuamente a apontar para a glória do homem que está posterior – e superior – ao mistério da cruz.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 184, 05/11/2009]

Um novo mundo vem aí

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Diante de uma realidade política, social, econômica e, muitas vezes, até mesmo religiosa que oprime a pessoa humana, o homem tende a inibir-se e se ausentar de uma participação social. Para muitos, esta estrutura social “sempre foi assim”, “assim permanece” e “sempre será”. Sempre os indivíduos serão utilizados como objetos e produtos em função de interesses particulares, sempre alguns ricos oprimirão muitos desfavorecidos, sempre haverá fome, miséria e corrupção... sempre, sempre, sempre...

Mesmo sabendo que a nossa realidade não pode ser transformada da noite para o dia, devemos considerar que uma mentalidade como essa só gera “angústia” e “medo” nas pessoas (Cf. Lc 21, 25-26). Perante uma conjuntura caótica, de desordem social, a falta de esperança em um progresso – mesmo que lento – da humanidade é o que mais prejudica a nossa comunidade.

O evangelista Lucas proclama que, diante desse tipo de conflito, todos “verão o Filho do homem vindo numa nuvem com grande poder e glória” (Lc 21, 27). Diante de uma realidade confusa, de dor, mortes e sacrifícios, surge o Cristo. Ele emerge exatamente de um contexto como esse.

É nesse sentido que podemos ver Jesus naquele que sofre: na criança abandonada ou morta pelos pais, no jovem que não tem um norte para a sua vida, numa mãe de família que não tem como manter seus filhos. Associado à isso, podemos vê-Lo também no traficante, naquele que rouba para viver ou mesmo para se drogar, no político que age em benefício próprio e no homem que perde o sentido de sua vida e põe um fim a ela.

Quando olhamos para o nosso lado e percebemos que essa situação manifesta exatamente o Cristo, pobre e sofredor, vemos que tal conflito não é uma situação “pré-determinada” ou que vai durar para sempre. Tal desordem, pelo contrário, é fruto de uma opção nossa e, portanto, cabe a nós revertê-la.

Mas que fazer diante de tudo isso? Jeremias já profetiza: “O Senhor é nossa justiça” (33, 16). Somente Jesus pode trazer a ordem para essa realidade, não porque Ele vai pôr um fim definitivo em todos os problemas de nossa sociedade, mas pelo fato de Ele nos mostra um sentido para tudo isso. Por isso, quando aproximamos o nosso modo de ser à pessoa de Jesus, damos início à construção do reino de Deus, já que sabemos que tudo o que acontece de positivo ou negativo em nosso contexto, pode – e deve – ser convertido em possibilidade de aprendizagem, de crescimento pessoal e comunitário, ou seja, de instrumento para o progresso humano integral.

Quando aprendemos que somos agentes de uma realidade e que toda situação é fruto de ações humanas do passado e dos atos e omissões do presente, vamos sentindo-nos mais responsáveis por ela. Tal compromisso nos faz ver Cristo como modelo de salvador e, na nossa aproximação com Ele, nos torna co-redentores do mundo.

Esse processo de redenção, entretanto, deve acontecer de modo gradativo e perseverante, como já está ocorrendo – basta olhar em nossa volta. Somente por meio de uma oração atenta e contínua como fundamento de nossas ações missionárias e pastorais, podemos superar uma mentalidade social baseada na opressão pelo medo e pela inibição das pessoas. Diante disso, Cristo nos impele: “levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28).

Possamos olhar nossa realidade com os olhos de Nosso Senhor, Rei, Salvador e Caminho de uma humanidade nova, e aprendamos a participar da construção do novo mundo, fundado Jesus, “nossa justiça”, na opção pela vida e dignidade do homem. Sem se prender ao que é passageiro, que nós utilizemos nossa força, habilidade e inteligência em função do bem comum, para o progresso do corpo social, isto é, para a constituição e santificação do Corpo de Cristo.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, EDIÇÃO ESPECIAL, 28/11/2009]

Cristo Rei: Modelo e Guia

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Nossas relações sociais quase sempre são mantidas por um vínculo de poder autoritário. O homem, para demonstrar a sua força social, deseja continuamente um domínio sobre o seu próximo, fazendo com que o outro diminua e, somente aí, ele possa ascender. O crescimento pessoal, profissional, econômico e até “espiritual” é, em alguns, fundado na filosofia do “passar por cima”, utilizando o outro como degrau para a própria elevação.

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), explica bem essa “vontade de poder” nas relações sociais. Toda a ação política centra-se, para ele, numa atitude contínua de dominação. Muitas pessoas têm a tendência a manifestar sua habilidade específica se pondo acima dos outros. Até mesmo as relações sociais quase sempre são mantidas sob um vínculo hierárquico que dificulta a interação entre as partes.

Entretanto, o filósofo Friedrich Hegel (1770-1831), critica essa relação quando pensa na “dialética do senhor e escravo”. Para o pensador alemão, o senhor só se sente senhor na presença de um escravo. Na verdade, é o escravo quem legitima, isto é , dá o poder ao seu senhor, já que se não existe servidão, não existe o senhor, em outras palavras, o patrão só existe por que há o trabalhador.

Numa estrutura de pensamento autoritária, todos perdem porque não há uma participação eqüitativa das pessoas no poder político, isto é, elas não participam de maneira a que cada uma possa interagir com uma habilidade e competência específica em função do bem comum. Quando há, porém, uma relação de poder arrogante, as partes perdem valor e ficam subordinadas a um poder central que manipula o caminhar político da comunidade em função de um bem particular.

Pensamos, muitas vezes, nas nossas autoridades como fontes inquestionáveis de poder e tendemos a obedecê-las cegamente ou rejeitá-las, questionando todas as suas atitudes. Com isso, esquecemos que o papel da autoridade é norteador, é para nos dar caminhos a serem seguidos. Esse “poder”, entretanto, possui uma carga de responsabilidade devido ao fato de que ela tem que responder por todas as suas atitudes, desde suas próprias ações até a dos que a ela obedecem.

Que nós saibamos ver no Cristo, rei dos céus e da terra, o verdadeiro modelo de autoridade. Ele mesmo afirma: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37). Jesus quebra o paradigma, isto é, a concepção de valor já enraizada na sociedade, do líder como superior, para a idéia do guia, o modelo a ser seguido. A verdadeira autoridade de Nosso Senhor foi constituída a partir de seu próprio testemunho de vida, a ordem que ele dava era uma só: “Segue-me”.

Que Cristo possa fazer nascer em nós uma admiração profunda de sua pessoa. Que essa, porém, seja prática a partir do momento que olharmos para ele e virmos o resultado positivo de Suas ações. É nesse mesmo sentido que Jesus é “o alfa e o ômega” (Ap 1, 18), o princípio e o fim de toda a realidade existente. Seu modo de ser e agir devem ser uma força para as nossas ações e um modelo a ser seguido, e a divindade alcançada por Ele seja o fim último de nossas vidas.

Vejamos, portanto, em Jesus o verdadeiro guia de nossa existência. Ele soube construir um reino que “não é deste mundo” (Jo 18, 37) e ser uma grande autoridade por saber dar testemunho de sua mensagem e ser o único caminho correto para os que buscam um reino de alegria sem fim.
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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 183, 21/11/2009]

Novo homem, nova comunidade

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O homem moderno, com todo o desenvolvimento científico, tecnológico e cognitivo, se perde diante da complexidade do universo e, mais ainda, diante da imensidade de si mesmo. Apesar de ter chegado à um progresso nunca imaginado, ele se vê pequeno e indefeso diante de posturas e interesses humanos que buscam uma felicidade sempre insaciável e nem sempre real.


Um pai que mata uma criança; um motorista que dirige irresponsavelmente; um jovem que busca a droga ou vende seu corpo em troca de prazer ou dinheiro; pessoas que deveriam ter a responsabilidade de cuidar do povo, mas empregam seu poder político para obter benefícios próprios; nações que utilizam de seu progresso para dominar política e economicamente outras, desde ações diplomáticas à guerra... Isso é a corrupção humana, isso representa o fim de uma sociedade, o fim do mundo.


O indivíduo que busca elevar a sua humanidade em direção a um bem comum, desvia-se dessa construção quando concentra suas forças para a realização de uma felicidade passageira. Essa busca desenfreada por bens materiais múltiplos representa a falta de um norte para a vida da pessoa. O homem, preso aos diversos bens materiais, esquece o único e definitivo valor que é a vida humana, que deve ser fator decisivo para toda ação moral.


É nesse sentido que Cristo surge como luz na escuridão e na perdição humana. O homem que está sem rumo, vê na pessoa de Jesus, não uma figura a ser somente contemplada, mas um modelo para ser abraçado e seguido por todos.


Nosso Senhor, sendo verdadeiramente Deus – porque verdadeiramente homem –, soube construir uma vida plena e feliz, pois se entregou como sacrifício em favor da humanidade. Quando praticamos uma ação em benefício próprio, estamos nos afastando do ideal de uma sociedade que deve buscar o bem comum. Diante, portanto, do caos que está parte de nossa sociedade, Cristo surge como caminho, valor único, princípio e fim de toda a ação moral.


São Agostinho, filósofo cristão do século IV, defendia a tese de que Deus não era responsável pelas más ações que ocorriam na humanidade. O homem, segundo o Bispo de Hipona, teria recebido a liberdade da Suprema Inteligência para que ele pudesse livremente buscá-La. Entretanto, nas palavras de São João: “O que foi feito nele [Cristo, Verbo de Deus] era a vida, e a vida era a luz dos homens, e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1, 4-5).


Todos os conflitos, guerras, corrupções e demais crimes são conseqüências lógicas de quem está sem um sentido para a vida e busca qualquer bem aparente. É a aceitação do projeto de Deus que nos dá, em Cristo, o verdadeiro salvador, aquele que retira os homens das trevas do erro e os colocam no caminho reto e único de construção do bem comum no corpo social, que é a nossa comum-unidade.


Que nós aprendamos a ler os “sinais dos tempos” e perceber que o Filho do Homem se aproxima de nossa humanidade toda vez que optamos por Ele e sabemos conformar nossas ações ao seu mistério redentor que iniciou na simplicidade do seu nascimento, no compromisso pelo reino, na defesa da pessoa humana, no sacrifício da cruz, na morte para um mundo de pecado e na vitória da ressurreição.


A mesma profecia também se repete para nós: “esta geração não passará até que tudo isso aconteça” (Mc 13, 30). O homem que se compromete com a construção do reino, sendo luz para os outros, brilha nas trevas de uma comunidade marcada pelo pecado, e atualiza a salvação iniciada pelo Cristo no mistério da ressurreição.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 181, 14/11/2009]

Felizes os pobres


Ao proclamar o Sermão da Montanha, Jesus foi incisivo ao dizer: “Felizes os pobres em espírito, por que deles é o reino dos céus” (Mt 5, 3). Os primeiros a quem Deus promete a felicidade são os pobres, os pobres em Espírito. Somente aquele que está livre para abraçar a Cristo e a tudo o que sua opção implica, é digno de contemplar a glória de Deus.


Entretanto, marcados por uma estrutura social objetivista e pragmática, isto é, centrada na materialidade das coisas e no que elas têm a nos oferecer, muitas vezes nos desvirtuamos do conceito de pobreza e nos limitamos a imaginá-la somente no aspecto material. E nesse sentido, pensamos no fato de que para seguir Jesus, devemos deixar tudo o que temos e o que somos para o seguir, contemplando-O continuamente fora de nossa realidade. O erro está exatamente aqui: compreendemos esse “deixar tudo” como uma negação de tudo o que é humano em função de uma espiritualidade “extra-terrestre”.


Platão, filósofo ateniense do século V a. C., também considerava o mundo como uma dualidade entre matéria e espírito. O homem virtuoso deveria superar a sua materialidade e viver somente segundo o espírito racional. Essa mentalidade, porém, gera um grande problema, pois ao negar o que é humano, material ou terreno, estamos negando também a obra da criação, estamos esquecendo e pondo de lado a Inteligência que criou e organizou toda a nossa realidade, isto é, Deus.


Todavia, Jesus é claro ao dizer que a pobreza que o agrada é a espiritual. Não adianta nada um pobre que se apega ao pouco que tem. Uma pessoa que só tem o que se alimentar, como a viúva de Sarepta (1 Rs 17, 10s), mas não se abre à Providência divina, nem à esperança de que ela pode, com seus esforços, crescer e sair dessa situação, possui um espírito soberbo, fechado à mensagem de Deus por meio de Cristo.


Nosso Senhor quando responder ao rico sobre o meio pelo qual se chegar à felicidade, manda-lhe: “vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc 10, 2). Em outro momento, Jesus também nos adverte: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26).


Na verdade, esse “desapego” dos bens ou das pessoas significa dizer que somente Cristo deve ser o único fim de nossas vidas. Todas as coisas, pessoas ou idéias, se não nos servem de caminho para nossa aproximação com Deus deve ser esquecida. Por outro lado, se seguimos uma mentalidade platônica de negação do que é humano, nos afastamos cada vez mais da possibilidade de construir a nossa santidade que se dá na nossa aproximação com Deus por meio de uma santificação cotidiana, humana e, portanto, material.


A verdadeira pobreza ensinada pelo Senhor é semelhante a da viúva de Sarepta. Ela mesma, não tendo muito com o que sobreviver, soube se confiar na ordem dada por Deus por meio de Elias (cf. 1 Rs 17, 15-16). Ela soube saber que a sua própria vida e a de seu filho não valiam nada se não fossem para o serviço ao Senhor, Deus de Israel. Do mesmo modo, Jesus elogia a outra viúva do templo que deixa tudo que tem – mesmo que sejam duas pequenas moedas – e se confia em Deus (cf. Mc 12, 44). Ambas as mulheres sabiam que suas vidas, valores, parentes ou riquezas, deveriam estar em função de Deus e não de si próprias.


Os pobres anunciados por Jesus têm um espírito de abertura, de entrega incondicional à mensagem Divina. Porém, muitos ricos – seja de espírito ou de matéria –, se apegam com o que tem, mesmo que sejam pequenos pães ou duas moedas. Somente quando há um esvaziamento dos próprios desejos e das próprias vontades é que se cria a abertura indispensável para a aproximação e entrada de Deus em nossas vidas. Ele, com Sua grandeza infinita, só penetra em nós quando não há mais nada com que Ele possa dividir espaço.


Ao anunciar: “Felizes os pobres em espírito” (Mt 5, 3), Nosso Senhor não só proclama, mas promete que o reino dos céus está nas mãos daqueles que se entregam de forma incondicional à Deus e sabem que tudo na vida deve ser relativizado – mas não negado – em relação à nossa busca pela felicidade Suprema, único absoluto em nossa existência.


Aprendamos com Jesus a ter esse coração de pobre. Ele que, mesmo sendo Deus, soube conformar a sua condição humana aos planos divinos de salvação da humanidade, sabendo construir, assim, a sua santidade. Cristo, não negou a sua materialidade para se tornar divino, mas aceitou-a quando abraçou o sofrimento e morte de cruz. No alto do calvário, ele nos dá a maior prova de pobreza, que é a afirmação da vida humana, sendo ela o instrumento imprescindível para a construção de nossa divindade.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 180, 07/11/2009]

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Santidade… eis o caminho


O homem de hoje, mais do que nunca, está sendo marcado pelo erro da idolatria. Tomamos coisas, pessoas ou idéias e as transformamos em deuses. Elas estão acima de tudo e de todos e, para nós, são princípios e fim de todas as nossas ações.

Essa absolutização e divinização das coisas nos distancia da realidade a qual vivemos e do compromisso que devemos ter por ela. Quando nos pomos debaixo de algo que é a nós absoluto, deixamos de agir e ficamos imóveis diante de determinada realidade, isso só deve acontecer com Deus, mas infelizmente ocorre com pessoas, idéias ou até objetos que tomamos como divino. O dinheiro, os bens materiais, alguns homens e até certas leis ou idéias são exemplos desses “deuses”.

Muitos de nós olhamos para os santos com essa mesma perspectiva. Contemplamos sua história de vida, seu testemunho e suas obras e esquecemos a prática que deve surgir a partir de tal admiração. Se a pessoa ou a idéia por quem optamos não nos torna capazes de construir relações fraternas e justas “vã é a nossa fé”.

Ao comemorarmos o Dia de todos os Santos, devemos lembrar não de pessoas distantes de nossa realidade que conseguiram construir uma vida beata, feliz aos olhos de Deus. Vejamos nesses homens o testemunho vivo de uma existência edificada sob a pessoa de Cristo, tendo-O como princípio e fim de toda a sua busca pela felicidade.

É nesse sentido que João, no livro do Apocalipse, nos apresenta os santos como aqueles que estão próximos de Deus e, portanto, da Suprema Alegria. Ao indagar sobre quem seriam tais homens, um ancião responde: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangre do Cordeiro” (Ap 7, 14).

A conquista de uma vida feliz, não se constitui por meio de uma lógica humana de benefícios e prazeres, mas por meio de sacrifícios e renúncias, na aceitação da vida em sua dimensão contingente, isto é, de variação contínua entre angústia e alegria, prazer e dor, etc.

A pureza de nossas “vestes” (Ap 7, 13), isto é, de nosso testemunho de vida só se torna real a partir do momento que tomamos alguém como exemplo, caminho a ser seguido. Os santos, nesse sentido, não são exemplos isolados a serem “adorados”, mas aquelas pessoas que tomaram o Cristo como meta de suas ações, associando-se ao Seu modo de ser e agir para construir uma vida de santidade, uma existência em plenitude.

Com isso, todo aquele que se associa ao Deus-Homem também se “diviniza-se”, santifica a sua vida, encontrando, assim, um sentido para a sua existência, como bem esclarece São João em sua primeira Carta: “Todo aquele que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (3, 3).

Cristo, ao propor as bem-aventuranças, estava a caracterizar-se a si mesmo. Todos os ensinamentos de Jesus foram assumidos por Ele mesmo como prova de sua possibilidade, na promessa de uma vida “divina” para todos os que os tomassem para si, comprovado por Sua ressurreição.

Que saibamos ver tais ensinamentos, não apenas como um texto bonito para ser lido ou contemplado, mas como um norte, algo que dá uma direção para a nossa vida prática. Possamos compreender que a lógica do mundo não é a mesma da de quem quer viver uma vida fundada no chão de nossa realidade, no contato fraterno e justo com o outro e com os olhos fixos em Jesus.

A santidade, deste modo, não é uma opção, mas uma obrigação de todo aquele que quer estar comprometido com a construção do Reino de Deus, de uma sociedade que tem a vida como princípio fundamental e Cristo como princípio e fim de toda opção. Somente por meio dessa preferência de vida, é que se pode iniciar a construção de uma sociedade mais elevada, divinizada, tornando concreto o Reino dos Céus.
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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 179, 31/10/2009]

Jovens... caminhando à luz de Cristo


É marca em uma sociedade como a nossa, caracterizada pela valorização das pessoas pelo que elas podem contribuir positivamente, a visão os jovens como aqueles que “não sabem o que querem”, “não têm perseverança nos seus compromissos” ou “nunca estão firmes em uma idéia ou responsabilidade”. Eles estão sempre à margem de nossa comunidade e de seus interesses, “à beira do caminho”.

A psicologia nos ensina que a adolescência é uma fase de transição. O jovem deixa a estrutura de proteção dos pais e se prepara para a autonomia da idade adulta. É a fase do “nem”: nem é criança, nem adulto. É uma etapa, portanto, marcada por mudanças físicas, psicológicas, afetivas e intelectuais.

Nesse sentido, o que falta, muitas vezes é um norte para que o jovem possa se fixar. Seja por meio de uma idéia ou uma pessoa, fato é que muitos procuram algo para se sedimentar e criar bases sólidas para construção de sua maturidade. Essa busca por um fundamento, porém, muitas vezes se desvia do plano correto e acaba levando o jovem para a busca uma felicidade enganosa: no uso de drogas, bebidas alcoólicas, na prostituição ou em outros vícios.

Entretanto, qualquer que seja o caminho trilhado por eles, uma coisa é certa: estão querendo ser felizes. Do mesmo modo que Bartimeu, que era cego e pobre, gritava pela ajuda de Jesus e era repreendido por muitos, os vícios que afetam nossos jovens ou mesmo sua falta de perseverança em qualquer que seja o compromisso são também pedidos de ajuda, eles estão querendo uma luz. Esse grito, no entanto, é disfarçado por preconceitos ou outras repreensões sociais.

Cristo, como verdadeira e única palavra de Deus foi a resposta para aquele homem. Ao procurá-lo e se aproximar do Jesus, ele conseguiu abrir os olhos, começou a ver o verdadeiro caminho para sua vida e para a felicidade. O encontro pessoal com Nosso Senhor torna-se, portanto, o marco principal para aquele que quer um sentido para a própria existência e não o encontra em bens materiais ou humanos.

Somente Cristo é aquele que abre os nossos olhos para que possamos construir a nossa felicidade. Entretanto, isso não se dá por milagre ou ação vinda de fora. Temos que gritar à Deus, clamar para que Ele ouça nossa prece, deixar o que nos pesa, saltar em sua direção e se aproximar do seu modo de ser e agir (cf. Mc 10, 50). Somente a partir de nossa opção preferencial por Cristo podemos dar uma orientação eficaz para a nossa vida e ser, a partir daí, luz para os povos.

Que possamos também nos sentir responsáveis por nossos jovens. Nós que, pelo batismo, recebemos o sacerdócio comum dos fiéis, devemos ouvir a voz do Apóstolo e nos associar à figura do verdadeiro sacerdote que: “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza” (Hb 5, 2).
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Saibamos olhar com outros olhos para a nossa juventude, pois mesmo os que passaram por ela, “ilesos” ou apenas “feridos”, sabem que não é um momento tão fácil de viver. Aprendamos a ter compaixão e não pena dos que estão no vício ou em caminhos que não contribuem param a formação de homens comprometidos com a vida ou com a construção de uma comunidade justa e fraterna.

Que, vendo a experiência da Missão Jovem em nossa Diocese, possamos olhar para muitos de nossos jovens e dizer-lhes: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama”(Mc 10, 49). É somente por, com e em Cristo, que podemos buscar a verdadeira felicidade, que não se acaba com o tempo e que não pode ser roubada nem corrompida. É Jesus o nosso único prazer que dura eternamente.
[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 178, 24/10/2009]

Evangelizar: Deus está no meio de nós

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Neste domingo, 18 de outubro, a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões. Por essa ocasião, o Papa Bento XVI escreve uma mensagem para este momento, tendo como título as palavras do livro do Apocalipse de São João: “As nações caminharão à sua luz” (21, 24).

A atender a ordem dada por Cristo e realizando a sua dimensão universal, a Igreja Católica se sente chamada à missão. Essa ação, porém, não se restringe somente aos pastores ou aos que são consagrados à Deus, mas a todos os que querem seguir os passos de Jesus.

O mandato missionário de Cristo para a Igreja de anunciar o evangelho a todos, tornando-os Seus discípulos (cf. Mt 28, 19) não é, como lembra o Santo Padre, retomando os seus predecessores, “para ampliar o seu poder ou reforçar o seu domínio, mas para levar a todos Cristo, salvação do mundo”. A ação missionária de evangelização não é, portanto, uma catequese ou uma transmissão do pensamento da Igreja, mas o anúncio de uma Pessoa e do Seu modo de ser e agir.

O termo evangelho, que provém do grego, significa boa notícia, revela de forma simples e objetiva qual deve ser a atitude missionária. A evangelização nada mais é do que a revelação para todas as pessoas do fato mais importante para a nossa vida presente no Evangelho. Os textos dos evangelistas resumem-se em uma mensagem: Emanuel! Deus está conosco, Ele está presente em nossa humanidade.

A ação, portanto, missionária da Igreja no anúncio da pessoa de Cristo não necessita de muitos movimentos, grandes espetáculos e muitos aplausos, mas no gesto de mostrar como Deus se faz, em Cristo, próximos de nossa humanidade.

Essa presença de Deus em nossa existência dá aos homens um novo sentido para as suas vidas. Diante de um mundo que parece estar próximo do caos, de uma política que só quer os interesses particulares, de homens que promovem o sofrimento humano, o Senhor vem nos mostrar uma saída: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 16).

A glória de uma vida feliz só pode ser construída na nossa aproximação com o Cristo, na participação com o seu cálice (cf. Mc 10, 38), isto é, participando de seu sofrimento quando sabemos sofrer com o outro, no momento em que aprendemos a sentir compaixão do outro. Nesse sentido, com a aproximação de nossos sofrimentos e os de nossos irmãos aos de Cristo, damos um sentido a eles, sabemos que eles não são inúteis.

Assim, o anúncio da Pessoa do Cristo, da presença de Deus em nossa vida, deve ser motivado por um sentimento de compaixão, um amor pelo outro ao ponto de querer sofrer com eles, ou até mesmo, por eles. Assim foi Deus quando carregou os nossos crimes e foi, por nós, condenado (cf. Is 53, 10-11).

Contrário a isso está a postura de muitos de nós, quando pensamos a evangelização como um grande movimento humano, digno de honra, glória e aplausos. Esquecemos, por outro lado, a atitude evangelizadora que devemos assumir nas pequenas ações de nossa vida. Uma palavra de conforto, um gesto de carinho, uma ação caritativa ou até mesmo um silêncio são também missões, evangelizações, um grito da presença de Deus nas nossas ações cotidianas.

Que nós possamos pedir ao Cristo essa compreensão, Ele que compreende as nossas fraquezas, pois foi homem como nós (cf. Hb 4, 15), de saber santificar a si e aos outros, por meio de sacrifícios cotidianos, palavras e pequenos gestos, mostrando, assim, a Presença Divina que há em nossa humanidade.

Sejamos constantes missionários, tenhamos a força de anunciar a Pessoa de Jesus, sendo para os outros novos Cristos, anunciando a verdadeira possibilidade da felicidade que se encontra somente em Deus. Ele que, em Seu Filho, é luz para os povos.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 177, 17/10/2009]

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Negar-se para ser




Nos últimos dias, os meios de comunicação denunciaram o caso do roubo das provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, que seria aplicado em todo território nacional no último fim de semana. Mais do que responsabilizar essa ou aquela pessoa, devemos refletir sobre o que está por trás desse ato. O que levou alguém a praticar tal crime? Quais interesses estavam – e ainda estão em jogo?

Outro caso chamou a atenção aos de ouvidos atentos. No domingo passado, um político, sendo entrevistado por uma repórter de um programa humorístico, em um canal aberto, deixou escapar um pensamento que, por mais que esteja se fixando na cabeça de muitos de nossos jovens, não educa ninguém e não constrói cidadãos comprometidos e responsáveis pela sociedade. Disse a autoridade política: “Quem não cola, não sai da escola”.

Muitos de nossos sonhos, que tem como fim último a construção de nossa felicidade, são projetados sobre falsos valores ou concepções. Queremos uma boa formação, um emprego estável e um ótimo salário e esquecemos de que tudo isso não se realiza em passe de mágica. Todas as coisas que o homem quer para si não se constrói a não ser por meio de sacrifícios, conflitos e renúncias.
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O jovem rico que procurou Jesus tinha o desejo que é comum a todos os homens: a vida eterna (cf. Mc 10, 19s). Ele estava buscando a vida feliz que todos procuram, mesmo que alguns busquem-na de modo equivocado. Mesmo cumprindo todos os preceitos sociorreligiosos, o jovem sabia que aquilo não o faria feliz. Insistindo na pergunta, ele recebe uma resposta que tinha dificuldades de ouvir e abraçar: “vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc 10, 2).

Muitas vezes, só queremos fazer o que é bom e prazeroso para nós. Desviamos, do caminho da vida feliz quando esquecemos que toda construção passa pela renúncia de muitos de nossos desejos, para a escuta dos projetos divinos.

O mesmo caminho seguiu o rei Salomão. Ele não desejou um grande império, grandes riquezas, nem muitas terras. Salomão pediu a Deus somente a sabedoria. Toda a sua felicidade seria construída por meio de uma luta árdua, tendo sempre a sabedoria de Deus como norte para sua realização. Ela, que tudo conhece (cf. Hb 4, 13), sabe os nossos interesses, conhece o que é melhor para nós.

Como próprio afirma Salomão no livro da Sabedoria: “Com ela [a Sabedoria], me vieram todos os bens de suas mãos, riqueza incalculável (7, 11). Cumpre-se, assim a promessa do Cristo, quando nos impele: “[...]em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas” (Mt 6, 33). Riqueza, conhecimento e virtudes devem ser utilizadas somente como meios, tendo-se a construção de uma vida feliz como o único objetivo de nossas ações.

Quando fixamos nosso olhar na edificação de nossa santidade e na construção do Reino de Deus como único fim de nossas ações, todas as coisas que necessitamos nos são dadas gratuitamente.

O furto das provas do ENEM ou o pensamento do político sobre a postura do aluno na escola refletem, entretanto, um ideal conformista. Projetamos muitos sonhos, mas não queremos construí-los. Não se quer mais estudar ou trabalhar para a edificação de um ideal. Pelo contrário, queremos que tudo esteja em nossas mãos, pronto e acabado.

Quem não tem coragem de se sacrificar ou renunciar certos valores ou desejos, despojando-se de si mesmo em função do serviço ao próximo, dificilmente consegue seguir os passos da pessoa de Cristo. Nesse sentido, se está afastando o Reino dos Céus, isto é, a comunhão com a realidade de suprema alegria que é Deus.

Que nós tenhamos a consciência e a coragem de pedir somente uma coisa para a construção de nossa vida em plenitude: a sabedoria divina. Através dela, nós temos forças e ânimo para enfrentar os sacrifícios e abnegações, sendo os principais agentes da formação de nossa santidade e da construção paulatina e efetiva do Reino dos Céus.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 176, 10/10/2009]

domingo, 4 de outubro de 2009

Fidelidade do Sacerdote

Em uma cultura de pensamento tão fragmentado e machista como a nossa, crescemos com a idéia de que o padre é aquele que “não casa”. Mesmo sendo de fato, desenvolvemos outro pensamento mais complicado de se conceber: o padre não vai assumir compromissos, sendo livre para o seu ministério.

A viver o Ano Sacerdotal, o tema nos propõe um grande ensinamento: “Fidelidade do Sacerdote”. O padre, contrário do que muitos possam pensar, é chamado a assumir um compromisso tão exigente quanto o matrimônio, só que em uma modalidade diferenciada.

A pessoa, ao assumir a opção do sacerdócio ministerial, não deve esquecer as dimensões que não essenciais para todo indivíduo. Ser homem, pai e fiel em sua comunidade

Ser homem, no sentido de que, configurado ao Cristo, o padre será responsável pela proteção de uma comunidade. Deve sentir-se, por isso, comprometido pela pessoa humana, ser responsável pelo próprio homem a partir da virtude da compaixão.

A assumir a pessoa do Cristo Pastor, o sacerdote ministerial não pode perder a sua dimensão paternal. Mesmo não gerando filhos biológicos, o padre tem a responsabilidade de assumir um rebanho muito maior e mais exigente do que uma família constituída pelo matrimônio, que é a comunidade paroquial, diocesana ou do mundo inteiro.

O padre não é livre para assumir um ministério, ele apenas assume outro compromisso. Esse também requer um vínculo essencial para a sua manutenção, que é a fidelidade. Assim como qualquer outro compromisso que o homem venha a assumir, ele é convocado a ser fiel a sua vocação, pois essa, como seu próprio nome já o diz, é um chamado de Deus, o que ele quer para nós.

Tais características não devem, como já dito, ser assumidas apenas pelo padre, mas por todos nós, que recebemos um sacerdócio através do nosso batismo e somos chamados a entregar nossa vida como contínuo sacrifício de louvor a Deus.

Essa busca pela fidelidade a um compromisso, entretanto, acarreta limitações emocionais, afetivas ou materiais que, em qualquer que seja o compromisso, requer paciência e perseverança por parte daquele que quer crescer na aproximação de Deus em busca de sua felicidade.

Essa espera paciente pela resposta de nossas dificuldades requer um despojamento total de si, sabendo deixar de lado tudo o que possa ser motivo de pecado, sabendo construir, paulatinamente, o nosso coração, aproximando-o ao do Cristo, Cabeça e Pastor de Sua Igreja.

É nesse sentido que a ordenação, assim como o matrimônio, não fará milagres para a pessoa que faz tal opção. Tais sacramentos são sinais de uma construção que deve ser contínua. O sacerdócio, com isso, torna-se como um contínuo “namoro” daquele que faz a opção pelo pastoreio em uma comunidade, aproximando-se continuamente, mas com suas falhas, de um ideal de pastor que se encerra em Jesus.

O compromisso, qualquer que seja ele, requer, portanto, toda uma entrega total de si para o bem do outro, para a melhor construção de sua missão específica. Por isso que é exigido que os padres façam somente uma opção: pela imitação do Cristo no compromisso com uma comunidade.

O sacerdote ministerial é chamado a ser fiel a esse ideal. Para isso, faz-se necessária a fidelidade à pessoa humana, ao compromisso com o próprio homem, sentido-se responsável por ele. A imitação do Cristo no chamado universal à santidade desenvolve-se, portanto em chamados específicos.

O homem é chamado a se despojar de suas vontades e se entregar ao outro como sinal de um compromisso que só se constrói de forma encarnada, isto é, concreta e em prol do homem. Somente assim é que se pode construir a presença de um Deus que se faz sacramento para elevar os homens para Si.

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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 174, 26/09/2009]



Crescer no serviço

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Em uma cultura de pensamento tão fragmentado e machista como a nossa, crescemos com a idéia de que o padre é aquele que “não casa”. Mesmo sendo de fato, desenvolvemos outro pensamento mais complicado de se conceber: o padre não vai assumir compromissos, sendo livre para o seu ministério.

A viver o Ano Sacerdotal, o tema nos propõe um grande ensinamento: “Fidelidade do Sacerdote”. O padre, contrário do que muitos possam pensar, é chamado a assumir um compromisso tão exigente quanto o matrimônio, só que em uma modalidade diferenciada.

A pessoa, ao assumir a opção do sacerdócio ministerial, não deve esquecer as dimensões que não essenciais para todo indivíduo. Ser homem, pai e fiel em sua comunidade

Ser homem, no sentido de que, configurado ao Cristo, o padre será responsável pela proteção de uma comunidade. Deve sentir-se, por isso, comprometido pela pessoa humana, ser responsável pelo próprio homem a partir da virtude da compaixão.

A assumir a pessoa do Cristo Pastor, o sacerdote ministerial não pode perder a sua dimensão paternal. Mesmo não gerando filhos biológicos, o padre tem a responsabilidade de assumir um rebanho muito maior e mais exigente do que uma família constituída pelo matrimônio, que é a comunidade paroquial, diocesana ou do mundo inteiro.

O padre não é livre para assumir um ministério, ele apenas assume outro compromisso. Esse também requer um vínculo essencial para a sua manutenção, que é a fidelidade. Assim como qualquer outro compromisso que o homem venha a assumir, ele é convocado a ser fiel a sua vocação, pois essa, como seu próprio nome já o diz, é um chamado de Deus, o que ele quer para nós.

Tais características não devem, como já dito, ser assumidas apenas pelo padre, mas por todos nós, que recebemos um sacerdócio através do nosso batismo e somos chamados a entregar nossa vida como contínuo sacrifício de louvor a Deus.

Essa busca pela fidelidade a um compromisso, entretanto, acarreta limitações emocionais, afetivas ou materiais que, em qualquer que seja o compromisso, requer paciência e perseverança por parte daquele que quer crescer na aproximação de Deus em busca de sua felicidade.

Essa espera paciente pela resposta de nossas dificuldades requer um despojamento total de si, sabendo deixar de lado tudo o que possa ser motivo de pecado, sabendo construir, paulatinamente, o nosso coração, aproximando-o ao do Cristo, Cabeça e Pastor de Sua Igreja.

É nesse sentido que a ordenação, assim como o matrimônio, não fará milagres para a pessoa que faz tal opção. Tais sacramentos são sinais de uma construção que deve ser contínua. O sacerdócio, com isso, torna-se como um contínuo “namoro” daquele que faz a opção pelo pastoreio em uma comunidade, aproximando-se continuamente, mas com suas falhas, de um ideal de pastor que se encerra em Jesus.

O compromisso, qualquer que seja ele, requer, portanto, toda uma entrega total de si para o bem do outro, para a melhor construção de sua missão específica. Por isso que é exigido que os padres façam somente uma opção: pela imitação do Cristo no compromisso com uma comunidade.

O sacerdote ministerial é chamado a ser fiel a esse ideal. Para isso, faz-se necessária a fidelidade à pessoa humana, ao compromisso com o próprio homem, sentido-se responsável por ele. A imitação do Cristo no chamado universal à santidade desenvolve-se, portanto em chamados específicos.

O homem é chamado a se despojar de suas vontades e se entregar ao outro como sinal de um compromisso que só se constrói de forma encarnada, isto é, concreta e em prol do homem. Somente assim é que se pode construir a presença de um Deus que se faz sacramento para elevar os homens para Si.


[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 173, 19/09/2009]