terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Para além de si


O desenvolvimento técnico-científico de nossa sociedade parece não estar favorecendo um progresso humano integral. Certas manifestações sociais provam que o homo sapiens sapiens tem mais demência e animalidade do que se imagina. Tais ações, motivadas pelos instintos, aproximam o indivíduo à feras sem razão e os distanciam cada vez mais de uma evolução verdadeira do homem, centrada no seu aperfeiçoamento gradativo.

Nos últimos fins de semana a mídia mostrou insistentemente as ações dos torcedores de futebol depois do campeonato brasileiro ao praticarem atos de vandalismo dentro e fora dos estádios com “rivais” de torcida ou mesmo com outras pessoas que não tinham culpa alguma por tal conflito. Nem mesmo os policiais escaparam de tal gesto irracional. Eles, que tinham o objetivo de proteger a população, foram perseguidos e violentados por uma revolta sem motivos ou uma justificação lógica.

Mais recentemente, o primeiro ministro da Itália, Berlusconi, sofreu um atentado pelas mãos de um homem que apenas não concordava com seu jeito de administrar o país. A “solução” proposta por ele foi o arremesso de um souvenir de metal no presidente.

Quantos outros souvenires ainda serão jogados em chefes de Estado para manifestar contrariedade aos seus atos políticos? Um sapato na cara, uma pedra, madeira ou metal solucionam mesmo os problemas sociais enfrentados pelo homem? O diálogo democrático, que custou muitos anos e vidas para ser construído parece estar sendo esquecido em função de ações instintivas, sem planejamento ou inteligência alguma.

Muitos homens parecem estar esquecendo de que têm uma arma muito mais letal contra qualquer injustiça social ou política na sociedade: a razão. Por meio dela, os indivíduos podem interagir entre si e, por meio de conflitos políticos, acharem soluções para as dificuldades comuns. A violência é o instrumento utilizado por quem não tem mais forças racionais para lutar. O problema é que muitos nem mesmo iniciam um esforço de diálogo lógico, vão logo para a luta física.

Nesse movimento degradante, o homem vai perdendo a capacidade de evoluir integralmente, ou seja, ao mesmo tempo emocional, biológica, psicológica, intelectual, política e espiritualmente. Deixa-se de lado uma instância de busca comum, que a concepção cristã bem chama de Deus, e se procura uma solução motivada por desejos particulares e instintivos dos indivíduos. O homem parece arrogar-se diante do mundo, se sentido seu dono e podendo fazer o que bem entende, porque nele tem “direitos”.

A imagem de Nossa Senhora parece ir de encontro a toda essa concepção centralizadora do homem nas ações sociais e políticas. Ela consegue ser exemplo, não porque gerou o Filho de Deus, mas porque acreditou na mensagem do Anjo e aceitou o desejo do Pai. O segredo dela, portanto, não estava na participação direta no mistério da encarnação de Deus, mas por assumir a pequenez em ser serva do Senhor. A jovem de Nazaré não desejava ser protagonista da ação salvadora Divina, mas o foi por que soube pôr-se no seu lugar: o de criatura.

Diante de um mundo marcado pelo egocentrismo e pelo individualismo, possamos ver em Maria a imagem daquela que foi bendita entre todas as mulheres da terra (Cf. Lc 1, 42) porque acreditou em Deus (Cf. Lc 1, 45) e se entregou aos seus planos. Com as próprias forças o homem nunca pôde e nunca irá muito longe. Somente por meio de alguém que unifique os olhares dos povos e os direcione na busca de um só caminho é que se pode verdadeiramente tornar possível a justiça e a paz na sociedade. Esse alguém, sem dúvida, está encerrado na pessoa de Jesus Cristo, realidade perfeita encarnada em nossa humanidade.

Para atualizar tal mistério, faz-se necessário seguir os passos de Nossa Senhora que, no seu silencio, obediência e humildade, soube tornar concreto o Verbo de Deus no mundo humano e ser participante direta no processo de redenção dos filhos de Eva.

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