quinta-feira, 15 de julho de 2010

Maria, santa por opção




O mês de maio é dedicado pela Igreja à Maria, Nossa Senhora. Somos, portanto, convidados a refletir sobre os seus méritos e o valor de seu testemunho para a vida daqueles que querem tornar Cristo presente em nossa comunidade.

O anjo Gabriel, ao questionar Maria se ela queria receber o filho de Deus em sua vida não foi recebido de forma tão pacífica. Ela entra em conflito ao refletir sobre tamanha responsabilidade: gerar Deus em seu ventre. Dado o Sim, toda a sua vida foi transformada bem como a de toda humanidade. O mundo se refez a partir de sua aceitação, assim como sua própria vida.

Toda a obediência de Maria se dá com a sua entrega livre. Ela poderia ter seguido outros caminhos, não deixando de santificar a sua vida, tendo outros filhos e continuado o caminho da tradição de seus pais. Mas a jovem de Nazaré dá um sim, ela aceita seguir um caminho que não era o ordinário, entregar-se plenamente ao mistério da encarnação do Verbo de Deus.

A santidade de Maria se confirma a partir daquela afirmação: ela era a serva do Senhor. Quando ela decide livremente ser instrumento de salvação para a humanidade, todas as suas vontades individuais são postas de lado, relativizadas, tudo que é humano passa a ter menos valor. A partir disso é que se configura o seu caráter de obediência, pobreza e castidade.

Pela livre obediência, Maria se entregou aos planos de Salvação que Deus tinha para o homem. A partir disso, todo o seu querer deveria estar subordinado à vontade de Deus. Não que Maria tinha perdido a sua autonomia, mas a partir de sua comunhão com a vontade divina todo o seu querer passou a estar em conformidade com a Divina Providência.

Com o seu sim, Maria também se despojou de todas as riquezas que a sociedade de seu tempo poderia oferecer. Todos os bens passaram a ser relativos em relação ao Bem Supremo. Tudo tinha um valor infinitamente menor em relação ao tesouro que ela gerara em seu próprio ventre.

A castidade que Maria apresenta mostra o seu total despojamento em relação à encarnação de Deus. Não houve nenhum interesse humano naquele ato, demonstrando assim que a redenção do homem foi iniciativa gratuita de Deus. A pureza de Maria foi construída por que ela sabia que tinha tomado a decisão certa e nada mais poderia abalá-la, ela quis seguir aquele caminho que exigia uma entrega total de sua humanidade.

Essas três características sintetizam Maria como uma mulher que sabia ser serena diante das coisas. Como livre, ela poderia dizer sim e não para tudo que estava diante dela: ela escolheu dar um sim a Deus. Tudo, a partir daí, deveria estar em conformidade com esse sim.

Do mesmo modo, todo o chamado que Deus tem para as nossas vidas, precisa de uma decisão livre. Devemos ter a certeza de que podemos aceitá-lo, mas também podemos dizer um não. A nossa liberdade é a única coisa em que Deus não pode interferir, não porque Ele seja impotente, mas pelo fato de que estaria entrando em contradição com sua própria natureza, já que fizera o homem como ser dotado de liberdade para segui-Lo, ou não.

Que nós, assim como Maria, possamos assumir a proposta que Deus tem para as nossas vidas, sabendo que, ao tomar certo caminho, muitos outros serão postos de lado. E, sabendo que o chamado de Deus é garantia de vida eterna, possamos também ser serenos e não nos deixar mais que outros caminhos nos desviem da estrada que nos leva para a vida eterna.

Querendo ou não: somos um corpo



Estamos vivendo no mundo das especializações, da técnica que tudo fragmenta para melhor compreender. O saber torna-se cada vez mais disciplinar e a ciência, como produto dessa cultura, desenvolve-se a caminho de um conhecimento cada vez mais aprofundado da realidade. Entretanto, até que ponto todo esse progresso está sendo disponível para o bem comum? A globalização dos saberes e das riquezas está sendo realmente globalizada?

Em uma sociedade onde as habilidades humanas são exaltadas cada vez mais, toda capacidade individual passa a ser aproveitada pelas ciências – humanas ou técnicas – para o progresso da sociedade. Porém, os setores sociais parecem não levar em conta de que estamos inseridos em uma coletividade e fazemos parte da mesma raça: a humana, e por isso, todas as suas ações devem se desenvolver com esse pensamento.

A mentalidade do “cada um por si e Deus por todos”, na realidade é transformada em “todos contra todos e Deus por ninguém”. Os dons individuais passam a ser fonte de conflitos, cada pessoa tenta mostrar que sua habilidade é a melhor e que todos devem segui-lo, tudo que for diferente deve ser excluído do meio em que vive.

São Paulo nos apresenta a proposta cristã da verdadeira comunidade: “Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo” (1 Cor 1, 12). Somente quando temos a compreensão de que estamos integrados em um mesmo corpo social que tem o Espírito Santo de Deus, manifestado concretamente em Jesus Cristo, como fonte de unidade, podemos agir em função de um bem comum.

Essa era a mentalidade dos homens de Babel e nossa: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu” (Gn 11, 4). Queremos construir uma unidade fundada em nossas capacidades, sem nenhum paradigma que possa unificar as ações. Deus, porém, confunde a língua dos homens para mostrar que, isolados, não conseguiremos construir comunhão.

É Cristo, depois de ter sido reconhecido por suas chagas, quem nos diz: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22). Somente no espírito do Ressuscitado podemos compreender essa possibilidade de comunhão. O homem só pode se reconhecido como um outro Cristo a partir do momento em que sabe entregar sua vida em função do bem comum e que utiliza dos dons recebidos pelo Espírito de Deus para o benefício de toda a sua comunidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2, 4). O Espírito que Deus envia é dado a todos os que estão abertos à sua mensagem, aos que estão dispostos a negar-se a si mesmos e a se entregarem ao plano de unidade querido pelo Pai.

Que nós possamos sentir a necessidade de uma verdadeira comunidade fundada na compreensão orgânica de São Paulo, onde todos, com suas habilidades e limitações, sempre tem algo a contribuir para o bem comum. E que, ao tentar excluir um dos órgãos dessa sociedade estamos, na verdade, nos excluindo desse conjunto, desestruturando o corpo e negando Cristo, como cabeça dessa realidade.

Portanto, abramo-nos à possibilidade de construção da plenitude da comunhão social, que só é alcançada verdadeiramente quando sabemos aceitar os homens com seus dons e imperfeições, e na visão de que, juntos, podemos tornar real e presente a Realidade Divina Perfeita.

Comunicar a Verdade




O mundo pós-moderno está sendo marcado por uma comunicação de massa caracterizada pela enorme rapidez e amplitude de seu alcance. As informações conectam-se, a cada dia, a um número cada vez maior de pessoas. Uma multiplicidade de “verdades” é gerada pela diversidade de fontes emissoras. Mas, qual “verdade” estamos seguindo? A que satisfaz as nossas opções ou a que pode nos levar para uma vida mais justa e sólida?

Em uma cultura em que o homem é marcado pelo individualismo, a sua postura acaba sendo produto de uma concepção também isolada. A “verdade” que queremos ouvir é sempre a que agrada aos nossos sentimentos e, entre diversas proposições, acabo seguindo aquela que mais me identifico.

A amplitude do acesso aos meios de comunicação também faz com que surjam diversas “verdades”, cada um passa a dizer sua opinião sobre a realidade. Dependendo do modo como essas informações chegam às pessoas, elas passam a ser engolidas pelo homem sem ser mastigadas por um espírito crítico.

O problema é que, de tanto engolir sem digerir, acabamos por adquirir uma espécie de “câncer intelectual”. De tanto devorar as verdades que o mundo nos impõe corremos o risco de atrofiar a nossa inteligência e assumir a cultura do fast-food, da comida rápida e pronta. A autoridade da informação passa a ser confirmada somente pela fonte: “Vi na revista”, “Li no jornal”, “Assim eu ouvi no noticiário”...

É nesse contexto que a Igreja deve entrar. Ela, que tem nas mãos a fonte, não mais de uma verdade entre outras, mas da Verdade da Palavra de Deus, pode dar ao mundo uma direção mais sólida e justa. Porém, para que essa mensagem seja efetiva, isto é, chegue aos ouvidos e aos olhos das pessoas e possa ser abraçada por elas transformando realmente as suas vidas, ela deve estar repleta de bons frutos.

O cristão não é só chamado a dar ao mundo mais uma mensagem, um novo jeito de viver, ou uma maneira nova de se relacionar com as pessoas, mas deveria mostra o caminho, aquele que foi trilhado por Jesus Cristo, o caminho da Cruz que teve a Ressurreição como conseqüência lógica daquela opção.

Porém, para anunciar esse caminho, devemos segui-lo e dar testemunho dessa opção. Seria muito fácil apontar uma saída para os problemas da sociedade e dos homens, mas mostrar com a vida que o sentido da existência está em aceitá-la integralmente é a maior mensagem que os seguidores de Cristo podem transmitir ao mundo. O maior e mais eficaz meio de comunicação que o cristão pode dar ao mundo é a sua própria vida.

Como homens inseridos no século XXI, possamos assumir o que a sociedade nos oferece e fazer com que tudo seja moldado pela Verdade evangélica. Que a televisão, os jornais, rádios, internet e os outros meios de comunicação não sejam empecilhos que estejam em confronto com a Palavra de Deus, mas que sejam impulsionadores dessa ação.

O Espírito que impulsionou os apóstolos a anunciarem a verdade “até os confins da terra” (At 1, 8) nos ilumine para sermos capazes de dar testemunho de nossa fé em todos os momentos de nossa vida. Que, ao dar sentido a todos os momentos de nossa existência, tirando de cada um deles um ensinamento para o crescimento comum, possamos novamente receber o nome de seguidores de Cristo e anunciadores, não de uma opinião ou filosofia, mas da Verdade pronunciada pelo Pai.