segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Segunda feira da XXXI Semana do Tempo Comum


Segunda, 31 de outubro de 2011

Receberás a tua recompensa na ressurreição dos justos (Lc 14, 14)

Dentro de uma cultura como a nossa, voltada para a quantificação das coisas e das pessoas,acabamos por assumir essa mesma visão calculista. O prejuízo nas relações começa a surgir quando passamos a agir segundo um nível de cálculo. Vivemos interessados no que vamos receber, no que pensarão em relação a mim, nos benefícios que receberemos ao fazer determinada atividade. Enfim, tudo gira em torno do Eu interessado em si mesmo.
No evangelho Jesus nos ensina a entrar na dinâmica de uma verdadeira caridade, a que se fundamenta no mistério da gratuidade. Essa se caracteriza por um amor desinteressado, um pensar no outro sem esperar nada em troca e, mais do que isso, um olhar e agir sobre a necessidade do outro sem interessar-se por retribuição.
Jesus, em si mesmo, é o ícone desse amor gratuito. Ele é sinal de um amor de Pai que busca o bem dos filhos e mistério de um filho que dá a vida pelos amigos. É amor gratuito por que não o merecemos, ele nos é dado por um mistério de liberdade que ultrapassa a nossa compreensão.
Esse fato deve nos impelir a viver essa gratuidade de uma vida que em Cristo se faz plena. Compreendendo a vida como um dom podemos agir de forma menos interesseira, pois já não nos colocaremos mais no centro de nossas ações. Mais do que isso, receberemos a plenitude de uma vida justa, já que aprenderemos a nos colocar no nosso verdadeiro lugar.

O projeto é sempre de Deus


Quem se exalta será humilhado (Mt 23, 12)

Depois de baixada a poeira dos discursos e comentários – justos e injustos – sobre a morte do ditador líbio Muamar Gadaf devemos refletir sobre esse fato. Não, porém, como os veículos de comunicação demonstraram, mas com a tentativa de um olhar cristão.
É incrível como em pleno século XXI podemos ver imagens como as que foram escandalosamente divulgadas pela internet. Se disséssemos que aquele fato ocorreu a mil ou dois mil anos atrás, poderíamos chamar de barbaridade ou animalidade. Mas como podemos dominar aquilo? Revolta? Irracionalidade? Justiça humana?
Naquele rosto transfigurado não víamos um ditador, mas víamos um homem que gritava para viver, pedia aquilo que tantas vezes ele tinha tratado como objeto ou nada. Ele queria viver, ou, quando muito, sofrer pouco. Não podemos vibrar com a morte daquele ditador, não devemos justificar aqueles atos de barbárie, mas também, evidentemente, não temos nenhum direito de inocentar aquele que oprimiu seu povo por anos.
Devemos, a partir disso, construir uma visão evangélica dessa realidade. Vemos no centro de nossa discussão alguém que quis definir a verdade e o modo de ser de um povo. Como ditador, Gadaf dominou por anos a Líbia e ditou como bem queria as regras de sua nação. Afirmou-se, portanto, ao mesmo tempo “mestre”, “pai” e “guia”.
Mestre porque afirmava o que era certo e o errado para o seu povo, julgava-se definidor do bem e do mal para todo o povo. Pai, quando sentia-se no direito de proteger o seu povo de todas as ideologias que pudessem corromper a mente dos seus “filhos”. Guia, pois apontava os caminhos que deveriam ser seguidos e que, certos ou não, deveriam ser percorridos pelo povo.
Mesmo bárbara, sua morte mostra a revolta de um povo que sofreu por muitos anos a opressão de um só homem. Mais do que isso, apresenta o fim de todo modo absolutista de ver o mundo, a queda de toda estrutura de domínio que visa massacrar o homem e submetê-lo à vontade de um só homem ou uma só ideia.
Podemos ir muito mais além, esse fato nos faz compreender que o projeto que se desenvolve em nossa história é sempre de Deus, não podemos querer ditar o certo ou errado, o justo ou injusto. E se o fazemos, haverá o momento em que Deus retomará o seu projeto inicial: a salvação da humanidade.
Cristo apresenta-nos a imagem do servo como aquele que sempre tem o homem como fim último de suas ações. Não é o amor próprio, o desejo de estar sempre certo, ou a manutenção de nossa própria visão de mundo que deve estar acima de tudo e todos. Pois “quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado” (Mt 23, 12).
Olhemos para Maria e vejamos nela o ícone dessa que soube se humilhar diante do projeto de Deus. Ela que tinha diante de si todo um plano pessoal não se limitou a si mesma, ela foi além. Aquela jovem sabia que seus projetos, por si mesmos, seriam falhos. Só na obediência séria e integral à Palavra de Deus ela soube contemplar a presença de um Deus que se faz homem, entra na história e coloca o homem diante do seu caminho de Vida terna.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Amor que gera vida


Se somos constituídos de matéria, se nosso pensamento é falho, nosso conhecimento é limitado, se nosso destino físico é a morte, que sentido há em nossa existência? Se os homens são falhos, se as leis possuem barreiras, se os poderes instituídos podem fraquejar, que sentido há em obedecê-los?
O homem moderno olha para o mundo e, vendo a sua contingencia questiona o sentido de sua própria vida. Não há fim para aquele que não possui um presente consistente e uma origem definida.
Nós não somos uma religião da palavra, muito menos da lei, pertencemos a um povo de história, com um Deus que se revela nesse processo e nos dá um sentido para um mundo em caos. Diante da materialidade, da corrupção e da limitação das coisas e das pessoas a história nos mostra: temos um Deus que nos acompanha e nos fala.
Jesus apresenta o resumo desse falar de Deus: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22, 37). Não há sentido para interagir em um mundo limitado se não possuímos um absoluto que nos acompanha e nos mostra esse nosso fim eterno.
Amar a Deus está muito além de um sentimento abstrato, é fundamento de uma existência que está fadada ao fracasso se vive por si mesma. Não é sentimento vazio por que é com o coração, com a vontade que nos move a viver com os olhos em um futuro não próximo. É com a alma por que nos coloca diante de um Absoluto e nos torna mais humildes e humanos nessa interação. É com o entendimento por que nos capacita a viver e transformar a realidade que nos envolve.
Para provar que esse amor não é sentimento vazio Jesus ilustra por meio de uma segunda palavra: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37). Um princípio biológico fundamental do homem é a sua auto-conservação, queremos manter sempre a nossa própria vida. Se amamos a Deus, já temos um sentido de viver. Amar o próximo como a si é considerar a pessoa humana como centro dessa relação de amor para com Deus.
Maria nos ensina bem essa dinâmica do amor que ultrapassa o sentimento e torna-se vida. Ela não pensa em si mesma, mas abre-se à proposta de um Deus que, por amor, que entrar na história humana para redimir aqueles que estavam no pecado.
Com ela, aprendamos que a história ganha um novo sentido quando experimentamos um amor que gera vida, porque é dinâmico. Por ela, aprendemos a viver nesse mesmo amor que nos impele a olhar para um futuro que não nos deixa perder-se, porque é eterno.

Frutos da gratuidade

Todos nós possuímos uma vontade de domínio. Esse “dominar” é positivo quando nos leva a uma organização de nossa própria vida e a uma coerência com os nossos comportamentos. Por outro lado, esse domínio torna-se perigoso quando é convertido em posse. Imaginamos-nos donos de tudo o que nos envolve. Passamos a querer determinar o mundo, as pessoas, as relações, tudo segundo a nossa própria compreensão.
Essa postura é limitada porque distorce a nossa própria condição: somos seres criados. Fomos constituídos por meio de um processo histórico, cultural, simbólico e não contribuímos para a edificação de nossa existência. Somos frutos de um processo gratuito.
Quando “possuímos” algum objeto com defeito, vamos até a alguém que conhece a estrutura desse produto para que o reorganize, ou nós mesmos procuramos conhecê-la para o reparo. Do contrário, a manipulação de algo que não se conhece é como um disparo com arma de fogo dado ao escuro, pode não haver nada, mas também pode ser mortal. Tudo isso deve ser aplicado à vida.
No evangelho, Jesus aponta para o essencial de toda postura humana: “Daí, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus a Deus” (Mt 22, 21). Aqueles homens entraram em um mundo que não lhes pertencia, o conhecimento de Deus, e queriam extrair da própria Palavra de Deus um modo de ver e forjar o mundo.
A questão essencial da vida humana sempre ultrapassa as relações materiais, toca em um imperativo de nossa história: não fomos nós quem nos geramos a nós mesmos. Não possuímos essencialmente a existência, antes participamos de sua realidade, já que, a qualquer momento, podemos ser retirados dessa participação.
Jesus, porém, não nos pede um conformismo político ou um relativismo existencial. Ele nos ensina a colocar em ordem a nossa vida, distinguindo todas as nossas ações cotidianas: “Daí o que é de César a César”; e colocando em foco aquilo que é necessário: “Daí o que é de Deus a Deus”. Ou seja, devolver à nossa vida àquele que é a própria Existência.
São Paulo conseguiu bem distinguir essa postura essencial do homem: “O nosso Evangelho vos foi pregado não com palavras, mas com grande eficácia no Espírito Santo e com toda convicção” (1 Tes 1, 5). Ele sabia que, por mais que suas ações fossem fundamentais para a difusão do evangelho, aquela força não provinha de si mesmo, tudo era guiado, tudo era em nome do Pai, por meio do Filho sob a ação do Espírito.
Aprendamos com Maria a viver essa gratuidade da existência humana. Diante do projeto da encarnação do Filho de Deus, ela soube-se fazer serva, criatura daquela mesma Palavra. Com ela, a Palavra se faz Vida e a vida, mais Humana.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Segunda da XXVIII Semana do Tempo Comum

Segunda feira, 10 de outubro de 2011

Nenhum sinal lhes será dado a não ser o sinal de Jonas (Lc 11, 29)

Em muitos momentos de nossa vida, queremos “sinais” tanto da divindade como da presença de Jesus no meio de nós. Queremos que ele se faça presente em nossa história, mas como um movimento exterior, sem a nossa participação. Buscamos esse Deus por meio de sentimentos, imagens místicas, manifestações extraordinárias, ou seja, à forma que o imaginamos.
No Evangelho, Jesus quebra com essa compreensão. Não há maior sinal do que o da história: Deus sempre se comunica com o seu povo, somos nós quem não queremos ouvi-lo. Ele tem um projeto de salvação para os seus filhos, mas nós quem esquecemos essa realidade e sempre tornamos a buscar “sinais”.
Olhar para a nossa própria história é o movimento mais objetivo quando queremos ver a presença de Deus em nossas vidas, não há mistério. Provações e alegrias, prazer e dor estão na dinâmica de uma Palavra Divina que nos quer modelar para a Perfeição. Rejeitar alguns momentos dessa história e querer esquecê-los é negar a dinâmica da vida que nos prova para a nossa fortaleza.
Aprendamos, nesse sentido, a calar-se diante de um Deus que não para de falar. Ele sempre estar caminhando conosco, entre os percursos mais difíceis, mas não nos abandona. E são nos momentos mais complicados que o seu amor de Pai se revela: Ele deseja filhos fortes, comprovados e firmes na fé.

sábado, 8 de outubro de 2011

Um banquete de vida


Por que, muitas vezes, rejeitamos participar desse banquete preparado pelo Rei para o seu Filho? Não o queremos talvez por que nos achamos indignos de sermos considerados apenas “convidados”, queremos mais do que isso.
Achamos melhor fazer a nossa própria vida (cf. Mt 22, 5). Queremos dominar todos os nossos bens, criar e manter as nossas próprias relações e, conseqüentemente, agir sobre o mundo como se ele nos pertencesse. Rejeitamos o convite do anfitrião porque talvez queremos sê-lo, queremos um mundo, pessoas e relações à nossa “imagem e semelhança”.
Esse Rei, porém, não desiste da festa. Não acaba com ela, antes, amplia o convite: todos são chamados para o seu banquete (cf. Mt 22, 9). Ele chama a todos não porque necessita de convidados, mas para manifestar que sua festa não é destinada a um grupo isolado; A sua alegria é destinada a todo aquele que procura entrar em comunhão com ele.
Entretanto, para participar dessa festa é preciso ter as “vestes” convenientes. Estar preparados interna e externamente para essa comunhão. Assim, do mesmo que a roupa corre o risco de enganar e trazer para a festa pessoas inconvenientes, os trapos de um comportamento também refletem uma desordem interna.
Não há perdão para aqueles que não vivem esse novo modo de ser, não há perdão para os que não manifestam essa alegria por participarem do banquete. Esse, mais cedo ou mais tarde, estará fadado a um fracasso que o faz cair nas trevas de sua própria contradição, do seu orgulho imobilizador.
O homem moderno corre o risco de entrar nessa mesma dinâmica. Está tão amarrado em sua própria compreensão de mundo que ignora o convite de Deus, agora universal: “Vinde para a festa” (Mt 22, 4). Rejeitam esse convite porque ainda querem o mundo que forjaram para si mesmos.
Que nós possamos nos abrir à proposta desse Rei, que pede de nós apenas um sim. Não há complexidade nesse convite, basta apenas uma abertura integral. A festa já foi completamente preparada, é preciso apenas que estejamos com as vestes adequadas, com a abertura necessária para festejar esse Filho que vive em nosso meio.
Olhemos para Maria. Em sua vida ela nos manifestou toda uma alegria de viver em comunhão com o Rei. Como nas bodas de Caná, ela foi quem cooperou para que não faltasse nada. Por meio dela, o melhor vinho foi servido e entregue a todos como manifestação de uma alegria que gera e manifesta comunhão.

Sábado da XXVII Semana do Tempo Comum


Sábado, 8 de outubro de 2011
 
Beato aquele que ouve a Palavra de Deus a observa (Lc 11, 28)

Aquela mulher que grita da multidão não estava errada: “Beato o ventre que te portou e o seio que te amamentou!” (Lc 11, 27). Ela reforça a mensagem do anjo quando anunciou a encarnação. Jesus rejeita essa realidade, mas dá a ela uma nova e ampla compreensão.
A grandeza de Maria não estava apenas na geração biológica do Filho de Deus, mas na obediência àquela proposta. Se o processo estivesse reduzido apenas ao humano, tudo poderia dar-se por perdido. A compreensão de uma gestação sem ação humana é impossível, mas é aqui que se inicia o mistério.
Jesus indica que sua encarnação não se caracteriza apenas como um processo humano. Ela vai além, quando se torna movimento de um Deus que fala aos homens uma Palavra de Vida, vida que, entregue, gera salvação.
Se queremos definir tudo o que está ao nosso redor, nos julgamos portadores de uma verdade última, o que é, também em todos os sentidos, impossível. É preciso entrar na dinâmica do silêncio, deixando que tudo se revele ao seu tempo e modo.
Olhando para Maria, saibamos assumir esse silêncio em nossas vidas. A sua grandeza estava nesse curvar-se diante da perfeição do Deus que faz-se carne, sua nobreza se revelou quando ela ouviu a Palavra de Deus e, mesmo sem entender, colocou-se a disposição daquele grande projeto. Nesse seu silêncio, a Palavra, verdadeiramente, fez-se Homem.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Memória de Nossa Senhora do Rosário

Sexta, 7 de outubro de 2011

Eis a serva do Senhor (Lc 1, 38)

Lembrar Nossa Senhora do Rosário, antes de tudo, é tornar célebre a memória dessa que soube, verdadeiramente, contemplar os mistérios de Deus. A grandeza de Maria estava exatamente em sua humildade: mesmo não compreendendo aquela realidade, estava aberta ao mistério Divino.
Ao receber o anúncio da encarnação do Verbo, pergunta a jovem: “Como acontecerá isto, se eu não conheço homem algum?” (Lc 1, 34). Ela, de dentro do seu íntimo, questiona-se sobre essa realidade. Logicamente, seria impossível ocorrer esse fato. Porém, a sua grandeza se revela exatamente aqui. O seu “faça-se” é sempre abertura ao inexplicável.
Em um mundo marcado pela objetivação das coisas e das pessoas, muitas vezes nos fechamos à presença de um Deus que age constantemente na história. A ciência e a técnica chegaram a um estágio tão avançado de domínio que sufoca qualquer realidade sobrenatural. Tudo, à sua compreensão, pode ser qualificado, quantificado e esquadrinhado, isto é, determinado.
Celebrar a Virgem Maria nos faz entrar na dinâmica daquela que soube se abrir ao projeto de Deus que queria entrar na história em nossa própria carne, sem manipulações ou determinações humanas. Como biologicamente isso pode acontecer? Filosoficamente, como Deus, como ser perfeito, pode se tornar matéria? Como Rei Altíssimo, não haveria um modo mais “rápido” de salvar os homens?
Ao tentar responder essas perguntas, corremos o risco de entrar em um espaço que não nos pertence. A única postura que o homem pode assumir, abraçando a sua própria realidade, é parar, silenciar e curvar-se diante desse mistério por que nele vemos a própria face de Deus. Ela não pode ser esquadrinhada pelo nosso racionalismo, mas apenas adorada pela nossa fé.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quinta feira da XXVII Semana do Tempo Comum

Quinta, 6 de outubro de 2011

O vosso Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem (Lc 11, 13)

A imagem do Deus Pai reforça a ideia de um Deus que cria um mundo, coloca uma ordem nele, gera o homem à sua “imagem e semelhança” e mantém governando essa estrutura. Como verdadeiro Pai, ele não está somente preocupado com o zelo material da casa, ele vê principalmente as necessidades dos filhos.
Deus Pai não abandona a esses filhos e está sempre pronto a acolhê-los quando eles, saindo de casa, se desviam pelos maus caminhos, não porque ele seja injusto, mas pelo fato de amar verdadeiramente os seus filhos e saber todas as suas limitações. Ele ensina: “Pedi e vos será dado, procurais e encontrareis, batei e vos será aberto” (Lc 11, 11).
Esse pedido, todavia, não é semelhante ao imediatismo e objetivismo de nossa cultura. Ele necessita ser respondido ao tempo desse Pai, que pode não ser o nosso. “Pedi”: a súplica, porém, precisa ser modelada, reformada a cada dia, à medida que vamos percebemos a verdadeira necessidade.
Não podemos querer receber todas as coisas já prontas, é preciso luta, sacrifícios, renúncias para essa grande investigação sobre esse tesouro último da vida humana, deste modo nos é dito: procurais.
Por último nos é confirmado: “Batei e vos será aberto”. À medida que amadurecemos a compreensão de nossas verdadeiras necessidades torna-se mais fácil a sua construção, o esforço para que ela possa ser realizada. Devemos saber que, em tudo isso, temos a ajuda de um Pai que nos acompanha e protege nessa ansiosa busca pela vida eterna.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quarta feira da XXVII Semana do Tempo Comum

Quarta, 04 de outubro de 2011

Senhor, ensina-nos a rezar (Lc 11, 1)

Vivemos em uma estrutura de mundo tão marcada pelo interesse objetivo por coisas e relações que corremos o risco de inserir Deus nesse mesma pedagogia. Na cultura da compra fácil, dos pedidos via web, da comida rápida e pronta, nosso diálogo com Deus também pode receber essa mesma compreensão.
Nesse caminho, passamos a imaginar e pensar um Deus que deve atender às nossas necessidades. Pedimos o que nós necessitamos, ou melhor, o que pensamos ter necessidade. Como se compreendêssemos toda a dinâmica de nossa vida.
A imagem do Deus Pai (cf. Lc 11, 1) nos faz entrar na compreensão de um Deus que conhece todas as nossas necessidades e sabe do que precisamos. A postura necessária, portanto, passa a ser de abertura a esse Pai que nos conhece inteiramente, não só por que nos gerou à sua “imagem”, mas por que também é responsável pela casa na qual estamos inseridos.
Além dessa abertura integral ao Pai e a sua Palavra, esse diálogo, por ser comunitário, também nos apresenta um novo modo de irmãos. E se recebemos de um Pai uma mesma educação, seria coerente agirmos com uma mínima fraternidade.
A oração do Pai, que é nosso, não meu, nos incentiva a entrar em uma relação mais aberta com Deus e nos compromete, de forma mais objetiva, com os nossos irmãos nesse mesmo Pai. Não mais falamos com Ele para pedir coisas, mas unicamente para nos ajudar a compreender a dinâmica e a ordem da casa que ele fez para que morássemos juntos, mas com Ele.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Festa de São Francisco de Assis

04 de outubro de 2011

Vinde a mim... eu vos darei descanso (Lc 11, 28)

Todo aquele que realiza uma escalada em uma grande montanha sabe todo o material que deve levar. Mais do que isso, como a escalada é árdua, sabe também que não deve levar muita coisa, somente o básico, do contrário, seu percurso vai ser muito mais penoso.
Mesmo sabendo que vai precisar de descanso, ele não pode levar um colchão inflável ou uma cadeira confortável, consciente de que terá muita sede, não pode levar nenhum refrigerador, mesmo precisando de um momento de distração, ele sabe que o peso um livro pode lhe custar muito.
Do mesmo modo é a nossa relação com Deus, ela se desenvolve semelhante a uma escalada: quanto menos coisa se levar, melhor. São Paulo aprendeu bem que, nessa escalada, ele deveria deixar de lado muito de seus bens: “O mundo para mim está crucificado como eu estou para o mundo” (Gl 6, 14).
Em uma cultura que prega uma riqueza de coisas, bens, pessoas e relações, o valor de Deus e de sua Palavra tornam-se ameaçados. Quando não, passa a ser um mero acessório nas mãos daqueles que querem uma vida “prazerosa”. A “morte” do mundo – e por crucifixão – significa a negação de tudo àquilo que pode deixar Deus em segundo lugar.
Entretanto, haverá um momento nessa subida em que até o mínimo que temos deve ser deixado. É o espaço de uma pequena escada que nos leva para o objetivo escolhido. Qualquer peso poderá rompê-la. É preciso estar totalmente despojado e ser plenamente livre.
Cristo é aquele que soube subir essa escada (cf. Lc 11, 28ss). Ele, despojado de tudo, foi elevado no alto de uma cruz e abriu esse caminho rumo à Ressurreição. Conquista  essa pertencente a todo aquele que busca um contato maior com o Pai do Céu.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Segunda feira da XXVII Semana do Tempo Comum

Segunda, 03 de outubro de 2011

Quem é o meu próximo?

A pergunta que Lucas coloca na boca de um mestre da Lei (cf. Lc 10, 29) é central para compreender a dinâmica da vida cristã. “Quem é o meu próximo?” Quem é aquele que necessita de minha ajuda? Ele está realmente próximo? Eu me faço próximo?
Jesus ilustra esse “carente” com uma interessante imagem: “Um homem descia de Jerusalém...” (Lc 10, 30). A partir daqui, tudo pode ser comparado a um distanciamento do homem em relação à sua terra natal, ao ambiente que lhe é natural. “Ele descia”, “caiu na mão de bandidos”, “roubaram-lhe tudo”, “bateram-lhe até ao sangue”, “como morto”...
Não há mais vida para aquele que se distancia de Deus e sua Palavra, realidades que nos dá, mantêm e justifica a nossa existência. Todo o homem que busca se afastar de Deus procura, nesse mesmo movimento, a dor de sua própria condenação. Os “infernos” retiram toda a nossa dignidade e nos faz viver “como morto”.
Jesus nos aponta o caminho inverso: a caridade. Olhar para todo aquele que se desvia da Palavra de Deus, mas como alguém que necessita da minha ajuda, é o caminho contrário ao da perdição. Cristo mesmo retoma esse movimento não só com Palavras, mas com a sua própria vida. De perdido que estávamos por não ouvir a voz de Deus Pai, somos salvos pelo amor, curados e colocados de volta no caminho rumo a Jerusalém.
A questão que se põe é: queremos voltar à essa cidade? Ou estamos firmes em prosseguir por caminhos que nós optamos?

sábado, 1 de outubro de 2011

Servos da vida


Todo homem nasce com um projeto de vida que lhe é intrínseco. Diante do projeto de uma ordenação do mundo que, do caos, se fez ordem, também entramos nessa dinâmica pala colocar ordem em nossa existência. Não somos filhos do caos.
A nós é dado um corpo, habilidades, dons, um contexto em possamos desenvolvê-los, pessoas com quem podemos interagir. Temos uma inteligência e uma vontade, faculdades pelas quais podemos organizar, manter e aperfeiçoar todas essas relações, para que colocarmos uma ordem nessa nossa “vinha” (cf. Mt 21,33ss).
Porém, toda vinha precisa de um administrador, precisa de alguém que a organize, que tenha uma visão completa do espaço, que oriente o que deve ser feito. Alguém que não apenas seja “dono” por direito da vinha, mas que tenha autoridade sobre ela por que a conhece por completo, compreenda todas as “técnicas”, as limitações dessa prática, os tempos oportunos de plantar, os momentos de espera e o dia da colheita.
Porém, assumimos uma falsa compreensão de que temos que ser os nossos próprios patrões. Queremos tomar posse dessa vinha, ser os seus verdadeiros donos. A lógica quase sempre é a mesma: “Se somos nós quem trabalhamos, nós devemos ter todos os direitos sobre ela” (cf. Mt 21, 35-39). Falsa ilusão, já que nem sempre sabemos de toda a logística que lhe é necessária, não temos uma visão total sobre ela, somos apenas servos.
Mais do que isso, rejeitamos esse administrador por que lutamos por um conceito vago de “liberdade”, conceito esse que ainda não conseguimos definir ou determinar. Queremos matar o próprio “dono” por que não queremos ouvir outra voz que não seja a nossa.
Somos portadores de uma vinha, mas não a possuímos por direito já que não fomos os responsáveis pela sua realização, não a planejamos: ela é sempre gratuita. Algo que nos é dado para a nossa administração. Mas virá o tempo em que o verdadeiro proprietário virá para tomar posse daquilo que é dele (cf. Mt 21, 40). E nós, o que temos para prestar-lhe contas?
Não aconteça que esse administrador nos apanhe de mãos vazias, não aconteça que o próprio dono da vinha nos surpreenda sendo tiranos de algo que é dele. Possamos apresentar a ele os frutos justos do nosso trabalho para que recebamos o verdadeiro e justo salário (Mt 21, 43).
Maria é esse paradigma de serva, que não reclama ou rejeita a voz do seu dono, apenas obedece. Pelo seu sim integral ela conseguiu gerar o verdadeiro fruto que gera a vida, seu trabalho, mesmo que árduo, não foi em vão. Como ninguém, ela soube fazer de sua existência um solo fértil onde germinou boa uva, uva que se fez vinho, sangue e vitória...

Sábado da XXVI Semana do Tempo Comum

Sábado, 01 de outubro de 2011

Muitos profetas e reis quiseram ver isso que vocês vêem...

Entrar na dinâmica de Cristo como Palavra de Deus implica entrar em sua própria existência. Ultrapassar o seu personagem como um “herói” político ou espiritual e viver os seus passos. Como homens, podemos buscar aquilo para o qual fomos destinados: a nossa santificação.
Entretanto, essa proposta santidade apresentada por Deus desde a nossa criação, quando nos criou à sua “imagem”, não se define apenas como uma técnica de bem viver, uma metodologia da humanidade, um conjunto de artifícios para ser feliz.
O sentido de nossa santificação é a comunhão com o Pai. Assim, confirma o Senhor: “Não se alegrais apenas porque os demônios obedecem a vocês; antes, alegrai-vos por que os vossos nomes estão escritos nos céus” (Lc 10-20).
Realizar obras de caridade, em todas as suas esferas, contribui para a nossa santificação não por que “contabilizamos” boas obras diante de Deus, mas porque nos aproximamos mais de sua perfeição.
Desde modo, a alegria do Senhor é saber que dinâmica é reconhecida por muitos: “Rendo-te graças, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, por que escondestes essas coisas aos sapientes e aos doutores e as revelastes aos pequeninos” (Lc 10, 23). Afastar os males de nossa vida não implica apenas um gesto de aperfeiçoamento individual, mas nos lapida e nos conforma ao nosso tamanho e forma: filhos pequenos, semelhantes ao Pai.

Sexta feira da XXVI Semana do Tempo Comum

Sexta feira, 30 de setembro de 2011

Ai de ti...

Se um dia qualquer estivéssemos realizando um turismo em uma das florestas na Amazônia e, em algum momento eu me desviasse, querendo ou não. O guia certamente me chamaria à atenção, tentaria me ensinar o caminho correto que estavam em seguir os seus passos. A questão é sempre a mesma: eu posso ouvi-lo, ou não...
O profeta Baruc descreve: “pecamos contra o Senhor, temos desobedecido, não temos escutado a voz do Senhor, nosso Deus, que ensinava a caminhar segundo os decretos que o Senhor nos havia colocado diante de nós” (Bc 1, 17-18). Cristo, em seu evangelho complementa: “Que vos escuta, escuta a mim. Quem vos despreza, despreza a mim. E quem despreza a mim, despreza aquele que me enviou” (Lc 10, 16).
Deus é o nosso guia não por que ele tem desejo de mandar e nos subordinar à sua voz. Ele é guia por que conhece todas as realidades dessa grande floresta que é a existência humana. Mas ele não exorta apenas como quem conhece teoricamente a floresta, ele sabe porque viveu nesse espaço, conhece onde estão todas as feras. Ele reconhece todos os caminhos, desvios e o fim que desse ser atingido.
Ele, nessa trilha, sempre está a nos ensinar: “Cuidado aqui!”, “Permaneça atento nesse local”, “Ali estão as feras”... Quando caímos ou temos dificuldade em algum percurso, ele pode nos ajudar a andar. Porém, uma única coisa que ele não pode fazer é nos arrastar forçadamente para o caminho que se quer deseja, temos que ouvi-lo.

Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael

29 de setembro de 2011


... tu és o Filho de Deus

Celebrar a festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael é mais do que lembrar a memória desses santos que são de nossa devoção particular. Eles apresentam a nós a presença de um Deus na história. Deus fala, age e santifica por meio dos seus anjos e, mais do que isso, o próprio Deus se faz presente em nossa história.
Natanael se surpreende quando Jesus demonstra conhecê-lo mesmo antes de eles se conhecerem. Porém, Jesus não nos conhece apenas por meio de um conhecimento divino – que já seria o suficiente –, mas como aquele que está ao nosso meio, ao nosso lado.
Jesus mesmo aponta para essa realidade: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o filho do homem” (Jo 1, 51). Nele, se instaura um novo tipo de relação entre Deus e os homens. O que antes era somente comunicado por palavras humanas, agora é materializado pela própria Palavra Divina.
Que possamos compreender essa nova dinâmica confirmada em Jesus: Deus quer se comunicar conosco. Em Miguel aprendemos que Deus é Santíssimo e quer nos fazer santos por participação. Com Gabriel aprendemos a nos manter firmes na Palavra de Deus e, como Maria, torná-la viva em nosso meio. Rafael nos ensina a possibilidade que há em Deus de nos restaurar em sua Vida... basta que digamos apenas um “sim”.