segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O projeto é sempre de Deus


Quem se exalta será humilhado (Mt 23, 12)

Depois de baixada a poeira dos discursos e comentários – justos e injustos – sobre a morte do ditador líbio Muamar Gadaf devemos refletir sobre esse fato. Não, porém, como os veículos de comunicação demonstraram, mas com a tentativa de um olhar cristão.
É incrível como em pleno século XXI podemos ver imagens como as que foram escandalosamente divulgadas pela internet. Se disséssemos que aquele fato ocorreu a mil ou dois mil anos atrás, poderíamos chamar de barbaridade ou animalidade. Mas como podemos dominar aquilo? Revolta? Irracionalidade? Justiça humana?
Naquele rosto transfigurado não víamos um ditador, mas víamos um homem que gritava para viver, pedia aquilo que tantas vezes ele tinha tratado como objeto ou nada. Ele queria viver, ou, quando muito, sofrer pouco. Não podemos vibrar com a morte daquele ditador, não devemos justificar aqueles atos de barbárie, mas também, evidentemente, não temos nenhum direito de inocentar aquele que oprimiu seu povo por anos.
Devemos, a partir disso, construir uma visão evangélica dessa realidade. Vemos no centro de nossa discussão alguém que quis definir a verdade e o modo de ser de um povo. Como ditador, Gadaf dominou por anos a Líbia e ditou como bem queria as regras de sua nação. Afirmou-se, portanto, ao mesmo tempo “mestre”, “pai” e “guia”.
Mestre porque afirmava o que era certo e o errado para o seu povo, julgava-se definidor do bem e do mal para todo o povo. Pai, quando sentia-se no direito de proteger o seu povo de todas as ideologias que pudessem corromper a mente dos seus “filhos”. Guia, pois apontava os caminhos que deveriam ser seguidos e que, certos ou não, deveriam ser percorridos pelo povo.
Mesmo bárbara, sua morte mostra a revolta de um povo que sofreu por muitos anos a opressão de um só homem. Mais do que isso, apresenta o fim de todo modo absolutista de ver o mundo, a queda de toda estrutura de domínio que visa massacrar o homem e submetê-lo à vontade de um só homem ou uma só ideia.
Podemos ir muito mais além, esse fato nos faz compreender que o projeto que se desenvolve em nossa história é sempre de Deus, não podemos querer ditar o certo ou errado, o justo ou injusto. E se o fazemos, haverá o momento em que Deus retomará o seu projeto inicial: a salvação da humanidade.
Cristo apresenta-nos a imagem do servo como aquele que sempre tem o homem como fim último de suas ações. Não é o amor próprio, o desejo de estar sempre certo, ou a manutenção de nossa própria visão de mundo que deve estar acima de tudo e todos. Pois “quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado” (Mt 23, 12).
Olhemos para Maria e vejamos nela o ícone dessa que soube se humilhar diante do projeto de Deus. Ela que tinha diante de si todo um plano pessoal não se limitou a si mesma, ela foi além. Aquela jovem sabia que seus projetos, por si mesmos, seriam falhos. Só na obediência séria e integral à Palavra de Deus ela soube contemplar a presença de um Deus que se faz homem, entra na história e coloca o homem diante do seu caminho de Vida terna.

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