sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Família, lugar de transmissão da fé

[Reflexão realizada na festa de São Sebastião, capela do Serrote da Cruz em Caicó-RN, em 13 de janeiro de 2011. Tema da noite: Família, lugar de transmissão da fé; Evangelho: Lc 2, 41-52]

Desse Evangelho de Lucas, um versículo salta aos nossos olhos: “Jesus desceu então com os seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente”. (Lc 2, 51). Mesmo tento acabado o tempo do Natal do Senhor, o fato do Deus que se encarna na natureza humana e permanece seguindo as suas leis ainda continua a nos ensinar.

Sim, Jesus, o menino Deus, se submetia à organização de uma família humana. Deus se curva diante do mistério da união entre homem e mulher. Uma união que torna o amor material, tão concreto que faz gerar a vida, um novo homem: os filhos.

Se o próprio Deus obedece à organização familiar, se curva diante dessa estrutura, é porque ele reconhece o seu valor. Ele sabe que é no colo do pai e da mãe (paternidade ou maternidade) que os filhos podem realmente crescer na fé e na maturidade humana e comunitária. É nesse sentido, Evangelista Lucas continua a sua citação: “E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc 2, 52).
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Toda a santidade de Jesus foi construída dentro de uma família humana. A educação simples e humilde que ele recebia dos seus pais foi de extrema importância para que ele crescesse, evoluísse em todos os aspectos humanos: espiritual, humano e comunitário. A divindade de Jesus foi confirmada, não porque ele buscou “ser Deus”, “ser o maior”, mas por que ele soube aceitar a condição que estava sendo destinada a ele: ser filho, ser homem no meio dos outros.

Tudo isso nos ajuda a compreender que é na família que podemos encontrar o primeiro espaço privilegiando para a educação na fé dos filhos e dos futuros cidadãos. É na família, “lugar e escola de comunhão” (DAp 302), que os grandes homens e os futuros santos de nossa comunidade encontram o espaço privilegiado para o crescimento.

E quais são as boas escolas? Evidentemente são as que possuem bons professores. Os pais, nesse sentido, esses primeiros mestres nessa “escola de fé”. São eles os primeiros responsáveis por uma educação sadia de filhos, para que eles se aproximem, também de forma sadia, de Deus e de seus irmãos.

Porém, com diz o ditado: “Ninguém dá aquilo que não tem”. Nenhum professor pode chegar na sala de aula sem um conteúdo para ser discutido com os seus alunos. Do mesmo modo, os pais não devem entrar nessa escola sem nada a oferecer a os seus filhos.

Porém, o maior dos bens que eles têm a oferecer para os filhos não é a alimentação, a moradia, muito menos outros bens materiais, mas a educação. Essa é a capacidade que o homem tem de superar a si mesmo, ultrapassar as suas limitações e ir aos seus irmãos por meio do serviço. Serviço esse que só pode se concretizar por meio daquele que nos ensinou o caminho das maiores fontes da vida: o amor caridade.

Com isso, nos apresenta o Documento de Aparecida (303): “[...] é dever dos pais, especialmente através do seu exemplo de vida, a educação dos filhos para o amor como dom de si mesmos e a ajuda [...] para descobrir sua vocação de serviço, seja na vida leiga como na vida consagrada”. O maior dos modos de ensino ontem, hoje e sempre é o testemunho de vida. Os pais só podem exigir dos filhos aquilo que eles estão fazendo, nada mais.

É no ambiente doméstico que se dá a maior das aulas, a maior das catequeses e a maior das lições: aquela que ensina a viver, a que ensina a homens e mulheres o caminho para a santidade. É no lar podemos encontrar a grande escola da vida, a verdadeira “escola de fé”.

Entretanto, devemos aprender que essa educação não pode surgir sem o espírito de entrega e sacrifício na relação entre pais e filhos. A obediência que os filhos devem aos pais, mesmo que dolorosa os ajuda a se manterem firmes e obedientes também perante um Deus Pai que também se preocupa com os seus filhos. Do outro lado, o amor-doação que os pais devem aos filhos confirma o sacramento que realizaram. Nesse amor, eles tornam concreto mais uma vez o Deus Amor, Sacrifício e Doação.

Nessa compreensão, temos a nosso favor o exemplo de São Sebastião. O testemunho desse mártir, que soube doar sua vida em razão da fé em Jesus Cristo, é para nós uma grande motivação e ensinamento de que o sofrimento também é via de crescimento espiritual e humano. Peçamos a interseção desse grande Santo de nossa Igreja para que o seu exemplo fortaleça as nossas famílias no amor doação, no Amor Caridade.

Que no dia de hoje, possamos olhar para a Eucaristia como esse mesmo espírito que fez São Sebastião a entregar a sua vida em defesa de sua opção. Que a imagem do Cristo, Pão da vida, nos ensine também a ser alimento, fonte de vida e crescimento para os nossos irmãos. Que nossas famílias cresçam cada vez mais nesse mesmo espírito de doação, na educação de seus filhos na fé em um Deus que também é entrega, é sacrifício em favor dos seus filhos adotivos. Adoção essa conquistada pelo mistério da entrega e do Deus Pai que se fez Filho para gerar o sacramento do Amor.