quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quarta feira da I Semana do Advento

Quarta, 30 de novembro de 2011

“Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus” (Mt 4, 20)

A chamada de Jesus apresenta duas dimensões complementares. A primeira exige uma entrega integral da própria vida. A segunda propõe o fato de que seguir os passos de Jesus não implica sair de nossa própria história, pelo contrário, nossa existência é iluminada à luz desse chamado. Tudo isso é fundamentado em um princípio definitivo: essa chamada não exige argumentação.
Seguir Jesus não implica, portanto, mais um modo de agir ou pensar, mas ver o mesmo mundo e as nossas ações sob uma nova perspectiva. De fato, a Palavra que se faz carne nos ensina que Deus continua a falar aos homens, nos dá uma Palavra de Vida e essa Palavra é viva e presente em nossa história. Deus não fala em uma esfera alheia à nossa, ele é presença viva e quer que nós também gozemos dessa alegria.
Saibamos olhar para o chamado de Cristo não como um sacrifício ou negação de nossa história, mas com uma confirmação fundamental de nossa existência. Sob à luz da Palavra de Deus, o homem é chamado a uma nova perspectiva de sua história. À luz do verbo que se fez carne somos chamados a olhar a plenitude de uma vida que nasce a cada momento em nosso tempo e espera ser encontrada.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Terça feira da I Semana do Advento

Terça, 29 de novembro de 2011

“Beatos são os olhos que vêem isto que vocês vêem” (Lc 10, 23)

O grande mistério do Advento é sintetizado na esperança da encarnação do Verbo de Deus. A grande esperança no Messias se torna plena nesse fato: Deus, de fato, se faz presente no meio de nós, não mais com palavras, mas em forma humana. Admiramos esse fato, mas até que ponto o aceitamos?
Muitas vezes buscamos uma palavra que dê força e sentido à nossa vida, pedimos a graça de ouvir, entender e aceitar essa via de felicidade. Porém, o que acontece é que quando essa Palavra nos é dada, não estamos prontos para ouvi-la, entendê-la ou aceitá-la. Isso porque ela vem de uma forma que não estamos esperando ou que não queremos abraçar.
A encarnação de Jesus sintetiza esse movimento de uma Palavra que foi dada no tempo e na história, mas que não foi aceita por muitos. Ela, não foi aceita não pelo fato de ser Palavra de Deus, mas porque veio de uma forma que os homens não esperavam. O Filho de Deus, que nasce em uma manjedoura, gerado por uma jovem desconhecida é motivo de confusão para aqueles que esperavam um reino humano.
Olhemos para o mistério do Advento que culmina no nascimento de Jesus como tempo de preparação. De fato, precisamos preparar bem o nosso coração para receber a Palavra de Vida que tanto buscamos, mas que vem de uma forma que não esperamos, de um modo que não entendemos e em uma hora que não planejamos, porque é mistério divino.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Segunda feira da I Semana do Advento

Segunda, 28 de novembro de 2011

“Muitos virão do oriente e do ocidente e se sentarão à mesa com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus” (Mt 8, 11)

A grandeza de fé daquele soldado estava na esperança que ele tinha na Palavra de Jesus. Ele não esperava que Jesus realizasse um fenômeno extraordinário de cura, apenas a sua Palavra bastaria. Essa Palavra vai além de uma expressão que sai “da boca para fora”, é Palavra pronunciada pelo próprio Verbo de Deus e, portanto, possui toda a autoridade.
Em um mundo de tantas palavras, ficamos confusos, quase surdos, sem saber o que ouvir definitivamente. As palavras são múltiplas, variadas, com diversos objetivos, diversos sentidos de ser, múltiplas formas, muitas intenções. É difícil, nesse emaranhado de vozes, ouvir uma Palavra de Vida Plena. Porém, foi esse o movimento realizado por aquele homem: “diga somente uma palavra e o meu servo será curado” (Mt 8, 8).
Peçamos ao Senhor a graça de ouvir essa Palavra de Vida Eterna. Sabemos que é difícil em um mundo de muitos sons. Porém, peçamos a graça não só para ouvir, mas para saber distinguir das outras vozes e entender o que ela ensina. Somente ouvindo e entendendo, seremos capazes de confiar em sua autoridade e segui-la, sem muitas justificativas ou argumentações.

Esperança no Senhor



“Isso que eu digo a vós digo a todos: ‘Vigiai’” (Mt 13, 37)

O Tempo do Advento é eminentemente tempo de Espera. Aguardamos ansiosamente a vinda do Filho do Homem, Verbo que se faz Carne, entra na humanidade e apresenta definitivamente a Palavra de Deus. É tempo de preparação, esperança de que Jesus se faça presente em nossa humanidade, alegria com a plenitude da comunhão entre Deus e homem.
O Evangelho nos aponta para a realidade da vigilância. Esperamos a plenitude da comunhão entre Deus e os homens, não por um contato recíproco, mas por uma livre e amorosa manifestação de Deus por meio de seu Verbo Eterno, Jesus Cristo. É Deus que vem até nós. E é exatamente essa vigilância que faz com que essa Palavra não passe por nós e não gere uma conversão de vida, ou seja, preencha a nossa existência.
A imagem do Dono da Casa é capital para que nós compreendamos a nossa verdadeira relação com Deus e, conseqüentemente, nossa verdadeira identidade. Não somos donos de nós mesmos, não temos o direito absoluto sobre a nossa vida, nossos conhecimentos, ou nossas vontades, somos administradores de uma existência que pertence a uma realidade absoluta, que vai além de nós mesmos, ou seja, Deus. Ele é o verdadeiro dono de nossa casa.
A vigilância apresentada por Cristo nos ajuda a compreender que não podemos viver de modo alheio, como se fossemos donos de tudo, definidores do bem e do mal. Precisamos de princípio, nortes, paradigmas, enfim, uma Palavra de Vida. E é essa Palavra que dá ordem ao nosso cuidado com a vida, faz com que nossa administração siga um norte, siga os projetos daquele verdadeiro dono, aquele que verdadeiramente conhece todos os espaços dessa nossa habitação.
Ser vigilante é fugir de qualquer falsidade, é não agir conforme agrada o patrão, só para não ser castigado. Não só trabalhamos em função desse “senhor”, mas também usufruímos dos frutos dessa administração, participamos das riquezas dessa experiência de vida que torna-se agradável quando é natural. Tornamos a nossa vida muito mais feliz quando essa atividade se desenvolve de forma natural, sem artificialismos ou legalismos, mas na contínua obediência à Palavra do Senhor.
Abramos os nossos ouvidos para essa Palavra, saibamos esperar por esse Senhor, que vem ao nosso encontro e pede contas de nossas ações, não em forma de cobrança, mas na esperança de entrarmos em sua plena alegria. Alegria que torna-se comunhão plena com as riquezas daquele que, de Patrão, se faz Pai e ama-nos como verdadeiros Filhos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Sábado da XXXIV Semana do Tempo Comum

Sábado, 26 de novembro de 2011
“Portanto, ficai atentos e orai a todo o momento” (Lc 21, 36)

O texto nos apresenta uma necessidade tão esquecida em nossos dias: a perseverança. Viver na expectativa da chegada do filho do homem nada mais é do que estar em constante prontidão, sempre dispostos a esse julgamento. A vida de graça, tão esquecida nos dias de hoje, nada mais é do que uma existência que esquece a constância da fé que se abraça, do seu sentido e das conseqüências que ela implica.
E um mundo que prega uma vida frenética, o “aproveitamento” do dia como se fosse o último, esquecemos de que não somos objetos, não fomos criados para ser “gastados”, mas modelados, aperfeiçoados. Temos muito mais do que matéria e é esse “além” que nos torna homens capazes de perfeição. Isso, porém, implica busca, luta, sacrifício, constância no viver uma experiência diversa da que somos acostumados, uma vida com os olhos no Fim.
A pergunta que podemos fazer é: e se o dia do nosso juízo fosse hoje, se fossemos chamados a “prestar contas” de nossa existência ao Justo Juiz, que portaríamos? Apenas uma vida cheia de sentimentos, múltiplas experiências? Muitos caminhos, mas nenhum fim?
Viver a vida como se fosse o último é viver como se o nosso julgamento fosse hoje. O tempo, construído do passado que me constitui e do futuro que me motiva, se relativiza, ele desaparece diante de Deus. Viver, portanto, nessa esperança, é estar na história, apreender os seus mecanismos, mas também saber ir além dela e olhar para aquela Palavra que foi pronunciada no tempo, mas rasgou-se com o mistério da morte e ressurreição.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sexta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum

Sexta, 25 de novembro de 2011
“[...] essa geração não passará até que tudo isso aconteça” (Lc 21, 32)

O evangelho apresenta a realidade o Reino de Deus como um processo natural na humanidade. Ele vem, quer o homem queira ou não. Não é apenas uma realidade escatológica, em um tempo futuro, embora que sua plenificação se dê no “fim dos tempos”. Todos verão esse projeto acontecer.
Esse Reino é manifestação de um Deus vivo, presente na história. Essa presença se realiza mediante a sua Palavra, encarnada em Cristo. Manifesta a presença de um Reino atual, com um só Senhor, um só povo e uma única verdade: Deus salva.
Toda essa mensagem nos faz compreender que não somos deuses, não somos definidores do bem e do mal, não temos a capacidade, em nós mesmos, de dizer o que é bom ou ruim para as nossas vidas. Só Deus Pai tem essa Palavra de Vida Plena, nele está a árvore da vida que perdemos pela desobediência.
Nesse sentido, viver a Realidade do Reino que todos os dias pedimos é reconhecer Deus como Senhor de nossa história, é conformar a nossa existência à Palavra que nos porta à salvação. Jesus é esse grande arauto do Reino que já é presente, e necessita apenas de nossa adesão ao seu único e absoluto Senhor.
Abramo-nos a esse Reino, tornemos nossa a Palavra que todos os dias professamos: “Seja feita a Sua vontade”. Saibamos colocar a nossa vontade sempre nos planos de Deus, que a minha vontade seja a de Deus, que o meu movimento esteja sempre em direção a Ele. Conformemos a nossa vida a Jesus, Verbo Eterno, Palavra constante. Ele que, pela obediência ao Projeto do Pai, glorificou a sua vida e trouxe-nos a salvação.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Quinta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum

Terça, 24 de novembro de 2011

“A vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28)

As imagens extraordinárias que vemos surgir nesse evangelho não aponta para um “fim de mundo”, mas para um projeto de divino que chega à sua plenitude em Jesus Cristo. Em uma realidade com tantas dificuldades, em uma crise de valores sociais, em uma perda humana da própria identidade, chegamos a questionar o sentido de nossa própria existência.
O “mundo” parece um local apavorante (cf. Lc 21, 21), tememos a tudo e a todos, nada mais nos dá segurança. Que fazer? Como agir em um mundo em que os meios de comunicação ou as tecnologias existentes não evitam, previnem ou anunciam antecipadamente grandes catástrofes naturais (cf. Lc 21, 25)? Diante disso, buscamos mais do que uma segurança material, buscamos uma explicação para todas essas coisas.
O evangelho, porém, mais do que uma compreensão teórica desses fatos, nos ajuda a firmar o nosso passo no tempo em que vivemos. “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28). Em um mundo que geme a dor de uma humanidade ferida pelo pecado, esse mesmo sofrimento pode ser transformado em libertação.
O sofrimento apresenta sempre uma possibilidade de transformação, mais, forma-nos para outras realidades, afirma-nos cada vez mais como homens que buscam a afirmação de uma vida.
“Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande poder e glória” (Lc 21, 27). Cristo é o ícone dessa vida que se fez plena no alto da cruz, na perfeição de um sacrifício, entrega de amor que gerou uma nova vida, uma humanidade salva. Ele nos ponta para a grandeza, firmeza e plenitude de uma existência que não busca “seguranças”, mas um caminho de perfeição.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Quarta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum

Quarta, 23 de novembro de 2011 

“Com a vossa perseverança salvareis a vossa vida” (Lc 21, 19) 

Em um mundo marcado por tantos contra-valores, somos chamados a afirmar a maior de todas as riquezas: a vida humana. Essa vai muito além de um bem material que deve ser aproveitado de todas as formas possíveis ou mantido a qualquer preço, ela é dom gratuito de uma existência que busca plenitude.
No Evangelho Jesus aponta para a dimensão escatológica de nossa existência. Não somos seres desse mundo, devemos buscar algo mais. Se ficamos apegados a essa realidade tenderemos ao fracasso. “Havereis o momento de dar testemunho” (Lc 21, 13). Haverá o momento em que nós seremos chamados a dar a razão de nossa fé. E o que faremos?
Se compreendemos fé como essa esperança consistente em uma realidade que nos ultrapassa e se abraçamos essa realidade, nossa vida passa a ser pautada nesse mesmo movimento: ouvir, aceitar e seguir a Palavra de Deus. E é aqui em que nossa vida é provada, pois se não confiamos integralmente nessa Palavra, qualquer coisa em que colocar nossa vida em jogo, em relação a nossa esperança última, nos fará optar por nós mesmos.
Porém, recebemos uma promessa: “Nem mesmo um cabelo de vossa cabeça será perdido” (Lc 21, 18). Somos chamados a levar nossa existência a uma plenitude. E se essa plenitude implica a entrega dessa vida em sacrifício, uma morte que gera ressurreição, que assim o seja. Confiamos, mesmo sem ter visto essa realidade, esperamos, mesmo questionando em alguns momentos, mas cremos que a Palavra é semente que, quando enterrada, gera uma grande árvore, a árvore de vida.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Terça feira da XXXIV Semana do Tempo Comum

Terça, 22 de novembro de 2011
É preciso que essas coisas aconteçam primeiro (Lc 21, 9)

Porque tantos discursos sobre o fim do mundo? Porque tantos homens querem prever o dia em que o mundo será destruído? Quantos já disseram isso?
Jesus nos coloca diante desse percurso que o mundo faz em direção à sua plenitude, mas nesse caminho ele aponta que as coisas e as pessoas pelas quais passamos são perecíveis. Fatos, relações, bens, qualidades... “Admirais essas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21, 6).
Jesus não nos pede que deixemos de lado as coisas do mundo, mas esse olhar para o fim último de nossa existência nos ensina a verificar a transitoriedade daquelas. A partir disso, podemos colocar cada coisa em seu lugar, dar um valor a cada uma delas e compreender Deus em seu sentido real: Senhor Absoluto de nossas vidas.
Abramo-nos a essas realidades e aprendamos a olhar para o mundo com essa perspectiva escatológica, somos seres perecíveis, não viveremos eternamente nessa realidade. Só com isso poderemos olhar para aquele fim último e desejá-lo acima de todas as coisas. Mais do que isso, poderemos viver na expectativa de um grande encontro: a Plenitude de uma Vida Feliz.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Segunda feira da XXXIV Semana do Tempo Comum

Segunda, 21 de novembro de 2011
 
Esta viúva, assim pobre, colocou mais do que todos (Lc 21, 3)

Ao fim do ano litúrgico Jesus nos aponta para a necessidade da plenitude de uma vida conformada à Palavra de Deus. Não estamos mais no âmbito de uma pedagogia de construção gradativa de uma santidade cristã, mas da busca urgente dessa.
No Evangelho somos colocados diante de dois modos de relacionar-se com Deus. O primeiro, dos ricos que doam o seu supérfluo (cf. Lc 21, 4), é acompanhado pelo fato que Deus vê conhece o coração que se faz dividido entre Ele e o mundo.
No segundo caso, Deus vê e se agrada daquela que doou tudo o que tinha, não pela quantidade, mas pela grandeza da esperança que depositava em Deus: “Ela, ao contrário, na sua miséria, colocou tudo aquilo que tinha para viver” (Lc 21, 4).
Da mesma forma, Deus não se deixa dividir, ele não quer parte do nosso amor, ou uma porção de nossa vida entregue ao seu serviço. Como Senhor absoluto, Ele exige uma doação integral de vida. Não existe “Se...”, “Porém...” ou “Quando...”.
Ele quer ver em nós aquele “Sim”, livre e integral da outra grande mulher. Ela soube entrar na realidade de um Deus que não quer as nossas habilidades, mas espera a entrega livre de nossa vida à geração de sua Palavra.
Aprendamos a doar, não parte de nossa vida, um tempo de nosso trabalho, a melhor de nossas qualidades, mas toda a nossa existência a serviço dessa Palavra que se faz verdadeira Vida no meio de nós. Ela não que a maior parte de nossa existência, mas a nossa existência a serviço de tudo.

Cristo Rei, Rei Pastor


Celebrar a Solenidade de Cristo Rei é vivenciar a experiência de um Deus que possui uma forma diversa de domínio. Esse se constrói sob a ação do pastor que ama integralmente as suas ovelhas. Ama-as tanto protege as que estão ao seu lado, busca as que se desviam, mas não as prende sob uma posse opressora. Essa aproximação desenvolve-se de modo tão pleno que torna-se identificação, comunhão plena entre pastor e ovelhas.
Dentro de um mundo tão marcado pelo poder econômico, político e ideológico, é construída uma estrutura de domínio. Esse movimento, mais do que manifestação de uma organização social, apresenta um movimento unidirecional e, conseqüentemente, opressor. A ordem social torna-se poder injusto, pois realiza-se sob o interesse de uns em detrimento aos direitos de muitos outros.
Cristo é Rei porque apresenta um domínio fundado na imagem do pastor. O profeta Ezequiel fala em nome do Senhor: “Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas às pastagens e as farei repousar” (Ez 34, 15). Um pastor não é aquele que oprime as suas ovelhas, mas busca o seu bem. É assim, que surge a sua autoridade real, não por meio de um poder sobre os outros, mas para os outros.
Esse agir em função das ovelhas gera uma nova relação de domínio. O pastor guia as ovelhas, corrige caminhos, cura as que estão doentes, busca as que se dispersam nos momentos de escuridão (cf. Ez 34, 12), mas tudo dentro de um ambiente de liberdade. As ovelhas podem correr mais do que o pastor, dispersarem-se, não querer estar perto dele, buscar outras pastagens, outros pastores.
O próprio pastoreio se desenvolve de uma forma diversa. Pastor não só guia as ovelhas, mas chega ao ponto de confundir-se com elas, entra em uma comunhão tão plena que sente as suas necessidades, os seus sofrimentos e as suas dores: “Em verdade vos digo: tudo aquilo que fizestes a um desses meus irmãos menores, fizestes a mim” (Lc 25, 40).
É assim que Cristo se afirma Rei. Rei que se faz pastor, pastor que se faz um com os seus, ao ponto de assumir a comunhão plena entre rei e servo: amor que se faz serviço, serviço que gera vida, porque olha além de si.
E é nesse olhar além, que as contradições e tudo aqui que gera morte vão sendo destruídos. Se a ambição ou o egoísmo do pastor geraria a perdição e conseqüente morte de suas ovelhas, a sua plena comunhão com elas dá vida plena. Os inimigos são vencidos quando o pastor está próximo às ovelhas, somos protegidos quando estamos próximos ao nosso Pastor.
Assim, afirma São Paulo: “É necessário que ele reine até que todos os teus inimigos estejam sob os seus pés” (1 Cor 15, 25). Na medida em que esse pastor se faz um com os seus, ele torna-se cordeiro. Doa-se em sacrifício, coloca-se em perigo e salva aqueles que foram a Ele confiados. Ele engana e destrói o inimigo que queria a sua ovelha.
Saibamos olhar para Cristo Rei e vejamos nele o ícone do verdadeiro domínio que se faz sob o pastoreio daquele que se faz um com os seus. Não vemos nele um pastor que explora as suas ovelhas, as oprime sob o seu interesse, mas caminha com elas rumo às verdadeiras pastagens, àquelas que geram vida, “vida eterna” (Mt 25, 46).

Sábado da XXXIII Semana do Tempo Comum

Domingo, 20 de novembro de 2011

Deus não é dos mortos, mas dos vivos (Lc 20, 38)

Em um mundo tão racionalista e, portanto racionalizado como o nosso, queremos inserir tudo dentro de uma forma, queremos mais “compreender”, do que conhecer as coisas. Queremos colocar todas as coisas dentro dessa mesma “forma” para poder esquadrinhá-las e, portanto, dominá-las. Deus e o seu projeto de salvação humana não fogem dessa ambição.
No evangelho, os saduceus colocaram Jesus à prova. Mais, do que isso, queriam racionalizar a compreensão de ressurreição segundo os seus próprios critérios. A primeira coisa que Jesus tenta fazer é um purificação desse conceito. A ressurreição não pode ser compreendida à luz de nossa racionalidade material.
A ressurreição é projeto que vai além de uma vida material, lança o homem além de um projeto racionalizável. Apresenta a dinâmica de uma vida que é colocada além da corrupção, uma vida que dura para sempre por que implica comunhão eterna com Deus. Aqueles que ressuscitam “não podem mais morrer... por que são filhos da ressurreição, são filhos de Deus” (Lc 20, 36).
Aprendamos a buscar esse mesmo projeto para as nossas vidas. Somos mais que seres racionais, materiais fomos criados pelo “Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó” (Lc 20, 37), um Deus vivo e presente na história humana, que mostra a sua face continuamente e chama os homens para si. Saibamos buscar essa “face” de um Deus que se revela. Ele não mostra apenas um conhecimento ideal, mas uma Vida que se faz Plena, Vida que dura eternamente, “porque todos vivem por Ele” (Lc 20, 38).

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sexta feira da XXXIII Semana do Tempo Comum

Sexta, 18 de novembro de 2011

A minha casa é casa de oração (Lc 19,46)
No mundo do comércio que abraça as coisas, as pessoas e suas relações somos, muitas vezes, levados a enquadrar Deus nessa mesma ordem. Queremos barganhar com Ele coisas, obter privilégios e benefícios individuais. Enfim, queremos um Deus que nos sirva.
A revolta de Jesus é exatamente essa. Ele se entristece com essa postura e aponta para a própria Escritura: “Vocês fizeram [de minha casa] um covil de ladrões” (Lc 19, 46). Que faz o ladrão se não praticar uma injustiça por causa de sua própria ambição? Quer justificar uma injustiça social praticando outra.
Ao expulsar aqueles homens do templo Jesus queria purificar a nossa mentalidade individualista e apontar o verdadeiro sentido do templo: local de diálogo com Deus. Não podemos querer conversar com Deus se dividimos os nossos pensamentos com nós mesmos. Como absoluto, Deus não se deixa dividir. Ou estamos em comunhão com ele, ou não.
Que nós possamos dedicar todo o templo de nossa vida para Deus. Façamos de nossa existência um espaço privilegiado de diálogo com o Absoluto e de manifestação de sua ação criadora, redentora e modeladora. Acima de tudo, purifiquemos esse templo de qualquer coisa que possa ser incoerente com o Seu ensinamento. Deixemos que o seu Verbo, materializado em Cristo, seja o nosso verdadeiro Mestre.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quinta feira da XXXIII Semana do Tempo Comum

Quinta, 17 de novembro de 2011

Se compreendesses hoje o que te pode trazer a paz (Lc 19, 41)

O choro de Cristo, antes de tudo, reflete o choro de lamento de um Pai. Esse se entristece ao ver o Filho distante de si. Sem a proteção paterna, sem o amor do Pai e a companhia dos irmãos. O choro é de lamento, pois a distância implica sofrimento para aquele que está longe, implica dor para quem se desvia do caminho planejado.
“Virão dias em que os teus inimigos te cercarão” (Lc 19, 43). Permanecemos sem proteção quando estamos fora da casa paterna, tornamos vulneráveis aos ataques dos que querem nos prejudicar. Nossa vida fragiliza-se, não temos norte, luz ou caminho a seguir. O inimigo toma-nos todas as nossas riquezas.
Nesse ataque “não deixarão pedra sobre pedra” (Lc 19, 44). Tudo é colocado abaixo: projetos, sonhos, esperanças, conquistas... Tudo é saqueado ou destruído. Em fim, perdemos todos os bens que tínhamos quando estávamos na casa do Pai e a comunhão com aquele que nos criou e tem para nós um projeto de vida, Vida Eterna.
Possamos hoje retomar esse olhar para a casa paterna e reconhecer que esse Pai nos acolhe sempre com os braços abertos. Mesmo depois de termos negado, ele não nos esquece e não nos abandona. Retornemos a esse abraço e reconheçamos que só perto de Deus encontramos a verdadeira Paz.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quarta feira da XXXIII Semana do Tempo Comum


Quarta, 16 de outubro de 2011

Fazei frutificar até o meu retorno (Lc 19, 5)

O que faz um homem no alto de um edifício a acenar com as mãos para os que passam? O conteúdo de fato só saberemos se o conhecemos alguma coisa sobre ele, mas a certeza que podemos ter é que ele que chamar a nossa atenção.
Jesus, no alto de uma cruz, também chama a nossa atenção. Acena para nós não sem sentido, o conteúdo de seu aceno é a própria vida humana. Seu percurso rumo à Jerusalém termina no alto de um monte, entregue em sacrifício.
Esse conjunto apresenta-nos a imagem do amor livre que, por ser livre, serve integralmente. Um serviço que implica doação da própria vida. Vida que, entregue e rebaixada ao solo, transforma-se em semente que cresce, frutifica e gera vida eterna...
É em Jerusalém que Cristo se faz Rei. É do alto da cruz que ele nos ordena a fazer a mesma coisa. É na cruz que ele revela o amor do Pai, amor que salva, amor que aponta-nos a verdadeira vida.
“Jesus caminhava na frente de todos” (Lc 19, 28). A questão é saber se nós estamos dispostos a segui-lo, ou até onde podemos segui-lo. Seria muito bom se o seu reino fosse como nós pensamos, um reino humano. Porém, é do ápice de sua entrega livre e amorosa que ele toma posse da maior das riquezas humanas: a vida plena.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Terça feira da XXXIII Semana do Tempo Comum

Terça, 15 de novembro de 2011

Vou hoje para a tua casa (Lc 19, 5)

O Evangelho de hoje revela uma verdade fundamental de nossa fé: Deus Salva. Esse princípio que para muitos parece óbvio não é compreendido pela a maioria desses. Não o vivemos porque não compreendemos que o movimento salvador é realizado por Deus e aceito por nós.
Deus não se deixa ser conhecido. Ele não pode ser perscrutado livremente pelo nosso raciocínio. Sua revelação é realizada dentro de um projeto livre e amoroso de redenção de uma humanidade que desvia o olhar do seu criador. É o próprio Deus quem se revela, pois só Ele conhece a si mesmo.
Diante do nosso orgulho racionalista de querer subir até Deus para conhecê-lo, somos repreendidos: “Desce já!” (Lc 19, 5). Não somos nós que vamos até Deus. É Ele que vem até a nossa humanidade e revela a plenitude de sua Palavra de Vida Eterna.
Isso, porém, requer uma abertura para que ele possa habitar em nosso meio. É preciso fé para acreditar na promessa feita a Abraão, sabendo, com isso, que o projeto é sempre de Deus e que nós somos herdeiros de uma aliança confirmada por Cristo. Deixemos, portanto, que ele habite em nossa existência e converta a nossa vida por meio de um encontro pessoal com Deus.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Segunda da XXXIII Semana do Tempo Comum

Segunda, 14 de novembro de 2011

Senhor, que eu veja de novo (Lc 18, 41)

A cura do cego de Jericó partiu de um reconhecimento: “Jesus Filho de Davi, tem piedade de mim” (Lc 18, 38.39). Sim, ele não estava diante de mais um profeta, grande político ou um louco. Aquele homem, criado em Nazaré, é Jesus, o Filho da Promessa. Por meio dele Deus faz surgir um novo Reino no Mundo, um mundo de novos olhares.
Em uma cultura de tantas desgraças, nos cansamos ao olhar para o que nos rodeia e perdemos, muitas vezes, a esperança. Porém, o cego que estava no caminho tinha fé, esperava por alguém que desse a ele essa nova visão.
É o cego mesmo quem clama e insiste por essa cura: “Jesus Filho de Davi, tem piedade de mim” (Lc 18, 38.39). Aquele homem compreendia que era necessário o olhar de Jesus para que sua cura fosse realizada, era necessário o seu modo de ver o mundo, por que nele estava contido o olhar de Deus Pai.
E Jesus apresenta a cura: “Veja! A tua fé te salvou” (Lc 18, 41). Ao reconhecer Jesus como Palavra de Deus que é pronunciada na história e que, por ele, tudo se cumpre, temos uma nova visão do mundo.
Há esperança para um mundo cercado por males, há vida em uma cultura que ensina e gera morte, há um caminho que nos leva para a Vida. Para isso, basta pedir: “Jesus Filho de Davi, tem piedade de mim” (Lc 18, 38.39), e confirmar: “Que eu veja!” (Lc 18, 41).

domingo, 13 de novembro de 2011

Abundância de vida


A quem tem será dado em abundância (Lc 15, 29)

Como estamos vivendo a nossa história? De que modo compreendemos a nossa existência? A percebemos como uma riqueza que não se pode tocar? Como um bem que deve se aproveitado de todos os modos? Ou como um dom gratuito, fruto de um amor livre, que busca a plenitude de nossa existência?
Se compreendemos a nossa vida como uma riqueza que deve ser aproveitada à todo custo, podemos esquecer de vivê-la, a preservaremos tanto que esqueceremos de aproveitá-la. O arriscar-se é dimensão essencial de uma história que não é perfeita, de uma existência que não é plena e de uma vida que não é eterna.
Esse arriscar-se, porém, não é vazio. Se assim o fosse, correríamos o risco de tornar a nossa vida um bem perecível, tão material que buscaríamos gastá-lo a qualquer preço. Esse modo de agir, mais do que irresponsável, passa a compreender o homem como objeto de metas determinadas. A pessoa humana transforma-se em peça de um mecanismo histórico social cada vez mais sem vida.
A qualidade em uma existência só é descoberta e compreendida a partir do momento em que é vista como dom. Não merecemos ou temos o direito de viver, tudo o que temos é fruto de um projeto de amor, de um plano de vida que tira-nos do caos e dá uma ordem à nossa história.
Por ser dom, não podemos gastar como nós queremos, mas também não temos o direito de preservá-lo à todo custo. A vida nos é dada para um serviço. Dentro de um plano de resgate de uma humanidade confusa entre uma liberdade arbitrária e uma salvação que ultrapassa os nossos objetivos.
Olhemos para Maria, exemplo de serva que soube gastar toda a sua vida no projeto de Deus. Em nenhum momento ela fez a própria vontade, mas, ao contrário, as suas foram conformadas ao plano salvador de Deus que quis dar ao homem uma Palavra de Vida Eterna. Maria manteve sua vida sempre preservada de qualquer risco, mas de um risco de morte eterna, tudo o que pudesse desviá-la do caminho rumo à perfeição era por ela rejeitado.
Que nós também possamos colocar a nossa vida nesse percurso de serviço, de entrega plena de nossa existência ao seu verdadeiro Autor. Só Ele, como verdadeiro Autor, pode fazer com que ela se multiplique em projeto de salvação para outros.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sábado da XXXII Semana do Tempo Comum

Sábado, 12 de novembro de 2011

E Deus não fará justiça a seus eleitos que gritam dia e noite por Ele? (Lc 18, 7)

No Evangelho, Jesus nos apresenta uma virtude que muitas vezes esquecemos: a constância de uma fé. Dentro de um mundo marcado pela rapidez das coisas, pessoas e opiniões, a nossa fé corre o risco de entrar nessa mesma dinâmica. Ao querer abraçar todas as coisas, acabamos por não segurar nada.
A constância da fé não ambiciona coisas, ela nos faz olhar para o único ideal de nossa vida: o diálogo pleno com Deus, nada mais. A partir disso, todas as nossas ações passam a ser voltadas para o cumprimento desse ideal. Nessa busca contínua, ouvimos a promessa do Filho, Palavra viva de Deus Pai: “Eu vos digo que [Deus] fará sua justiça prontamente” (Lc 18, 8).
Em uma cultura marcada pela variedade de ideais, riquezas, pessoas e valores, aprendamos a lutar pelo único bem de nossas vidas: a felicidade eterna. Essa representa a plenitude de uma existência que encontra em Deus o seu ponto de partida e chegada. Por meio dessa constância, saberemos caminhar por uma estrada que, mesmo árdua, aponta-nos para uma Perfeição.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sexta feira do XXXII Semana do Tempo Comum

Sexta, 11 de novembro de 2011 

Onde está o cadáver, aí estarão os abutres (Lc 17, 37)

Estamos no centro do discurso escatológico de Cristo. O anúncio do Reino de Deus vem acompanhado do julgamento dos homens. Esse momento, mais do que um fenômeno extraordinário, é o momento em que Deus entra na história humana e pronuncia sua Palavra de Salvação: Quem a aceita vive, quem a rejeita, perece (cf. Lc 17, 26.28).
O estar diante de Deus e conformar a nossa realidade de vida a Ele vem de uma forma que não esperamos (cf. Lc 17, 27.29). Se o Reino de Deus já está no meio de nós, a verdade desse mesmo Reino e a sua realidade exige de nós uma nova postura de vida.
O tempo, porém, é sempre oportuno. Não podemos olhar para trás e ver o que passou, “O Reino está presente”, Deus não calcula o peso dos nossos pecados, Ele vê o coração. Ou pior, não podemos olhar para trás e ver o que estamos deixando de lado (cf. Lc 17, 31). A decisão pelo Reino deve sempre ser integral.
Essa integralidade exige de nós não só ações, mas a nossa própria vida: “Quem procura salvar sua vida vai perdê-la; mas que a perder, a salvará” (Lc 17, 33). Não estamos nesse mundo para viver as nossas vontades. Devemos aprender a conformar nossa existência às exigências de uma vida plena.
Não devemos nos preocupar em “manter” a nossa vida, pois sabemos que ela é sempre perecível e um dia será colocada sob um juízo final. A nossa existência não nos pertence, apenas a temos por alguns momentos. A pergunta que temos sempre que fazer é: Quando essa “parte” de existência, tornar à sua essência originária, isto é, à Existência em si, o que ela portará?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quinta feira de XXXII Semana do Tempo Comum


Quinta, 10 de novembro de 2011

O Reino de Deus está no meio de vós (Lc 17, 21)

O pecado humano, mais do que desobediência, é ambição do homem que busca estar no lugar de Deus. Ele mesmo que definir-se como Senhor do bem e do mal, que fazer o próprio mundo, a sua própria verdade, em fim, o próprio Deus.
A pergunta feita pelos discípulos não refletia uma esperança honesta: “Quando virá o Reino de Deus” (Lc 17, 20). Que Reino eles estavam esperando? Que interesse real haveria nesse domínio?
O cerne de toda mensagem messiânica está aqui: “O Reino de Deus não vem ostensivamente” (Lc 17, 20). Ele não vem com glórias, vitorias ou conquistas humanas exatamente porque não é projeto humano. Não é reino terreno, mas vai além quando reflete o projeto de amor de um Deus que salva.
“O Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 21). Precisamos abrir os olhos e perceber que Cristo, como Palavra de Deus, conquistou o mundo e, morrendo,venceu a última inimiga: a morte. Com Cristo, nós já possuímos o grande prêmio: uma vida livre do pecado que mata e, com isso, a possibilidade de uma vida eterna.
Saibamos tomar posse desse reino que nos é dado livremente. Tomemos posse da vida nova que recebemos por meio da cruz. Aprendamos a ser dominadores do único espaço que nos pertence e nos é dado como dom amoroso. Cuidemos de nossa própria existência e façamos dela um lugar de vida eterna.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão

Quarta, 09 de novembro de 2011
Ele falava do templo do seu corpo (Jo 2, 21)

Nessa festa pela qual celebramos a dedicação da Basílica de São João de Latrão, Jesus nos ensina qual deve ser o verdadeiro tempo para as nossas vidas.
Sendo o templo um local de oração e diálogo, ele deve sempre ser dedicado só a Deus. Não deve haver outra função a não ser a busca humana pelo seu Senhor. Local de diálogo porque o homem olha para o alto e se relaciona com aquele que, por graça, se faz revelar. É diálogo porque há uma palavra que permeia essa interação: Jesus.
É oração pelo fato de que esse mesmo homem olha para o Senhor em condições desiguais: Ele é sempre servo. Por mais que nos esforcemos em olhar para cima, Deus sempre se curva para que esse contato ocorra. A oração é, portanto, esse prostrar-se diante do absoluto e silenciar perante esse mistério. Nele nunca poderemos tocar.
O Evangelho, com isso, nos ensina a fazer dessa casa um ambiente sagrada: “Não fazeis da casa do meu Pai um comércio” (Jo 2,16). O diálogo com Deus nunca pode ser por igual, não podemos convencê-lo a fazer nada, não podemos barganhar benefícios, as nossas aparentes qualidades são sempre falhas diante do seu poder, tudo é sempre graça.
Jesus, portanto, nos ensina a sacralizar esse encontro e santificar esse espaço. Não estamos diante de mais um ambiente político de interação, estamos na presença do Senhor. Ele esclarece a grandeza desse momento: “Destruireis este templo e em três dias o farei ressurgir” (Jo 2,10). Sim, tudo será conforme à sua Palavra, pois o templo de Deus é o homem em glorificação.

Terça feira da XXXII Semana do Tempo Comum


Terça, 08 de novembro de 2011

Somos servos inúteis (Lc 17, 10)

Dentro de um discurso sobre a nossa própria liberdade podemos nos questionar: Qual é a nossa primeira e verdadeira missão?
Se recebemos um corpo e uma dinâmica que lhe é imanente a primeira delas é tornar essa vida verdadeira realidade. Porém, diferente dos outros seres criados, temos algo mais: recebemos o Espírito de Deus. O seu “hálito” nos torna participantes de sua existência, como expressa o livro da Sabedoria: “Deus criou o homem para a incorruptibilidade, o fez imagem de sua própria natureza” (Sb 2, 33). A nossa missão essencial, portanto, é fazer com que essa existência em Deus seja verdadeira.
Jesus, no Evangelho ensina-nos dispor a nossa existência nesse plano: somos servos de Deus. Não temos a vida porque a merecemos, não possuímos inteligência, amigos e bens porque somos bons. Tudo é graça. A nossa condição fundamental é sempre estar nessa postura de servos que agradecem a sua aproximação com o Senhor.
A nossa condição nos aponta para o fato de que não estamos nessa vida para fazer a nossa vontade. Temos um Senhor, um paradigma de ação, bondade e verdade que nos ensina o seu caminho de salvação, sua Palavra nos aponta o caminho de uma vida plena.
O sentido de nossa vida não está em viver uma liberdade fundada em nossa própria vontade. Podemos fazê-la, mas sempre experimentaremos a dor do desvio, da vida que não realiza o seu plano natural. Aprendamos a viver essa gratuidade e obediência, não cega, mas ordenada à vontade de Deus e possamos repetir as palavras do servo, já que essa é a nossa condição básica: “fizemos o que deveríamos fazer”.

domingo, 6 de novembro de 2011

Segunda feira da XXXII Semana do Tempo Comum


Segunda, 07 de novembro de 2011

Aumentai a nossa fé (Lc 17, 6)

Dois fatos nos fazem entrar na compreensão de um Deus misericordioso: o perigo do escândalo e a necessidade do perdão.
O escândalo é colocado em relevo e merecedor de atenção, pois é um pecado que toca a comunidade. Não sou apenas eu quem me prejudico com o meu pecado, mas também todos aqueles que olham para mim e vêem o meu contra-testemunho. “É melhor para ele que seja colocada no pescoço uma pedra de moinho e ele seja jogado ao mar do que escandalizar um desses pequeninos” (Lc 17, 2).
Entretanto, “é inevitável que venha os escândalos” (Lc 17, 1). Não podemos nos orgulhar se vemos um erro que não cometemos, pelo contrário, devemos nos tornar atentos para que nós mesmos não caiamos naquilo que criticamos.
E para que essa humildade se desenvolva é necessário que entremos na dinâmica do perdão: “Se o teu irmão pecar, repreende-lhe. Se ele se arrepender, perdoa-lhe”. (Lc 17, 3). Não podemos definir ninguém pelos próprios atos. Só Deus o pode fazer.
Não há cálculo para o perdão: “E se cometer uma culpa sete vezes ao dia contra ti e sete vezes retornar a ti dizendo: ‘Estou arrependido’, tu o perdoarás” (Lc 17, 4). Perdoar sempre afirma nossa humanidade e, mais do que isso, nossa compreensão de que somos pó e estamos na mesma condição.
Entretanto, não podemos fazer nada disso se não tivermos em nosso coração o dom da fé (cf. Lc 17, 6). Só ela nos permite ir além de nós mesmos, de uma lógica humana e de nossos próprios juízos e para poder perdoar. Só a fé nos coloca diante de um Deus que é, ao mesmo tempo, justiça e amor, e nos ensina a construir em nós um espírito de humildade e humanidade.

A grandeza de uma espera


“Vigiai, portanto, por não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 25, 13)

A Igreja, nesse domingo nos prepara para a o grande momento do advento, da espera do Senhor que vem ao nosso encontro. Ao mesmo tempo em que nos deparamos com uma realidade que se inicia, Deus nasce em nossa humanidade, essa também é realidade que apresenta uma plenitude, a construção do Reino de Deus. Jesus não apresenta um “fim do mundo”, mas o trajeto de uma humanidade que caminha para a perfeição. “O Reino de Deus será como...” (Mt 25, 1).
A imagem das virgens ilustra bem essa espera. Elas se preparam para a vinda daquele que é amado. Elas se preparam não só espiritualmente, mas corporalmente para esse encontro. É necessário fazer essa preparação. É para isso que foram criadas, toda sua juventude esteve centrada nessa perspectiva: O noivo está chegando.
O cristão é aquele que prepara toda a sua vida para um encontro. Haverá um momento em sua história em que todos os seus atos serão colocados diante de si mesmo e ele será julgado. Não é um julgamento extra-histórico, mas um encontro com a sua própria verdade. Entretanto, ele não deixa de viver para estar pensando nesse encontro, sua vida porta-se em constante organização, planejamento e reparos para tal momento.
Há uma diferença entre aqueles que estão preparados para o encontro e os que não estão: a reserva que adquirem (Mt 25, 4). Não podemos falar de habilidades particulares, pois todos podemos cair no sono, ou perfeição de vida, pois nossa sabedoria pode fraquejar por alguns momentos. A diferença está em nossa reserva. Aquilo que guardamos para esse encontro.
A luz que podemos manter por meio do óleo é a nossa oração. É por meio dela que nos momentos mais obscuros de nossa existência podemos enxergar o que estar ao nosso redor. E, mais do que isso, podemos ver e nos colocar diante do Senhor que vem até nós. Nesse encontro, não haverá momento para justificação ou desculpas, podemos ser reconhecidos por ele ou ouvir a triste revelação: “Em verdade vos digo, não vos conheço” (Mt 25, 12).
Saibamos entrar na grandeza dessa espera, não como uma ansiedade vazia, mas em uma esperança que motiva-nos a crescer. Possamos compreender e inserir a nossa vida não em um projeto vazio de existência, caminhamos rumo a uma meta: o Reino de Deus. Nesse caminho, vemos nascer a grandeza de uma realidade pessoal, de uma vida a ser abraçada em plenitude, ela só espera pelo nosso sim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sábado da XXXI Semana do Tempo Comum

Sábado, 05 de novembro de 2011

Ninguém pode servir a dois patrões (Lc 16 13)

O texto, em toda a sua discussão, responde a uma pergunta: Qual a verdadeira riqueza humana?
Jesus continua a nos pedir uma ordenação de nossa vida. Colocar cada coisa em seu lugar, dar a cada um o valor que lhe é intrínseco. Quando ele nos exorta: “Fazei amigos com a riqueza desonesta” (Lc 16, 9) ele nos aponta para uma realidade secundária e, portanto, instrumental, dos bens materiais. Não vivemos para o acúmulo, mas para realizar uma comunhão com Deus, crescer nessa experiência e irradiar essa vida aos homens.
A desordem humana na manipulação dos próprios bens reflete, antes de tudo, uma desordem interior. Muitas vezes, não estamos sabendo dar a cada coisa o seu valor necessário. Mais do que isso, colocamos a nossa vida e a dos que estão ao nosso redor a serviço de um acúmulo sem perspectivas por meio da construção de uma riqueza perecível. Somos, todavia, alertados: “Quem é fiel no pouco é fiel também nas coisas grandes” (Lc 16, 10).
Possamos compreender e viver a “instrumentalidade” dos nossos bens e a “sacralidade” da pessoa humana nessa relação. Em uma cultura que prega o acúmulo absoluto e uma concorrência desumana, olhemos para Cristo e vejamos nele o reflexo daquele que soube ser obediente ao Pai e aprender a colocar cada coisa em seu devido lugar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sexta feira da XXXI Semana do Tempo Comum

Quinta, 03 de novembro de 2011

Os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da luz (Lc 16, 8)

O nosso modo de ver um mundo quase sempre é fundado em relações imediatistas. Queremos tudo para hoje, rápido, já pronto. Estamos esquecendo de projetar as nossas ações em um futuro que não demora a chegar.
A imagem do trabalhador desonesto aponta para uma “revisão” dos atos feita por aquele homem (cf. Lc 16, 5ss). Ele não mais buscava um lucro pessoal imediato. Suas ações passaram a ser projetadas em função de um futuro agora incerto. Ele deveria ajudar a outros para que, fosse ajudado quando precisasse.
Imaginar-se nesse espaço e nessas condições nos coloca na compreensão que não somos filhos do “hoje”. Somos constituídos de um passado, atuamos em um presente, mas nossas esperanças e certezas devem ser projetadas em um futuro ideal e pleno. Consumir-se no hoje e gastar todas as forças no presente desgasta a nossa existência e nos retira de um projeto maior: a Vida Eterna.
Olhemos para Maria e vejamos nela esse testemunho de uma vida que se definiu em um “sim” no presente, mas que soube ir além, dando sentido a um passado e confirmando a nossa esperança futura: Deus está conosco, não nos abandona nunca.

Quinta feira da XXXI Semana do Tempo Comum

Sexta, 04 de novembro de 2011

“Ele acolhe os pecadores e come com eles” (Lc 15, 2)

O mundo moderno prega um personalismo individualista, o homem é um ser que domina as coisas ao seu querer e objetivos. Não há projeto em amplo sentido, metas ou limites para as suas ações. Ele é o paradigma de um mundo que ele mesmo recriou ao seu prazer.
O objetivo central de toda a revelação divina é a demonstração amorosa de Deus em seu projeto de salvação do homem. Vemos no Evangelho o Deus que luta pelo homem, corre atrás dele, busca-o, mesmo que ele se esconda e, como conclui o próprio Cristo: “Haverá mais glória no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (Lc 15, 7)”.
São Paulo, porém, esclarece-nos que essa salvação de Deus depende e parte dele, mas por ser livre e amorosa, implica também liberdade que é dada. Assim vemos: “nenhum vive por si mesmo ou morre por si mesmo” (Rm 14 7), mas “cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14, 12).
Vemos a imagem do Deus como Senhor, não o que domina, mas protege aqueles que lhes são confiados. Ele não domina porque se relaciona livremente com os seus. Podemos ou não aceitar esse amor. Porém, podemos viver sem a Palavra de Deus, mas corremos o risco de voltar a um caos de uma vida sem luz, sem ordem, direção ou sentido.
Olhemos para Cristo não como um tirano, mas como Senhor que deseja o nosso bem. Ele não está para nos punir, em sua mão não está a espada da justiça, que pune todos os pecadores, mas o cajado, para retomar para si todo aquele que, de uma forma ou de outra, desviaram-se do caminho rumo à Vida.

Quarta feira da XXXI Semana do Tempo Comum

Quarta, 2 de outubro de 2011

“Quem não renuncia a todos os seus bens, não pode ser o meu discípulo” (Lc 14, 33)

Cristo olha para a multidão e vê um desejo nobre: querem a Palavra de Deus. Ele porém, sabendo de todas as implicações que essa opção traz para quem abraça começa a ensinar: “Aquele que não porta a sua cruz e não vem atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).
Se discípulo de Jesus não significa uma opção ideal, uma bonita filosofia de vida, um método de viver em paz consigo e com os outros. Seguir Jesus implica uma decisão integral. Se sua proposta aponta para uma realidade Absoluta devemos realmente nos questionar se estamos realmente dispostos a deixar tudo para segui-lo. O Reino de Deus não aceita corações divididos.
A imagem da construção (cf. Lc 14, 28ss) também purifica a nossa compreensão ideológica do cristianismo. Estamos diante de um projeto vivo de um Reino a ser construído, ação que se inicia em nós mesmos e se desenvolve no ambiente ao nosso redor. Seguir Jesus requer liberdade, por isso o amor acima de todas as coisas, implica luta, por isso a cruz.
Deixemos de tado tudo aquilo que nos possa pesar nessa caminhada, todas as coisas, pessoas ou ideais que não conduzem com o projeto de Deus para a nossa vida. A cruz é o peso suficiente e necessário que podemos portar se queremos viver uma vida plena e chegar ao Reino de Deus.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Solenidade de Todos os Santos

Terça, 1 de novembro de 2011

“Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 12)

Em um mundo de tantas palavras, o Sermão da Montanha pode ser mais um bonito discurso pronunciado por um grande homem em nossa história. E, por estar em uma montanha, essas palavras, se não forem firmes, correm o risco de perder-se no ar.
Celebrar a solenidade de todos os santos, mais do que lembrar a imagem de tantos homens e mulheres que dedicaram a sua vida a Deus, sendo ou não canonizados pela Igreja, é compreender que a nós também nos é dada a possibilidade de santificação. Os ensinamentos que Cristo apresenta ultrapassam a dimensão de mandamentos ou normas de vida, estes são realidades lógicas para aqueles que querem aproximar-se Deus e entrar em comunhão com ele.
Jesus vê a multidão, vê aquelas pessoas a quem ele foi confiada, vê a sua diversidade, a multiplicidade de ser e agir, mas vê também a unidade que há entre elas, porque buscam um único Deus. Jesus sobe ao monte, não para se distanciar do povo, mas para que sua voz chegue ao maior número de pessoas. Seu interesse não é no estilo do discurso, na sua boa imagem, o objetivo era a Verdade que seria pronunciada. Jesus senta-se e fala ao lado dos seus discípulos. Aqui ele apresenta a firmeza dessa Palavra e a necessidade de sua transmissão.
Ultrapassamos aqui a compreensão de um bonito discurso, entramos na realidade de uma Palavra que carrega em si a Verdade. Essa não nos dá apenas um conhecimento, uma salvação pela sabedoria, mas modela a nossa vida conformando-a àquele que é Caminho que aponta para uma Vida Plena, para uma vida definitivamente santa.