sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quarta feira da XXVI Semana do Tempo Comum

Quarta, 28 de setembro de 2011

“Manda-me a Judá, onde estão os sepulcros de meus pais,
para que eu possa reconstruí-la” (Ne 2, 5)

Não basta estar apenas diante do Rei, é preciso também que o nosso eu esteja realizado quando estamos em qualquer função. Uma vida sem dificuldade é uma existência inconsistente, mas uma vida sem sentido é uma história morta. Morta porque não há mais futuro para se realizar, morta porque o presente impede-nos de ser.
O profeta pede, portanto, ao Rei esse “tempo” para reconstruir a sua cidade, local onde ele foi constituído, gerado para ser homem. A sua cidade estava em ruínas e ele, vivendo em uma existência irreal, distante de sua essência. Era preciso reconstruir esse espaço por que ele, mesmo representando um tempo passado, o constitui e fala quem é.
Sim, é precisamos servir ao Rei, mas não como um objeto, como escravo, sou verdadeiro homem, sou livre. É preciso que, diante do Rei, não esteja uma peça manipulável, mas um sujeito histórico, que sofre, mas que cresce com a dinâmica da vida.
“Quanto tempo durará a viagem?” (Ne 2, 6). Até ao tempo de chegar naquela cidade e montar um posto para mim mesmo.
É preciso refazer as suas portas que foram queimadas pelo fogo. Sim, não há mais portas na minha cidade de origem. Foram destruídas pelo fogo. Mas, de onde vem esse fogo? De onde ele veio? Foram queimadas pelo desgaste do sol? Algum inimigo a incendiou para invadi-la? O motivo que iniciou a sua destruição eu ainda não sei. A única coisa que seu é que eu estava muito distante para impedir tudo aquilo.
Depois da destruição muita coisa aconteceu. Muitos entraram naquela cidade, cidade que é minha. Alguns saquearam seus bens mais valiosos, riquezas que conquistamos com luta, sacrifício, com o suor do nosso trabalho, esforço de nossos pais. O templo foi supostamente profanado, aquilo que tínhamos como sagrado foi transformado em objeto de interesse nas mãos daqueles que são indiferentes à minha fé.
E o mais doloroso de tudo: os túmulos de nossos pais está se tornando abrigo de animais. Eles, mesmo sem saber, desrespeitam a nossa história, fonte de toda a nossa educação. Aqueles que nos instruíram e deram dignidade à nossa vida estão entregues à ação de uns que não sabem o que fazem, pior que não tem consciência de quem são, vivem segundo instintos.
Sim, é preciso voltar. É preciso reconstruir primeiramente as suas portas. É preciso tempo, esforço para retirar tudo aquilo que não nos pertence, que nos nega. É preciso revitalizar os fundamentos de nossa existência.
Essa cidade é o meu coração... é a minha própria vida...

Terça feira da XXVI Semana do Tempo Comum

Terça, 27 de setembro de 2011

“Jesus tomou a firme decisão de colocar-se a caminho de Jerusalém” (Lc 9, 5)

A divindade de Jesus se afirmou não somente pelos seus milagres, mas pelo fato de que ele viveu a sua existência com a compreensão pela de sua missão. Ele não era um errante em suas posturas, mas soube para que veio: Realizar a Vontade do Pai. Ele não veio ao mundo para sofrer, mas para obedecer na condição de Filho. Seu sofrimento e morte de cruz ilustraram e confirmaram essa obediência integral à vontade e justiça Divina.
Foi ele que tomou a decisão. A compreensão de que os homens precisavam de um caminho de vida foi dele, ele não foi coagido por ninguém e, quando foi, não permitiu que isso o afetasse: ele só obedecia à vontade de Deus. Apesar de tudo isso, ele sabia que essa postura não seria fácil.
E exatamente por saber da complexidade de sua missão é que sua decisão foi firme. Ele não só sabia as dores que iria sofrer em sua carne, mas também compreendia que seria atingido por uma negação, rejeição, indiferença e, a pior de todas elas: pelo peso da mão do próprio Pai que, nele, fez justiça em favor dos homens.
Por antever essa dor integral de negação, Cristo colocou-se a caminho em passos firmes, como Abraão que subia decidido para sacrificar o próprio filho, sua própria carne. Se houvesse qualquer abalo nessa decisão ele poderia desviar-se daquele caminho rumo à Jerusalém.
Por mais que a decisão fosse firme, o caminho reto e o fim doloroso, Jesus estava sempre aberto àquela decisão. Ele era livre para que, a qualquer hora, desistir. O valor de seu fim foi à nossa vitória.
Essa entrega livre nos ensina o preço de nossa libertação. Somos frutos de um amor de um Pai que nos cria e nos dá a liberdade de amá-lo ou não. Muitos são os caminhos que podemos escolher nessa via rumo à Jerusalém. Alguns nos fazem andar em círculos, não nos permitindo sair do lugar, outros nos fazem retroceder, outros ainda nos levam para outros desvios supostamente mais fáceis que, além de nos levar por distancias maiores, nos faz demorar e perder tempo.
Dentre esses muitos caminhos que nos levam para Jerusalém só há um que é reto. Porém, nele há algumas pedras de tropeço, espaços escuros e muito estreito em outros: esse atalho podemos chamar Cristo.
Não podemos definir se haverá mais ou menos sofrimento para os que não quiseram tomar essa vereda. Não podemos quantificar ou qualificar as dores se compararmos esse caminho com outros. Porém, uma certeza podemos ter: esse percurso nos faz chegar no centro de nossa existência, onde está o princípio de nossa Vida...

Segunda feira da XXVI Semana do Tempo Comum

Segunda, 26 de setembro de 2011
 
“Eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus: na justiça e lealdade” (Zc 8,8)

Deus quer de nós não uma subordinação autoritária, mas uma verdadeira relação fundada na “justiça e lealdade”. Justiça, para nos colocar-mos em nosso lugar e darmos à Deus o seu próprio, para sabermos que somos um povo guiado por um Deus. Lealdade, por que esse “guiar” não significa uma subordinação cega, mas uma adesão livre a um amor de Pai.
Essa interação também apresenta um Deus que, ao relacionar-se com o homem, se faz humilde. Simples porque, ao entrar em contato com uma matéria, Ele, que é realidade perfeita, arrisca-se negar-se a si mesmo. E isso o processo de encarnação o confirma. Por outro lado, é contraditório para nós mesmos dizer que amamos e seguimos esse Deus se ainda nos comportamos de modo egocêntrico.
Assim estavam se comportando os discípulos para saber “quem deles era o maior” (Lc 9, 46). Jesus, como “conhecia os seus pensamentos” (9, 47), sabia que eles não queriam saber sobre o mais “santo” ou o mais parecido com o Mestre, o mais servidor, mas apenas o “maior”. Quando buscamos um maior, um superior, consciente ou inconscientemente, também procuramos identificar o menor ou os “inferiores”, quem está subordinado a esse referencial.
Nesse momento Jesus esclarece que, na construção de seus discípulos, não pode haver diferenciação entre “maior” e “menor”. A figura da criança nos ajuda a compreender a realização da grandeza humana. Ela consegue viver, espontaneamente, o seu período, sem medo de ser taxada ou mal compreendida. Viver a realidade que possuímos é a verdadeira dinâmica daquele que, de “pequeno”, se faz plenitude.
Pedro parece não entender e insiste nessa “autoridade” por causa do nome de Jesus e ele continua a rebater. Cristo não veio ao mundo para criar uma religião , determinar mandamentos ou uma filosofia, mas apresentar ao mundo uma Palavra de Vida, uma Palavra que gera Vida.
Desse modo, todo aquele que dá uma Palavra de luz à quem está nas trevas assume essa mesma dinâmica de Jesus. Quem pronuncia uma Palavra de Bem a quem se encontra mal ajuda a retirar esse mal e, conseqüentemente, aquele que o personifica.
Jesus nos esclarece que não há contradição em seu modo de viver. Se Ele mesmo é Palavra de Vida ele gera vida. E se a gera, quebra todos os laços que prendem o homens em situações de morte.

Livres para a Perfeição

                                          
Um dos discursos que mais atinge a nossa época é a necessidade de liberdade. O homem moderno busca com todas as suas forças e capacidades discursivas essa realidade. Porém, uma pergunta deve surgir: Até que ponto nós conhecemos o conceito de liberdade e as suas implicações? Será que temos consciência daquilo que buscamos ou o nosso movimento é apenas de negação àquilo com o que nos deparamos?
Muitos dos que negam a existência Deus ou ao menos as discussões teológicas que são construídas nos âmbitos eclesiásticos temem que sua liberdade seja limitada por essas estruturas. “Não sou católico por que não posso fazer isso...”, “Nunca serei evangélico por que assim não posso fazer isso”... O discurso é sempre negativo.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou uma frase que marcou a muitos: “Deus morreu... e nós o matamos”. Esta frase, até certo ponto, possui o seu valor interpretativo. Toda vez que queremos construir discursos sobre Deus, conceituá-lo ou construí-lo à nossa “imagem e semelhança”, de certa forma o matamos. Se descrevermos, conceituarmos ou modelarmos Aquele que é a Plenitude, descaracterizamos a sua perfeição, logo, o negamos.
Jesus, no evangelho de Mateus toca em uma ferida muito real: “os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21, 31). Gostamos tanto de falar sobre Deus e sobre sua Palavra que nos esquecemos de vivenciá-la, logo, o matamos. Vivemos tanto em uma estrutura de negação, de normas e decretos, que corremos o risco de ignorar que o Deus encarnado se faz homem para salvar os pecadores, não para condená-los.
Os pecadores, nas palavras de Jesus, precedem os considerados “justos” no Reino de Deus por que eles experimentam a verdadeira realidade do Deus encarnado: ele é misericórdia e quer a nossa salvação. Deus não vem ao mundo para julgar, condenar ou limitar a liberdade de ninguém, ele quer que o homem encontre a plenitude de sua vida. E é a partir desse espaço que os mandamentos, normas e decretos retomam o seu sentido definitivo.
Como Maria, experimentemos essa dinamicidade da Palavra de Deus. A partir do momento em que a abraçamos, ela se torna Palavra viva no meio em que vivemos. E essa vida que ela contém nunca gera morte em plenitude. Até mesmo as dores que, a partir dela, se apresentam a nós, são dores de redenção.
Essa Palavra, quando abraçada de forma plena, nunca retira a nossa liberdade, pelo contrário, ilumina-a nos ajudando a trilhar os verdadeiros caminhos que nos faz construir a plenitude de nossa humanidade. Enraizados na Palavra e livres para a Perfeição.

Domingo da XXVI Semana do Tempo Comum

Domingo, 25 de setembro de 2011

“Tenham em vós os mesmos sentimentos que Cristo” (Fl 2, 5)

Por que será que Jesus disse aos fariseus e aos doutores da lei que os “publicanos” e as prostitutas os precederiam no Reino dos Céus? Talvez porque se ele dissesse que os santos seriam os primeiros a contemplarem Deus, seu discurso não faria nenhum efeito.
Ela não teria nenhum resultado não por que fosse mentira – já que a lógica é essa – mas porque seu discurso seria consolador, justificador para aqueles que acreditam que, apenas cumprindo uma regra, estão realizando a vontade de Deus.
Nós não viemos ao mundo com o objetivo de “não pecar”, mas sim de fazer a vontade de Deus Pai. É nesse mesmo sentido que podemos entender os mandamentos não como regras de um jogo, mas como direcionamentos de vida.
Ele não é regra porque, nesse caso, não haveria perdão para que o infligisse. Ele é proposta de um caminho pelo fato de que, basta aquele que está desviado dar um passo atrás  e seguir a vereda correta, para estar novamente na ordem justa de sua vida.
“Mas Deus não estaria sendo injusto para comigo se perdoa meu irmão que cometeu este pecado que eu nunca pratiquei, apenas pelo fato de que se arrependeu?”
Esse outro foi perdoado porque voltou os olhos para a Verdade, enquanto eu continuo com uma visão desviada pelo juízo alheio e cega com o meu próprio orgulho e pela minha falta de caridade que me faz querer ser “como Deus”. Diante disso, é o próprio Deus quem responde: “Não é reta a minha postura ou, pelo contrário não é reta a vossa?” (Ez 18, 25).
Ter em nós os mesmos sentimentos que os de Cristo é fazer nascer em nós aquela dimensão que o fez plenamente homem, mistério de uma encanação a partir de um Deus Amor. Porque era obediente ao Pai, Ele sabia perdoar os seus irmãos no mesmo amor que tinha recebido. E se Jesus é mistério de amor de um Pai que buscava justificar os homens, ele é a encarnação da própria humildade: Deus que se faz homem, homem que se faz pão, alimento que sacia, nutre e gera forças, força de humildade, santidade e justificação.
Ser humilde, entretanto, não é imaginar que não existe pecado ou negação de Deus, tampouco pensar que ninguém será condenado. Ser humilde é acreditar que todo homem pode voltar os olhos para Deus Pai, é deixar de buscar a condenação alheia e procurar justificar a minha justificação. Ser humilde é se colocar na postura de filhos. Filhos que refletem o amor do Pai. Pai que ama a todos e busca acolher todo aquele que o procura de coração.

Sábado da XXV Semana do Tempo Comum

24 de setembro de 2011

“Eu venho habitar no meio de ti” (Ez 2, 14)

É equivocado pensarmos que Deus pode tudo. É errado por que ele não pode negar-se a si mesmo já que é realidade perfeita. E, como ele é Amor ele não pode deixar de realizar sua própria natureza.
Nesse sentido, o “mal” que surge no mundo é uma realidade de opção. Somos nós que escolhemos não amar a Deus, somos nós que optamos por não seguir a sua Palavra e o caminho que ela aponta. Aqui está a impotência do Amor, ele não pode contradizer-se a si mesmo.
Nós optamos por não amar a Deus quando invertemos – conscientes ou não – a realidade que optamos, optando pela criatura no lugar do criador, trocamos o meio pelo fim. O movimento contrário ao de olhar para a Suprema Perfeição é, evidentemente, o de olhar para a imperfeição. E não há nada que conhecemos de mais imperfeitos do que nós mesmos, já que somos os que mais conhecem essa realidade interior.
Porém, muitas vezes parecemos esquecer esse olhar interior e nos colocar como eixo para o qual tudo deve estar voltado. Queremos, muitas vezes, manter o domínio das situações, manipular pessoas, tiranizar reações e definir relações. Eu me torno um soberano de um mundo criado à minha própria projeção.
O profeta Zacarias apresenta um homem de domínio: ele quer conhecer a sua realidade e limitá-la por sua própria compreensão de mundo. Esse movimento reflete o próprio “ego-ismo”, o “eu” torna-se doente por que não consegue mais ver um mundo exterior ou a sua interação com ele.
Os discípulos, quando Jesus apresentou a realidade de sua paixão (cf. Lc 9, 44), não entenderam e tinham medo de perguntar. Não entendiam por que estavam confusos como domínio de seu próprio “eu”. Tinham medo de perguntar porque a resposta poderia descaracterizá-los, desfazer todo o “mundo” que eles tinham criado tendo a si mesmo como eixo definidor.
A realidade da Paixão de Cristo apresenta uma grande resposta ao nosso egoísmo. Deus se fez amor e quebra com um “eu” centrado em si mesmo e com um desejo de domínio.
A cidade sem muros (cf. Zc 2, 8) apresenta a imagem desse mesmo Deus que ama e, portanto, acolhe. Esse amor não pode ser quantificado ou qualificado. Ele é sempre capaz de acolher todo aquele que busca essa realidade que se faz presente, unifica e cria a possibilidade de comunhão.

Sexta feira da XXV Semana do tempo Comum

Sexta feira, 23 de setembro de 2011

O meu Espírito estará com vós, não temais (Ag 2, 5)

 Muitos são os temores de quem busca seguir o caminho da Palavra de Deus. Ele torna-se incerto para a nossa falha compreensão por que nos lança em uma realidade imaterial, uma vida no Espírito.
Em sua caminhada terrena, o homem sempre busca seguranças para a sua caminhada. Ele teme que lhe falte alimento, certo conforto para o corpo, um grupo de amigos para a vida comunitária e um trabalho como inserção na estrutural social.
Esse movimento, mesmo que legítimo, corre o risco de ser perigoso quando tais realidades são tomadas como fins absolutos em nossas vidas. O homem pode viver em função de seu bem estar corporal, para os meus amigos ou para o meu trabalho. Eles deixam de ser instrumentos para construção de minha humanidade e eu me torno objeto de seu serviço.
A Palavra de Deus, todavia, não nos manda negar todas essas realidades, mas sim relativizá-las em nome de um Absoluto. O meu bem estar corporal, os amigos e o meu exercício social são meios que devem me fazer chegar até Deus.
É nesse sentido que o profeta Ageu nos conforta: “Não tenhais medo”. Devemos eleger um único fim para a nossa vida, para o qual todos os outros movimentos devem convergir. E, a partir dessa escolha, o Espírito de Perfeição já estará em nosso meio para nos motivar, a cada dia, para que busquemos esse único fim.
Porém, como trocar “o certo pelo duvidoso”? Como optar por uma vida espiritual, que não vemos, deixando de lado um mundo material, estruturado por um conjunto de bens concretos? Cristo é a resposta para esse conflito. Ele é apresentado como a Plenitude de nosso bem material, de toda a riqueza que o homem pode buscar por que é a plenitude de toda a nossa humanidade.
Porém, “o Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9, 22). Por mais que busquemos outros bens materiais Cristo continuará sendo essa riqueza plena que nossa humanidade pode adquirir.
A sua glória após o sofrimento e a morte continuará sendo um grito de que há sentido em lutar para sermos em plenitude.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quinta feira da XXV Semana do Tempo Comum

Quinta feira, 22 de setembro de 2011

Refleti bem sobre o vosso comportamento (Ag 1, 7)

 Sempre em nossa caminhada necessitamos parar. Parar para um descanso físico, parar em busca de um descanso espiritual, uma retomada de forças.
O homem ultrapassa os outros animais por que age consciente daquilo que faz. Entretanto, ele nem sempre compreende que suas ações estão dentro de um projeto mais amplo e complexo: o projeto de uma existência em ordenação.
O profeta Ageu fala não só em nome de si mesmo e da realidade que o envolve, ele fala “em nome do Pai”. Vivemos rodeados de muitas ações, palavras e pessoas. Estas passam tão depressa em nossas vidas que esquecemos de refletir sobre elas e sobre a nossa relação com elas.
A chamada do profeta no impele a refletir que todas as nossas ações devem ser incluídas em um processo maior. Todos os momentos pelos quais passamos são degraus para o nosso caminhar. Todavia, esses instrumentos podem ser positivos quando confirmam a nossa caminhada no projeto que estamos inseridos, ou nos desvia quando escolhemos outros caminhos, supostamente mais fáceis.
Um questionamento que pode e deve surgir a partir desse questionamento é: quais são os nossos comportamentos? Quais os nossos caminhos?
Entretanto, não basta identificá-los, é preciso qualificá-los. Saber se eles confirmam a nossa caminhada ou nos desviam do que realmente somos. Tal movimento continua retroativo quando também devemos saber: Qual é a nossa caminhada? Só podemos identificar os inúmeros caminhos pelos quais não podemos enveredar se sabemos identificar a via que nos leva ao destino escolhido.
E qual é o objetivo último de nossa existência?
Não podemos buscar nada que esteja fora do nosso alcance, e se fomos criados como homens à “imagem e semelhança” do Pai Criador, devemos buscar a plenitude dessa mesma realidade. Com ela, podemos forjar em nos, essa imagem do Pai, assemelhando-se a Ele em Cristo, e aperfeiçoando a nossa condição, não só de criaturas, mas também de filhos queridos e amados por Deus.
Esse deve ser o ponto central de todo projeto de vida: ser plenamente homem à imagem e semelhança do Pai.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Festa de São Mateus, Apóstolo

21 de setembro de 2011

Quero misericórdia e não sacrifícios.

Por que será que Jesus não andava com os “santos” do seu tempo? Por que não o vemos ao lado dos doutores da lei, dos sacerdotes ou dos considerados grandes de seus tempo? A resposta Ele mesmo nos dá: “Eu não vi chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9, 13). O mistério da encarnação não apresenta somente uma “façanha” de Deus, mas esclarece que ele quer estar mais próximo de nossas vidas.
Se Deus quisesse ao seu lado somente os santos o seu movimento de redenção seria desnecessário: ele veio exatamente para quem precisava de salvação. Quando Jesus se aproximava de um pecador, a misericórdia de Deus se tornava clara, Ele não vinha para condenar o mundo, mas para conformá-lo a si. Como homem, Cristo poderia apresentar a nós a possibilidade de plenitude na existência humana.
Sim, temos um Deus que está próximo de nossas vidas. Ele vem para nos salvar e a maior prova disso é o movimento de sua encarnação. Quando a Palavra se faz Vida, ela nos prova a possibilidade de uma santificação e uma plenitude de nossa existência. Da mesma forma, ao nos aproximar-nos dessa Palavra podemos, a cada dia nos conformar a Ela, tornando-se, como Ela, fonte de Vida e Salvação.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Terça feira da XXV Semana do Tempo Comum

20 de setembro de 2011

“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a colocam em prática” (Lc 8, 21)

Podemos pensar que Jesus aqui tem um ato de desprezo pela sua mãe e seus familiares. Pelo contrário, ele tanto refaz a verdadeira compreensão dos seus parentes como amplia a possibilidade dessa ligação com Ele. Maria não foi a mãe de Jesus apenas porque o gerou em seu seio. Ela, antes, ouviu a Palavra de Deus, abraçou-a integralmente e, só assim, o Verbo, definitivamente se fez homem.
Da mesma forma, a opção por Jesus Cristo ultrapassa uma dimensão de sentimentos, palavras ou gestos tomados de forma isolada. Ela requer uma adesão integral da pessoa. É nesse sentido que eu não posso me afirmar cristão apenas porque vou à missa, recebo os sacramentos e falo bem da minha doutrina. Eu sou portador de Cristo porque toda a minha vida reflete a minha opção: pensamentos, palavras e ações, em todos os instantes.
Que nós possamos amadurecer o nosso modo de ser e viver com Cristo. Como Maria, saibamos gerar a Palavra de Deus em nosso meio. Entretanto, esse “sim”, vai além dos atos exteriores, mesmo que não os exclua, implica uma compreensão integra da Palavra. A partir dela, minha vida não vai ser apenas uma obediência objetiva aos projetos divinos, mas uma relação viva com Aquele que conforma a si todo homem que dele se aproxima.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Segunda feira da XXV Semana do Tempo Comum

19 de setembro de 2011

Ninguém acende uma lâmpada e a cobre...

Nós que vivemos em uma comunidade, em constante interação com os outros, corremos o sério risco de olhar mais para fora do que para si mesmo. A nossa cultura criou uma ideia de competição tão forte que gostamos mais de olhar para os defeitos e as qualidades alheias e nos compararmos com eles. O problema é que quase sempre queremos estar à frente.
No Evangelho, Jesus nos esclarece que Deus permanece na realidade que ele iniciou a organizar: “Não há nenhum segredo que não seja manifestado, nada de escondido que não seja conhecido e venha à plena luz” (Lc 8, 17). Não precisamos viver a vida dos outros, de quem está no pecado ou quem vive fazendo injustiça. O Espírito da Providência sempre age a seu tempo.
Entretanto, essa proposta evangélica não é “ameaçadora”, mas nos ensina a colocar as nossas qualidades à luz do dia, para que todos a vejam e sejam beneficiados por ela. A construção do Templo em Jerusalém ilustra bem essa realidade: “A todos Deus incitava o espírito para que subissem a construir o templo do Senhor” (Esd 1, 5). É preciso que nós aprendamos a entrar nesse caminho positivo de interação com os outros por meio daquilo que temos de positivo.
Mesmo que em alguns casos seja difícil e em outros até impossível, devemos ter sempre em conta que estamos no processo de construção do Reino de Deus. Existem uns que trabalham mais, outros menos e alguns que não trabalham, mas, nessa dinâmica, aprendamos que o patrão não somos nós...

domingo, 18 de setembro de 2011

Além do “certo”


No domingo passado o mundo lembrou os dez anos dos atentados terroristas de 11 de setembro. Aquele fato que, com certeza, marcou a humanidade também criou um discurso duvidoso: o mundo ocidental tinha sido violentado pela cultura oriental. A vítima deveria urgentemente revidar. E assim o foi.
Estava sendo esquecido, entretanto, que estava havendo uma cultura de anos de intransigência, invasão simbólica e negação de toda uma história cultural, política e humana.
Não se afirma, com isso, a legitimidade ou a moralidade daqueles ataques que nunca deixarão de ser máculas contra a humanidade, mas aponta-se para uma recíproca realidade de intolerância cultural. Se, por um lado, o mundo ocidental revida um ato terrorista realizado contra ele, está sendo mantido um círculo vicioso de intolerância e violência contra a humanidade.
Tudo isso parte de uma cultura marcada pela intransigência, quando não se compreende que as outras culturas também podem ser valorizadas por anos de evolução, qualidades e também limitações. Se apenas o meu modo de ser e viver é o correto, conseqüentemente, o outro passa a ser ignorante e, a partir disso, cria-se uma ideia de falsa caridade, onde o outro ele deve ser corrigido.
Deste modo, podemos compreender porque que essa estrutura intolerante, extremismo cultural, fanatismo religioso ou intransigência política não entram nos padrões daqueles que buscam seguir a Palavra de Deus. Assim, fala Deus pela boca do profeta Isaías: “os meus pensamentos não são os vossos pensamentos e os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8).
Não temos a capacidade de dizer o que é o certo ou o errado. Só Deus tem essa possibilidade. É nesse mesmo sentido que Paulo compreendeu o modo de ser cristão. Ele tinha criado um paradoxo em sua existência. Qual era a melhor opção na existência humana: morrer, para estar próximo do Cristo, plenitude da humanidade ou viver, para ser espelho dessa Palavra para os irmãos?
O Apóstolo só compreendeu a verdadeira opção quando olhou verdadeiramente para Cristo, não era um ou outro o caminho melhor a ser seguido. Porém, como ele mesmo aponta: “Comportai-vos de modo digno segundo o Evangelho de Cristo” (Fl 1, 27). Em Cristo já se realizou toda uma palavra de Verdade, todo um caminho a ser percorrido.
A pergunta pode persistir: Qual o modo correto de se viver? Em qual cultura está a verdadeira vida? Nossa fé afirma Cristo como Caminho de salvação, Palavra que é plenitude de uma Verdade que aponta para a perfeição de uma vida. Porém, não deve ser da personalidade cristã saber quem vai ser salvo ou quem não seguiu Cristo, quem está ou não obedecendo aos mandamentos da Igreja, quem está ou não inserido nela.
No evangelho, Jesus quebra com essa lógica humana de uma vida aparentemente certa ou errada: “Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 16). A dimensão essencial da vida humana está em viver essa Palavra de Vida que se fez Caridade, Doação e Sacrifício na pessoa de Cristo Jesus.
Olhemos para Maria, ela nos ensina a desenvolver uma perspectiva central de nossa fé. O escândalo da cruz poderia se motivo de revolta para ela. Porém, se estamos falado da realização de um projeto divino, a plenitude de uma vida já estava sendo realizada no último suspiro de seu Filho. Maria, na dor, já estava a compreender o mistério da ressurreição.
Do mesmo modo, que nós também possamos abraçar essa Palavra de Deus, que se faz homem em Jesus Cristo. O seu modo de ser e viver deve ser luz diante de um mundo marcado pela intolerância cultural, religiosa e política. O maior movimento de justiça que Cristo faz para conosco é sempre o mesmo: amor-caridade. Façamos o mesmo.

sábado, 17 de setembro de 2011

Sábado da XXIV Semana do Tempo Comum

17 de setembro de 2011

Quem tem ouvidos ouça.

Nós que vivemos em um mundo da rapidez das informações, dos transportes e do conhecimento corremos o risco de fazer com que tudo entre nesse mesmo movimento de imediatismo. O perigo disso está quando as próprias relações humanas e o contato consigo mesmo deixam-se permear por um modo imaturo e inconstante de viver.
São Paulo nos ensina a entrar no projeto de caminhar sob o olhar da Palavra de Deus que no Antigo Testamento se fez Mandamento e na plenitude dos tempos se fez Carne. Diz o Apóstolo: “[...] te ordeno a conservar sem mancha e de modo irrepreensível os mandamentos até ao dia da manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tm 6, 14).
Dentro de uma cultura de muitas “boas idéias” o homem pode esquecer uma qualidade fundamental para a sua vida: a perseverança. O perigo da velocidade das informações e do conhecimento está exatamente quando tudo corre o risco de criar homens inconstantes, sem perseverança em suas opções e que, qualquer dificuldade, podem desmoronar.
“[...] Aqueles que, depois de haver escutado a Palavra com o coração integro e bom, as guardam e produzem fruto na perseverança” (Lc 8, 15). A imagem da associação da Palavra de Deus com a semente nos ensina a olhá-la como possibilidade de Vida Plena, mas que só pode dar frutos se for acolhida e gerada com paciência.
Mesmo dentro de uma estrutura de rapidez, o homem deve aprender que ele não é maquina, mas que está dentro do projeto de uma humanidade que evolui gradativamente. Em nossas relações humanas e em nosso próprio processo de auto-formação, devemos aprender a “dar tempo” a nós mesmos, sabendo esperar que algumas coisas amadureçam por si mesmas.
Se formos pacientes nesse processo, mesmo que demore, os frutos virão em trinta, sessenta e até sem por semente.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sexta feira da XXIX Semana do Tempo Comum

16 de setembro de 2011.


Seguindo proposta dos textos anteriores, a liturgia de hoje apresenta a proposta da simplicidade de vida para aqueles que buscam o caminho de Jesus. Não confundindo com miserabilidade, o caminho de pobreza é a proposta básica de uma vida simples conformando-se sempre ao Deus que, por amor, se fez homem.
São Paulo, quando escreve aos Coríntios é enfático ao afirmar: “Não trouxemos nada para o mundo e daqui não levaremos nada” (1 Tm 6, 7). O acúmulo de bens, nesse sentido, é uma ilusão que nos é imposta por uma cultura de consumo. Do mesmo modo, o desapego é sinal daqueles que tiveram um encontro pessoal com Cristo: “Estavam com ele os doze e algumas mulheres que tinham sido libertas de espíritos maus e enfermidades” (Lc 8, 1-2b).
Que o Deus que se fez homem e habitou entre nós faça desenvolver em nossas existências esse mesmo espírito de humildade e simplicidade que fez surgir tantos santos em nosso meio. Com a humildade, somos capazes de encarar quem realmente somos, a verdade que temos diante de si e, a partir dela, crescer. Por meio da simplicidade, nos abrimos para um Deus que quer nos conformar a Si, mas necessita de nosso esvaziamento.
Saibamos aprender a, cotidianamente, entrar na dinâmica da simplicidade de uma vida. Sabendo que tudo o que temos deve sempre ser instrumento de santificação, sendo o resto acúmulo, e tudo o que somos é meio de um homem que busca os passos de uma perfeição.

Beata Virgem Maria das Dores

15 de setembro de 2011

Tornou-se causa de salvação eterna para todos que lhe obedecem

A liturgia de hoje ainda nos faz entrar no grande, complexo e árduo mistério da obediência. Marcado pelo pecado dos nossos primeiro pais, tentamos fugir de tudo aquilo que nos possa dominar, queremos ser, por nós mesmos, conhecedores e, mais do que isso, definidores do bem e do mal.
Jesus é a plenitude dessa obediência quando na Cruz entrega a sua vida. Esse não foi um projeto planejado de salvação, mas uma realidade abraçada para que todos conquistassem a vida. Deste modo, nos diz o autor da Carta aos Hebreus: “aprendeu a obediência da qual participou e tornou-se perfeito” (Hb 5, 8s). Sim, Cristo tornou-se perfeito por que aceitou, com toda a sua vida, à vontade de Deus Pai.
Aquela jovem de Nazaré que, no início, entrega-se processo de encarnação do Verbo de Deus, vai até o fim com a sua Palavra. Maria, diz o evangelho de João, estava “junto à cruz” (Jo 19, 25). Ela estava sofria, também de forma carnal, por que tinha sido parte integrante da encarnação do Verbo de Deus. Nós a chamamos de Virem das Dores por que, de tão próxima que estava da cruz, sentia, em si mesma, as dores daquele Sim que se fez homem.
Tais mistérios que hoje celebramos não são histórias bonitas de grandes personagens históricos, mas uma luz para todos aqueles que buscam um sentido para as suas vidas. Em um mundo marcado pelo prazer sem limites, a proposta da obediência, que implica em um sacrifício de nossas próprias vidas, é caminho de salvação porque se desenvolve a partir de um contínuo Sim àquele que é a Plenitude da vida.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Exaltação da Santa Cruz

14 de setembro de 2011

Cristo fez-se semelhante aos homens

Em uma realidade que difunde o prazer a todo custo, uma liberdade sem limites e uma moral relativista, conceitos como disciplina, esforço e sacrifício vão desaparecendo do vocabulário humano. Quando não, tornam-se ternos negativos.
Quando o povo que tinha sido libertado por Deus começou a reclamar da situação em que viviam e a maldizer o momento em que estavam começaram a surgir serpentes entre eles. O homem quando não compreende a situação em que vive e a rejeita começa a viver em uma espécie de inferno, ou seja, a dor por estar distante do sentido de sua vida.
Deus não retira a serpente do meio deles, pelo contrário, manda que seja feita uma serpente de bronze. Deste modo: “Quando uma serpente havia mordido alguém, se esse olhava a serpente de bronze ficava curado” (Nm 21, 9). Esta pedagogia divina aponta para o fato de que os próprios males e as nossas próprias experiências de dificuldades são instrumentos que podemos utilizar para curar-nos.
A salvação daquele povo deveria partir de um olhar, “olhar para a serpente”, olhar para o problema e ver nele a possibilidade de cura.
Cristo, no Novo Testamento é essa nova realidade que é posta no alto para que pudesse ser contemplado. Aquele que “se fez pecado” é também alçado em uma cruz “para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).
Mas, se é difícil compreensão de um Deus que se faz pecado e sofre pelos seus, mais complexo ainda é a promessa de que tudo isso gera ressurreição, gera vida em plenitude de uma vida. Entretanto, o ápice desse paradoxo se resolve no aleluia pascal.
É preciso, portanto, que nós também aprendamos a alçar nossas serpentes, olhar para elas e, como Cristo, transformá-las em vida, em possibilidade de felicidade, de vida eterna.

Terça feira da XXIV Semana do Tempo Comum

13 de setembro de 2011

Deus visitou o seu povo

Por que o mistério da encarnação, devido a sua grandeza e eficácia, não converteu a todos os homens?
Apesar de frágeis e limitados, somos indivíduos orgulhosos. É difícil pensar em um Deus que se faz homem e habita entre nós. Seria muito mais legítimo que Ele, em toda a sua glória, viesse e salvasse todos os homens com uma só aparição. Para muitos, seria mais “divino”.
Porém, o conceito de “divindade” se confunde com o de plenitude. Ao afirmar que algo está ou já é em sua plenitude, já poderíamos chamá-lo de “divino”. O homem, de fato, nunca pode chegar, no período de sua vida na terra, a um estágio de perfeição, já que a imperfeição da matéria o corrompe, mas ele pode construir a plenitude daquilo que lhe é mais próximo: a humanidade.
Muitos olham para Jesus Cristo apenas como o grande homem que realizou magníficos milagres. Estes esqueceram, porém, que sua divindade por confirmada quando ele abraçou tudo o que era plenamente humano.
“Vendo-a [a viúva], o Senhor sentiu grande compaixão por ela” (Lc 7, 13). Jesus não curou o filho daquela mulher por que queria mostrar o poder de sua divindade. Pelo contrário, o milagre partir exatamente porque estava carregado de um sentimento plenamente humano: a compaixão.
Que nós também possamos buscar construir uma santidade em nossas vidas não pelo que nos torna divindades ou grandes, – já que esse foi o motivo do pecado dos nossos primeiros pais – mas por aquilo que nos torna mais plenos, mais humanos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Segunda-feira da XIV Semana do Tempo Comum

Segunda-feira da XIV Semana do Tempo Comum
12 de setembro de 2011
Em nenhum lugar em Israel encontrei uma fé como essa

O que mais prejudica a evolução de uma maturidade espiritual é a negação de que vivemos à luz de uma verdade definitiva: Jesus Cristo. Ele é o centro de nossa fé e, a partir dele, todas as doutrinas partem e toda a santidade converge.
Em um mundo marcado pelo relativismo filosófico, teológico e moral, corremos o risco de construir uma fé “à minha imagem e semelhança”. Posso fazer uma seleção de tudo o que eu penso, que seja conveniente para os meus comportamentos. O que é complicado ou difícil de se abraçar passa a ser rejeitado.
Para aqueles que buscam olhar para o cristianismo de forma plena aqui está a palavra chave de fé: obediência. Em um contexto marcado pelos discursos de “liberdades” de expressão, de religião, de filosofias, o conceito de obediência passa a ser esquecido do vocabulário de alguns.
O milagre na vida do soldado romano (cf. Lc 2, 1-7) não partiu apenas de Jesus Cristo. Pelo contrário, foi a sua fé na palavra de Jesus que deu início a cura desejada. Mesmo sem compreender a plenitude de todo o mistério da encarnação ele via que, em Cristo, estava sendo construída a plenitude da humanidade e, portanto, nele estava a salvação.
Tudo isso iniciado pelo duplo movimento de obediência: primeiro, de Deus que abraça a encarnação e, segundo, de Maria que assume essa proposta em sua vida.
São Paulo continua o seu processo catequizador quando confirma: “Esta coisa é agradável aos olhos de Deus, nossos salvador, que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2, 3-4). Obedecer à Palavra de Deus encarnada em Jesus Cristo faz-nos escapar dos inúmeros discursos alienantes do mundo de hoje, inclusive o de uma liberdade a todo custo, e nos põe a caminho da plenitude de nossa vida.

sábado, 10 de setembro de 2011

Perdoar para viver


Nessa semana que passou comemoramos o dia 07 de setembro. Para nós Brasileiros é a memória do grito de nossa independência como colônia de Portugal. A partir do ano de 1822 nosso país se distanciou de considerável parte das influências políticas e econômicas do Estado que o dominava.
O homem, como indivíduo político é sempre um ser de relações. Tais interações condicionam muitos de seus gestos e posturas. Ele, para satisfazer ou negar determinados contextos sociais modela suas próprias ações sempre em virtude dos outros. Em última instância, por ser homem histórico, ele está sendo sempre condicionado a um determinado conjunto de posturas.
Não podemos discutir, nesse sentido, uma liberdade absoluta do homem, mas uma liberdade que o permite interagir de diversas formas com o mundo que o envolve. Essa faculdade tem como conseqüência as responsabilidades morais e políticas resultantes desse agir.
Entretanto, os discursos que vemos surgir em muitos contextos acadêmicos, midiáticos e políticos é a exigência de uma liberdade que visa quebrar com todos os princípios já construídos pela sociedade. O homem deveria ser “livre” para pensar e, nesse caminho, qualquer norma já constituída apresentaria um perigo e deveria ser anulada.
O termo antagônico mais claro para a liberdade é o de escravidão. O problema da falta de liberdade não está na existência de realidades já pensadas, mas no fato de que tais estruturas impedem o indivíduo de pensar e, conseqüentemente, viver.
O homem não deixa de ser livre com a existência de filosofias tradicionais, dogmas teológicos ou regras sociais. Ele é escravo quando seu movimento busca apenas negar tudo, apenas por orgulho, e que sua tese deve se sobrepor às demais. Nesse sentido, o seu modo de pensar está sendo escravo de si mesmo. Sua própria soberba o domina.
Jesus usa a dinâmica do perdão contínuo (cf. Mt 18, 22) para ilustrar a necessidade de homens realmente livres. O ódio ou um preconceito lançado contra alguém é sinal de um julgamento a partir de categorias isoladas próprias, conceitos “pré-determinados”. O ódio contra o outro passa a ser alimentado por uma espécie de “pré-juízos”. Eu me torno um escravo de meus “pré-conceitos”.
A sabedoria do Antigo Testamento justifica essa dinâmica do perdão: “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar” (Eclo, 27, 6). Estamos todos dentro de uma mesma estrutura biologia, cultural, econômica, social... Todos sofremos semelhantes influências, corremos os mesmos riscos, podemos cair nos mesmos erros que condenamos.
É nesse sentido que o perdão tem um caráter pedagógico duplo e, conseqüentemente, necessário. Primeiro: ele permite que nos libertemos de nossos preconceitos, compreendendo o outro sempre como um mistério a ser contemplado, não determinado. Segundo: coloca-nos em um contexto objetivo de comunhão, eu posso sofrer as mesmas dores do outro, desenvolver as mesmas dificuldades.
Maria bem nos esclarece a realidade do perdão. Diante da cruz ela não se rebela contra os algozes do próprio filho. Ela entra em comunhão com o mistério da obediência de Cristo. O silêncio de Jesus confirma o seu. Diante da cruz ela antegozava o mistério da ressurreição em um ambiente em que só se podia ver sofrimento, desgraça e isolamento.
Com isso, perante discursos que exigem uma liberdade sem norte, que nós possamos buscar um caminho único para seguir. Ao encontrá-lo, podemos abraçá-lo ou não, escolher outras veredas. Mas uma certeza devemos ter: a salvação da humanidade iniciou quando um homem, aparentemente preso à dor e à eminente morte, entrega a sua vida como instrumento de plena libertação.

Sábado da XXIII Semana do Tempo Comum

Sábado da XXIII Semana do Tempo Comum
10 de setembro de 2011

“Toda árvore é reconhecida pelos frutos”

O homem, como ser histórico e cultural, vive por meio de símbolos, marcas e valores que definem o seu modo de ser e comportar-se. O ponto crítico dessa realidade se constitui quando tudo se reduz a uma prática externa. “Pratico o bem para que os outros vejam que sou cristão” e não “Sou cristão, por isso faço o bem”.
Nós que abraçamos a fé católica não aderimos a uma filosofia de vida, a um conjunto de dogmas ou a uma escola teológica. Buscamos uma Pessoa, alguém que, com sua vida, apresentou ao mundo a verdadeira vontade do Pai. Assim, o chamamos Verbo de Deus.
Do mesmo modo Jesus Cristo preocupa-se que seus discípulos entrassem em uma estrutura apenas política ou sentimental da religião. Assim, afirma: “Por que me invocas: ‘Senhor, Senhor’ e não fazes não fazes aquilo que digo?” (Lc 6, 44). A prova que devemos dar de nossa opção por Cristo deve ultrapassar os sinais externos de nosso viver.
Jesus Cristo não foi uma ideia, tampouco um conjunto de discursos morais de “bem viver”. Ele foi caminho de salvação, assim, confirma o Apóstolo: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1 Tm 1, 15). Ele abraçou o mistério da cruz para que todo aquele que entregasse a sua vida a serviço de outros vivessem a glória da ressureição.
Que nós lutemos não apenas para apresentar aos outros que somos católicos. Deixemos que o mundo perceba que nós trazemos algo diferente em nossa existência. Que, como Maria, possamos trazer em nossas vidas o mistério do Deus encarnado, do Deus que se fez Homem e do Homem que se fez Pão. Alimento esse que, ao ser partido, sacia e dá forças para a caminhada rumo à plenitude da vida.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sexta feira da XXIII Semana do Tempo Comum

Sexta feira da XXIII Semana do Tempo Comum
09 de setembro de 2011

“Pode um cego guiar outro cego?”

O que torna mais difícil a relação humana não são as dificuldades, em si mesma, dos nossos irmãos, mas o modo humano e intolerante de compreendê-las. Somos homens de imaginação, reflexão, de julgamentos, mas o problema maior aparece quando tais juízos são “absolutizados”: o outro se encerra em meus conceitos.
São Paulo compreendeu bem que a sua conversão partiu de um olhar de perdão por parte de Nosso Senhor: “a mim foi dada a misericórdia por que agia na ignorância” (1 Tm 1, 13). Todos os seus erros foram anulados por que ele não conhecia a plenitude da verdade. Da mesma forma, muitos dos pecados ao nosso redor também devem ser compreendidos como “cegueiras”.
Quando, todavia, podemos saber que o pecado do nosso irmão é uma falha por causa de sua ignorância em não conhecer a verdade ou uma omissão em não querer assumir o bom caminho? Quando entender que o erro alheio é uma opção?
O meio termo que podemos assumir entre a condenação e a absolvição está, portanto, no silêncio. Nunca poderemos saber quais os motivos que levaram o outro a cometer determinado erro. Todo homem será sempre um mistério inserido em um contexto histórico, psicológico, biológico e espiritual.
Jesus, nesse sentido, encerra essa problemática quando esclarece: “Por que olhas para o cisco que está no olho do teu irmão e esqueces a trave que está no teu?” (Lc 6, 41). Nós temos muitas dificuldades a serem superadas, falhas a serem corrigidas, pecados a serem redimidos...
Olhar demasiadamente para as lacunas dos outros pode fazer com que nos percamos no vácuo de uma existência.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Festa da Natividade de Nossa Senhora

Festa da Natividade de Nossa Senhora
08 de setembro de 2011

“Deus está conosco”

Em um contexto de tantos aperfeiçoamentos, técnicas e evoluções, é difícil pensar em uma vida simples. Quando ela existe, por condição social ou opção, está sempre à margem da sociedade. O homem abraça a técnica e as conseqüências de sua evolução quase sempre para construir um crescimento pessoal.
Celebrar o nascimento de Maria e se alegrar com a vida daquela que soube construir em sua própria existência a realidade divina. Essa construção, entretanto, se deu por uma via contrária a que o mundo prega: “Eis que uma virgem conceberá e dará a luz a um filho, a ele será dado o nome de Emanuel, que significa Deus está conosco” (Mt 1, 23).
Gerar o Filho de Deus não foi um merecimento de Nossa Senhora. A encarnação do Verbo Divino foi uma Graça daquela que soube esvaziar-se de suas vontades para deixar que Deus habitasse plenamente em sua vida. A grandeza de Maria não estava em grandes ações, palavras ou milagres, mas na vivência cotidiana de uma palavra de Vida.
A Jovem de Nazaré compre a promessa do Antigo Testamento: “E tu, Belém de Éfrata, a menor entre as terras de Judá, de ti sairá para nós aquele que vai ser o dominador de Israel” (Mi 5, 1). Para que Deus pudesse habitar plenamente em nosso meio era necessário uma pureza de corpo e uma simplicidade de espírito.
Por que soube viver uma vida simples, na vivência plena da Palavra de Deus, Maria conseguiu gerar o próprio Verbo em seu seio. Aquela que soube se livrar de todo desejo individual, sentimento de grandeza ou pecado abriu o espaço suficiente para que Deus habitasse plenamente, o Absoluto se encarnou no ventre daquela que se fez nada.