quinta-feira, 15 de julho de 2010

Querendo ou não: somos um corpo



Estamos vivendo no mundo das especializações, da técnica que tudo fragmenta para melhor compreender. O saber torna-se cada vez mais disciplinar e a ciência, como produto dessa cultura, desenvolve-se a caminho de um conhecimento cada vez mais aprofundado da realidade. Entretanto, até que ponto todo esse progresso está sendo disponível para o bem comum? A globalização dos saberes e das riquezas está sendo realmente globalizada?

Em uma sociedade onde as habilidades humanas são exaltadas cada vez mais, toda capacidade individual passa a ser aproveitada pelas ciências – humanas ou técnicas – para o progresso da sociedade. Porém, os setores sociais parecem não levar em conta de que estamos inseridos em uma coletividade e fazemos parte da mesma raça: a humana, e por isso, todas as suas ações devem se desenvolver com esse pensamento.

A mentalidade do “cada um por si e Deus por todos”, na realidade é transformada em “todos contra todos e Deus por ninguém”. Os dons individuais passam a ser fonte de conflitos, cada pessoa tenta mostrar que sua habilidade é a melhor e que todos devem segui-lo, tudo que for diferente deve ser excluído do meio em que vive.

São Paulo nos apresenta a proposta cristã da verdadeira comunidade: “Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo” (1 Cor 1, 12). Somente quando temos a compreensão de que estamos integrados em um mesmo corpo social que tem o Espírito Santo de Deus, manifestado concretamente em Jesus Cristo, como fonte de unidade, podemos agir em função de um bem comum.

Essa era a mentalidade dos homens de Babel e nossa: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu” (Gn 11, 4). Queremos construir uma unidade fundada em nossas capacidades, sem nenhum paradigma que possa unificar as ações. Deus, porém, confunde a língua dos homens para mostrar que, isolados, não conseguiremos construir comunhão.

É Cristo, depois de ter sido reconhecido por suas chagas, quem nos diz: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22). Somente no espírito do Ressuscitado podemos compreender essa possibilidade de comunhão. O homem só pode se reconhecido como um outro Cristo a partir do momento em que sabe entregar sua vida em função do bem comum e que utiliza dos dons recebidos pelo Espírito de Deus para o benefício de toda a sua comunidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2, 4). O Espírito que Deus envia é dado a todos os que estão abertos à sua mensagem, aos que estão dispostos a negar-se a si mesmos e a se entregarem ao plano de unidade querido pelo Pai.

Que nós possamos sentir a necessidade de uma verdadeira comunidade fundada na compreensão orgânica de São Paulo, onde todos, com suas habilidades e limitações, sempre tem algo a contribuir para o bem comum. E que, ao tentar excluir um dos órgãos dessa sociedade estamos, na verdade, nos excluindo desse conjunto, desestruturando o corpo e negando Cristo, como cabeça dessa realidade.

Portanto, abramo-nos à possibilidade de construção da plenitude da comunhão social, que só é alcançada verdadeiramente quando sabemos aceitar os homens com seus dons e imperfeições, e na visão de que, juntos, podemos tornar real e presente a Realidade Divina Perfeita.

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