terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Abrir-se para Deus

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A Igreja comemorou no último dia 08 a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Mais do que contemplar que a concepção de Maria ocorreu sem a interferência humana e que, por isso, Deus a preservou de qualquer mancha de pecado, faz-se necessário compreender a atitude de Maria diante de tal realidade. Ela abriu-se para Deus e Ele pôde vir até nós.

Estamos vivendo na cultura que é marcada pelo mais fácil, do individualismo, do subjetivismo, da busca por um bem estar isolado sem valores morais que possam dar norte a todas as ações. Quando o homem assume tais atitudes em sua vida, perde o seu caráter humano, isto é, aquilo que o torna diferente de todos os animais. Queremos fazer tudo o que desejamos, como quisermos, onde quisermos, como quantas vezes acharmos necessário... Chamamos isso liberdade. Esquecemos que são os animais que agem somente por instintos e não refletem suas ações, nem as têm motivadas por intenções, regras, normas e limites.

Quando vemos uma jovem que prematuramente se vê grávida e deseja um aborto, muitas vezes justificamos tal ato pelo fato que ele é “dona” de seu próprio organismo, ela é livre para fazer o que quiser. A pergunta central deve ser feita: Temos realmente poder ilimitado sobre nossas vidas? Podemos controlá-la completamente?

A resposta negativa se dá pelo fato de que há uma realidade que ultrapassa o homem, o abraça, uma Inteligência Perfeita que cria todos as pessoas e as atrai para Si. Tal realidade a teologia cristã chama Deus. Ele nos propõe um modo de viver fundado na pessoa de Seu filho, Jesus Cristo. A obediência em se seguir um caminho pensado e traçado por Deus é a certeza de que chegaremos até Ele, assim como Nosso Senhor o fez.

Maria, ao receber a proposta da encarnação do Verbo, não aceitou de modo inquestionável, ela não compreendeu como aquilo se daria e temia por sua comunidade, que valorizava a gravidez de uma mulher sem marido. Porém, a jovem de Nazaré estava aberta aos planos de Deus, ela sabia que se a proposta era realmente divina, não teria o que temer. Acima de tudo, Maria sabia que seu corpo não era seu, mas pertencia a uma estrutura organizadora maior, a um Plano mais amplo e complexo. Deu-se, assim, início o processo da salvação da humanidade.

Muitas vezes, o homem disfarça sua liberdade pensando que ela consiste em se fazer tudo que for possível, que ele é senhor do mundo. Entretanto, sua humanidade o condena, ele é material, limitado, ele não pode ser Deus.

Diante de tudo isso, a abertura é a exigência primeira do homem que quer seguir uma ordem social mais ampla do que seus limitados desejos. Abrir-se para ver os caminhos propostos pelos bons exemplos são alternativas diante de uma postura egocêntrica, individual. Aprender com o que o outro sempre tem a nos ensinar é saber ver a manifestação de Deus em nossa realidade. Por ter os homens dons diversos, aprender com os outros é tornar possível uma aproximação com o Divino.

Maria foi aquela que soube aprender. Diante de um mundo marcado pelo senhorio de todos os homens, ela soube ir além, sendo serva não só de Deus, mas de todos os homens. Sua humilhação representou a total entrega aos planos de uma realidade maior, que a transcendia e que, por isso, sabia o que era certo para ela e para o mundo. Humilhar-se não representou, para Maria, baixar-se, mas esvaziar-se de todos os desejos, pretensões e pré-conceitos para saber que havia algo mais amplo do que ela mesma, algo de mais superior a ser atingido. Aceitando Deus, ela se aproximou dele e tornou-se Santa.

Nossa Senhora só pôde gerar Deus por que estava vazia de si mesma. Do contrário, Deus não caberia se houvesse desejos particulares ou o sentimento de ser dona de si. O “faça-se” de Maria veio associado ao “eis-me aqui”. Cristo só se encanou porque ela permitiu que assim o fosse, porém tal permissão não foi uma ordem, mas uma kénosis, ou seja, um total esvaziamento pessoal, realmente livre.

Que saibamos aprender com a Virgem Maria a tornar presente Deus em nossa humanidade. Para isso, faz-se necessário abrir ao que Ele tem a nos ensinar por meio dos homens. Cada pessoa tem uma habilidade diferente. Juntas elas tornam possíveis a idéia de perfeição. Aprender com cada homem é tornar possível a santidade em nossas vidas, aproximando-se do verdadeiro sentido da nossa existência que é o fato de estar em comunhão com a Suprema Perfeição.

Abramo-nos e sejamos santos, esvaziemo-nos e nos tornemos perfeitos!
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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 185, 19/12/2009]

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