domingo, 6 de dezembro de 2009

Novo homem, nova comunidade

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O homem moderno, com todo o desenvolvimento científico, tecnológico e cognitivo, se perde diante da complexidade do universo e, mais ainda, diante da imensidade de si mesmo. Apesar de ter chegado à um progresso nunca imaginado, ele se vê pequeno e indefeso diante de posturas e interesses humanos que buscam uma felicidade sempre insaciável e nem sempre real.


Um pai que mata uma criança; um motorista que dirige irresponsavelmente; um jovem que busca a droga ou vende seu corpo em troca de prazer ou dinheiro; pessoas que deveriam ter a responsabilidade de cuidar do povo, mas empregam seu poder político para obter benefícios próprios; nações que utilizam de seu progresso para dominar política e economicamente outras, desde ações diplomáticas à guerra... Isso é a corrupção humana, isso representa o fim de uma sociedade, o fim do mundo.


O indivíduo que busca elevar a sua humanidade em direção a um bem comum, desvia-se dessa construção quando concentra suas forças para a realização de uma felicidade passageira. Essa busca desenfreada por bens materiais múltiplos representa a falta de um norte para a vida da pessoa. O homem, preso aos diversos bens materiais, esquece o único e definitivo valor que é a vida humana, que deve ser fator decisivo para toda ação moral.


É nesse sentido que Cristo surge como luz na escuridão e na perdição humana. O homem que está sem rumo, vê na pessoa de Jesus, não uma figura a ser somente contemplada, mas um modelo para ser abraçado e seguido por todos.


Nosso Senhor, sendo verdadeiramente Deus – porque verdadeiramente homem –, soube construir uma vida plena e feliz, pois se entregou como sacrifício em favor da humanidade. Quando praticamos uma ação em benefício próprio, estamos nos afastando do ideal de uma sociedade que deve buscar o bem comum. Diante, portanto, do caos que está parte de nossa sociedade, Cristo surge como caminho, valor único, princípio e fim de toda a ação moral.


São Agostinho, filósofo cristão do século IV, defendia a tese de que Deus não era responsável pelas más ações que ocorriam na humanidade. O homem, segundo o Bispo de Hipona, teria recebido a liberdade da Suprema Inteligência para que ele pudesse livremente buscá-La. Entretanto, nas palavras de São João: “O que foi feito nele [Cristo, Verbo de Deus] era a vida, e a vida era a luz dos homens, e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1, 4-5).


Todos os conflitos, guerras, corrupções e demais crimes são conseqüências lógicas de quem está sem um sentido para a vida e busca qualquer bem aparente. É a aceitação do projeto de Deus que nos dá, em Cristo, o verdadeiro salvador, aquele que retira os homens das trevas do erro e os colocam no caminho reto e único de construção do bem comum no corpo social, que é a nossa comum-unidade.


Que nós aprendamos a ler os “sinais dos tempos” e perceber que o Filho do Homem se aproxima de nossa humanidade toda vez que optamos por Ele e sabemos conformar nossas ações ao seu mistério redentor que iniciou na simplicidade do seu nascimento, no compromisso pelo reino, na defesa da pessoa humana, no sacrifício da cruz, na morte para um mundo de pecado e na vitória da ressurreição.


A mesma profecia também se repete para nós: “esta geração não passará até que tudo isso aconteça” (Mc 13, 30). O homem que se compromete com a construção do reino, sendo luz para os outros, brilha nas trevas de uma comunidade marcada pelo pecado, e atualiza a salvação iniciada pelo Cristo no mistério da ressurreição.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 181, 14/11/2009]

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