domingo, 6 de dezembro de 2009

Um novo mundo vem aí

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Diante de uma realidade política, social, econômica e, muitas vezes, até mesmo religiosa que oprime a pessoa humana, o homem tende a inibir-se e se ausentar de uma participação social. Para muitos, esta estrutura social “sempre foi assim”, “assim permanece” e “sempre será”. Sempre os indivíduos serão utilizados como objetos e produtos em função de interesses particulares, sempre alguns ricos oprimirão muitos desfavorecidos, sempre haverá fome, miséria e corrupção... sempre, sempre, sempre...

Mesmo sabendo que a nossa realidade não pode ser transformada da noite para o dia, devemos considerar que uma mentalidade como essa só gera “angústia” e “medo” nas pessoas (Cf. Lc 21, 25-26). Perante uma conjuntura caótica, de desordem social, a falta de esperança em um progresso – mesmo que lento – da humanidade é o que mais prejudica a nossa comunidade.

O evangelista Lucas proclama que, diante desse tipo de conflito, todos “verão o Filho do homem vindo numa nuvem com grande poder e glória” (Lc 21, 27). Diante de uma realidade confusa, de dor, mortes e sacrifícios, surge o Cristo. Ele emerge exatamente de um contexto como esse.

É nesse sentido que podemos ver Jesus naquele que sofre: na criança abandonada ou morta pelos pais, no jovem que não tem um norte para a sua vida, numa mãe de família que não tem como manter seus filhos. Associado à isso, podemos vê-Lo também no traficante, naquele que rouba para viver ou mesmo para se drogar, no político que age em benefício próprio e no homem que perde o sentido de sua vida e põe um fim a ela.

Quando olhamos para o nosso lado e percebemos que essa situação manifesta exatamente o Cristo, pobre e sofredor, vemos que tal conflito não é uma situação “pré-determinada” ou que vai durar para sempre. Tal desordem, pelo contrário, é fruto de uma opção nossa e, portanto, cabe a nós revertê-la.

Mas que fazer diante de tudo isso? Jeremias já profetiza: “O Senhor é nossa justiça” (33, 16). Somente Jesus pode trazer a ordem para essa realidade, não porque Ele vai pôr um fim definitivo em todos os problemas de nossa sociedade, mas pelo fato de Ele nos mostra um sentido para tudo isso. Por isso, quando aproximamos o nosso modo de ser à pessoa de Jesus, damos início à construção do reino de Deus, já que sabemos que tudo o que acontece de positivo ou negativo em nosso contexto, pode – e deve – ser convertido em possibilidade de aprendizagem, de crescimento pessoal e comunitário, ou seja, de instrumento para o progresso humano integral.

Quando aprendemos que somos agentes de uma realidade e que toda situação é fruto de ações humanas do passado e dos atos e omissões do presente, vamos sentindo-nos mais responsáveis por ela. Tal compromisso nos faz ver Cristo como modelo de salvador e, na nossa aproximação com Ele, nos torna co-redentores do mundo.

Esse processo de redenção, entretanto, deve acontecer de modo gradativo e perseverante, como já está ocorrendo – basta olhar em nossa volta. Somente por meio de uma oração atenta e contínua como fundamento de nossas ações missionárias e pastorais, podemos superar uma mentalidade social baseada na opressão pelo medo e pela inibição das pessoas. Diante disso, Cristo nos impele: “levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28).

Possamos olhar nossa realidade com os olhos de Nosso Senhor, Rei, Salvador e Caminho de uma humanidade nova, e aprendamos a participar da construção do novo mundo, fundado Jesus, “nossa justiça”, na opção pela vida e dignidade do homem. Sem se prender ao que é passageiro, que nós utilizemos nossa força, habilidade e inteligência em função do bem comum, para o progresso do corpo social, isto é, para a constituição e santificação do Corpo de Cristo.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, EDIÇÃO ESPECIAL, 28/11/2009]

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