terça-feira, 29 de dezembro de 2009

“E o que você fez?”

As festas de fim de ano, em sua essência, têm a função de nos fazer olhar para trás e avaliar todas as nossas posturas no ano que está para ser encerrado. Todavia, em uma estrutura social que racionaliza, quantifica e tudo transforma em mercadoria lucrativa, parece que estamos a perder o “espírito do natal” ou a esperança em um “ano novo”.

Mais do que um momento de repensar e projetar novas perspectivas para o ano que se inicia, as festas de Natal e de Ano novo tornaram-se, para muitos, uma grande comemoração com trocas de presentes, grandes festas e muita alegria... O desejo sempre é o mesmo: “muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender...”.

Estamos, a cada dia, perdendo o sentido dessas comemorações, burocratizamos tudo o que é posto à nossa frente. Porém, ao tratar todas as relações como produto comercializável, perdemos de crescer com o significado que cada uma delas nos mostra.

Até mesmo as simpatias que alguns praticam são marcas de uma busca por um “bem estar” a ser trocado – quando não comprado – por uma ação qualquer. Mais do que uma crença sem fundamentos, elas refletem a nossa falta de esforços e sacrifícios para construir o que desejamos.

E o que fazer para encontrar a felicidade que tanto procuramos? Com a palavra, um mensageiro de Deus: “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12). A mensagem mais clara, concreta e viva de salvação que Deus nos dá e que nos faz encontrar verdadeiro sentido para a nossa existência está na pessoa de Seu filho Jesus Cristo.

A imagem do nascimento da criança num espaço pobre nos lembra que a construção de uma vida bem-aventurada não se faz com grandes realizações. O recém-nascido mostra-nos a novidade e a esperança que está por trás de cada nascimento e renovação.

A primeira postura a ser realizada por aquele que quer ter uma nova vida é a de olhar para trás, pois não há maior e melhor mestre do que o passado. Aprender com os erros e acertos já praticados é a garantia mais segura de que podemos aperfeiçoar tudo o que já fizemos. A segunda, e mais essencial, é a “oração dos sábios”: o silêncio. Somente por meio da reflexão crítica podemos avaliar todas as nossas decisões passadas e, aperfeiçoando-as, criar novas estratégias para renascer a cada momento de nossa existência.

Neste Natal, possamos nascer para uma vida nova, não por meio de uma esperança vaga e utópica, mas com decisão e vontade de lutar para que ela seja sempre o maior valor de nossa sociedade. Um menino está para nascer, não somente no Natal, mas em cada um de nós. A esperança que ele nos traz é a certeza de que podemos, a cada dia, renascer para um novo modo de olhar o mundo e agir sobre ele.

Que o Espírito do Deus que se encarnou em nossa humanidade nos faça acolher a mensagem de humildade e esvaziamento de nossos próprios desejos em função do bem de todos. Possamos olhar, em sua simplicidade, a grandeza que está por trás de pequenos gestos de bondade que são realizados a nossa volta.

Que 2010 não seja mais um ano a ser superado somente com atividades sociais e profissionais. Que ele venha com o Espírito santo e santificador de Deus, que está sempre pronto para renovar nossa realidade, basta estarmos abertos a Sua mensagem. Estejamos preparados para tornar a realidade divina presente em nossa humanidade por meio de nosso cotidiano Sim ao outro, a vida, a Deus.

Façamo-nos pobres e obedientes para que o Deus de infinita perfeição possa novamente entrar em nossas existências. Com o espírito do Deus Criança, possamos tornar este ano que está para ser iniciado um momento realmente novo, na contínua esperança da construção de um mundo mais humano e fraterno.

Para que este Natal seja concretamente santo, precisamos estar abertos à novidade de sua proposta e para que 2010 seja abençoado, precisamos lutar a fim de que ele seja realmente Novo.

Um Abençoado Natal!
Um 2010 realmente Novo!



[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, EDIÇÃO ESPECIAL, 26/12/2009]

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