segunda-feira, 29 de março de 2010

“Não só de pão”


“O homem é aquilo que come”.

Essa frase foi dita por um filósofo alemão do século XIX chamado Karl Marx. Ela foi escrita para apresentar uma visão material do mundo. Para Marx, não haveria mais nada além do plano da existência concreta. Porém, apesar de limitada, tal afirmação descreve bem a organização de nossa sociedade. O homem de hoje parece viver unicamente em função da satisfação de seus desejos mais básicos.

O sistema capitalista, marcado principalmente pela produção de bens de consumo, tem como objetivo fundamental o acúmulo de capital por meio do lucro. Essa meta torna-se absoluta a partir do momento em que todos os espaços, bens materiais e indivíduos são absorvidos por essa prática. O capitalismo mercantiliza o mundo e a vida. Tudo passa a ser quantificado, qualificado e valorado em função do mercado, torna-se produto a ser vendido ou objeto de troca.

O homem não escapa desse jogo. O conceito de humanidade vai sendo trocado pelo de utilidade. Ele vale o quanto – e enquanto – produz e é esquecido quando não participa ou deixa de contribuir com sua comunidade. Nesse mesmo sentido, o outro passa a ser visto como meio para um benefício particular, se ele tem algo a oferecer, possui algum valor social, mas quando não, é esquecido. Com isso, conceitos como fraternidade, solidariedade, entrega, colaboração e amor desaparecem das relações humanas.

A superação de uma concepção materialista da sociedade, e do homem como fruto desse contexto, não pode ser realizada sem uma formação ética de seus indivíduos. Faz-se necessário uma compreensão moral da pessoa voltada para o seu caráter integral. Ele não é somente reflexo de uma interação física, mas indivíduo simbólico, cultural, histórico, emocional, biológico, racional e espiritual, ou seja, é um complexo orgânico.

A primeira tentação de Jesus, apresentada por Lucas, demonstra a ação maligna que propõe a satisfação material como meio de alcançar uma felicidade meramente corporal. O Cristo responde a tal investida com uma proposta de compreensão humana: “Não só de pão vive o homem” (4, 4). O homem não vive somente para alimentar-se, vestir-se ou procriar, mas para ir além de tudo isso, sendo imagem e semelhança do Divino.

Por isso, utilizar da razão para compreender-se não somente como animais sociais é o caminho mais positivo para uma humanização do indivíduo. De fato, ele é aquilo que come, mas é também aquilo que transforma, que cria, que pensa... Ele é mais, porque é homem, porque é imagem e semelhança de Deus.

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