segunda-feira, 29 de março de 2010

Ninguém converte ninguém


Quando vemos a estrutura política do Brasil ou os recentes acontecimentos ambientais do planeta, qual a nossa postura? Quais os motivos de tanta injustiça, corrupções, desvios de condutas, desastres naturais e humanos? A resposta parece ser sempre óbvia: a culpa é dos homens. Porém, outra reflexão deve surgir a partir disso: de quais homens estamos falando?

Crescemos na cultura do julgar. Ao nos depararmos frente a fenômenos sociais, somos logo tentados a emitir opiniões prévias, pré-conceitos. Essa postura, muitas vezes, limita a realidade do fato exatamente porque o reduz à nossa visão, que é sempre limitada. O pior de tudo isso é que tais posições quase sempre são tomadas com a isenção de quem julga, o conflito é sempre do outro, a origem dos erros está sempre distante de nós.

O problema se amplia quando somos levados a assumir a postura de “salvadores da pátria”. Para tudo temos soluções, respostas prontas e condenações na ponta da língua. Tomamos a postura de redentores da humanidade e esquecemos que a vida é mais ampla do que nossa compreensão pode abraçar e nossas atitudes podem realizar, não vemos nem sequer uma fagulha do problema. Falta-nos, com isso, humildade para perceber esse conflito.

Cristo mostrou-nos o verdadeiro modelo de redenção. Ao chegarem para ele apontando para um problema distante do seu contexto, ele se punha a aproximar e problematizar o fato, fazendo saber que nada é distante de nossa existência, que não estamos isentos de nenhum erro e que não podemos assumir a postura de juízes absolutos dos fatos.

Ao trazerem a notícia da morte dos galileus por Pilatos (cf. Lc 13, 1), Jesus fez saber que todos estão sujeitos à mesma realidade: “se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo” (Lc 13, 3). Se não estivermos atentos ao que ocorre no mundo, podemos cair nos defeitos que apontamos. É nesse sentido que não podemos assumir a postura de juízes nem de salvadores do planeta. Somos homens, estamos na mesma barca, sujeitos às mesmas adversidades.

Que o espírito da Palavra do Deus encarnado nos torne mais humanos e menos censores do mundo. Aprendamos que a conversão do homem só se realiza efetivamente por meio de uma sincera busca de crescimento interior, que ninguém converte ninguém, mas só se modifica a si mesmo. A verdadeira transformação de vida se realiza concretamente a partir do momento em que nós sabemos olhar atentamente para Jesus, tomando-o como único modelo capaz de tornar o homem mais homem e a vida efetivamente vida.

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