segunda-feira, 29 de março de 2010

Deus quer filhos


A história do povo brasileiro, assim como de toda a Europa ocidental, foi constituída sob as bases de uma relação hierárquica paternalista. A autoridade geralmente é considerada como um poder inquestionável, que sujeita todos os que estão a ela subordinados. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”...

Tal compreensão não gera um desenvolvimento nos indivíduos, nem em quem manda, muitos menos em quem segue as normas. Na relação de mando, há somente uma visão da realidade, a do superior, que como homem, é também limitado. Quando há o silenciamento do outro, parte importante do contexto é desconsiderado, já que ele também tem uma visão de mundo, algo que pode ser trazido de novo para a interação.

O filósofo alemão Jürgen Habermas (1929-), propõe uma ação que seja fundada no diálogo. Todos os indivíduos que estão em uma relação têm o direito e até o dever de emitir sua opinião. Só com um processo livre e democrático de intercâmbio entre os homens, torna-se possível desenvolver ações éticas mais substanciais. A autoridade deve ser aquela que coordena todo o organismo social, que mantém o equilíbrio na troca de habilidades e dons.

Na parábola do filho pródigo (cf. Lc 11, 32), o jovem que volta para o pai, depois de ter se afastado dele, acha-se indigno de se aproximar do seu genitor. Ele acha-se na posição de escravo, de menor do que os que estão ao redor de seu pai, por ter pecado contra ele. Muitas vezes nos sentimos inferiores por não possuirmos certas capacidades e passamos a absolutizar o outro como um superior inquestionável. Criamos, assim, novos ídolos.

Ao acolher e comer com os pecadores (cf. Lc 15, 2), Cristo mostra que a compreensão que Deus tem em relação a nós, não é a mesma que temos de nós mesmos. Ao receber quem pretende voltar para os braços do Pai por meio do sincero arrependimento, ele demonstra uma justa misericórdia que Deus tem pelos seus filhos. Quando pecamos, e se queremos estar perto Dele novamente, não passamos a ser escravos de Deus. Continuamos Seus filhos, agora regenerados por Seu amor.

É nesse sentido que o pai festejou com a volta do filho pródigo, ele não queria um empregado, mas apenas o filho de volta em seus braços. Por que come conosco, Deus sabe de que barro somos feitos, sabe que temos limitações, por isso está sempre à porta, esperando o nosso arrependimento.

Deus não quer escravos, pessoas que estejam irrefletidamente aos seus pés, presos a Ele. Porém, quer filhos que voltam para os seus braços depois de um longo tempo de separação. Ele não muda a relação conosco depois de pecarmos, mas nos dá um abraço paternal quando diz: “Vá e não peques mais”.

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